(PQ-UC) Garcia d'Orta, Amato Lusitano e a Química Medicinal

Sobre as portas do edifício da Faculdade de Medicina podem ver-se estátuas evocativas de figuras que contribuiram para a evolução da Medicina em Portugal. As estátuas não têm grande interesse artístico, além de que, pelas suas posições, não são facilmente percebidas. Mas têm o mérito de chamar a atenção para Garcia d'Orta (na porta Oeste) e Amato Lusitano (na porta Este), médicos e filósofos naturais (disciplina que incluía a ciência que chamamos hoje Química) de origem portuguesa que tiveram um papel relevante para o desenvolvimento da ciência da sua época, além de terem alcançado um notável reconhecimento internacional. Infelizmente, também dentro do espírito da época, ambos foram perseguidos em Portugal...

João Rodrigues (Castelo Branco, 1511-1568) conhecido por Amato Lusitano e Garcia d'Orta (Castelo de Vide, ca 1500-Goa, 1568) apresentam nas suas obras uma atitude rigorosamente científica tanto no que concerne à medicina como à descrição dos simples (nome pelo qual eram conhecidos os ingredientes dos medicamentos). E, se os escritos de Amato Lusitano focaram sobretudo os aspectos médicos, Garcia d'Orta é autor do famoso Colóquio dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, publicado em Goa em 1563.

Este livro de Orta, escrito sob a forma de um diálogo, revela um notável espírito científico baseado no método experimental [1]. Por exemplo, a propósito dos óleos essencias extraídos dos linaloés, Orta refere com grande perspicácia que estas substâncias podem ser encontradas na planta viva, não sendo devidas ao apodrecimento como muitos comentadores, mesmo posteriores, consideraram. Explicando que a ausência aparente do cheiro quando se cortava um ramo fresco seria devido à presença da casca grossa e ao facto de estas substâncias se encontrarem no lenho. Segundo Andrade Gouveia [1], o poder de observação de Orta fornece uma opinião muito válida e concordante com os conhecimentos actuais sobre os processos bioquímicos que têm lugar nas plantas.

[1] A. J. Andrade de Gouveia, Garcia d'Orta e Amato Lusitano na Ciência do seu Tempo, ICALP- Colecção Biblioteca Breve - Volume 102, 1985 (PDF disponível no Instituto Camões)

[versão de 9 de Março de 2010]

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