(PQ-CC) Química numa noite de São João

Noite de São João no Exploratório Infante D. Henrique em Coimbra. Como não podia deixar de ser, as sardinhas assadas, o manjerico e o alho porro têm alguma química para nos contar...

As sardinhas, além de serem muito saborosas quando assadas, são ricas em ácidos gordos ómega-3 como o ácido eicosapentanóico e o ácido docosahexaenóico (estrutura química está representada aqui ao lado).

As ervas aromáticas são um dos emblemas das festas dos santos populares, em especial o manjerico. Os seus cheiros característicos são devidos a misturas complexas de óleos essenciais. No caso do manjericão a principal contribuição vem do linalol, mas é a mistura com os componentes minoritários que lhe dá o cheiro tão característico.

O alho porro, agora mais conhecido por alho francês, é da mesma família da cebola e do alho e, tal como estes contém saponinas (denominadas assim porque as suas soluções aquosas agitadas produzem espuma como o sabão) que são espécies químicas muito estudadas com objectivos medicinais. Felizmente não havia os irritantes martelos nem ninguém se lembrou de bater com alhos porros em ninguém. Mas havia uma fogueira de São João (não os detenhamos na sua química, por agora) e pudemos ver a cruzar o céu um balão de São João...

[versão de 24 de Junho de 2010; última alteração de 18 de Julho de 2010]

(PQ-CC) À procura da antiga fábrica de curtumes de Coimbra e da Casa do Sal


A entrada de Coimbra pelo lado norte faz-se por uma zona denominada Casa do Sal. Deveria ser por aqui que ficaria um armazém onde seria vendido esse preciso ingrediente o sal que se associa ao cloreto de sódio, NaCl, mas que contém pequenas quantidades de outros sais como o cloreto de potássio, KCl e iodetos destes dois metais, entre outros.

É também por aqui que se situava a Fábrica de Curtumes de Coimbra, fundada em 1915 e que encerrou nos anos 90 do século XX. O edifício desta fábrica é, apesar de apresentar alguma degradação, muito interessante (veja-se a fotografia antiga recolhida na internet, da qual que consegui verificar a data e proveniência). Na industria de curtumes podemos encontrar o melhor e o pior da química. Começando pelo pior, temos a utilização pouco cuidadosa de produtos químicos poluentes e a emissão de maus cheiros. No lado melhor temos a procura de solução para esse problemas através do desenvolvimento de novos produtos e materiais tratamento de efluentes e emissões poluentes.


Referências
J. M. Amado Mendes Subsídios para a Arqueologia Industrial de Coimbra, MNMC, Coimbra, 1983.
J. M. Amado Mendes A área económica de Coimbra, CCRC, Coimbra, 1984.

[versão preliminar de Junho de 2010]

(PQ-CC) À procura da antiga fábrica do gás

No final da rua da Sofia e início da rua da Figueira da Foz (denominada assim a partir de 1903) acompanhando a actual rua João Machado situou-se de Outubro de 1856 até aos anos 20 do século XX a fábrica do gás. Era nesta fábrica que era produzido o gás para iluminação pública e privada da cidade que saía dali em tubos de ferro para os candeeiros de cobre da cidade. O gasómetro (tanque do gás) situava-se na rua João Machado que foi por essa altura denominada Rua do Gasómetro. Na fotografia ao lado (obtida da internet, sendo a digitalização de um postal antigo) pode ver-se essa zona (note-se a igreja de Santa Justa) com uma chaminé que deveria ser a da fábrica do gás. O gás era produzido pelo aquecimento a cerca de 1000oC do carvão numa retorta fechada o que dava origem a um gás combustível, mistura de metano e monóxido de carbono, que por vezes seria designado como gás carbónico nome que hoje usamos para o dióxido de carbono.

São muito interessantes as poucas marcas culturais que das fábricas do gás permaneceram até aos dias de hoje. Em Lisboa ainda hoje podem ser encontrados vestígios destas instalações e nos Maias de Eça de Queirós há um número significativo de referências à fábrica do gás e à utilização deste em iluminação. No final do século XIX quase todas as cidades tinham um fábrica do gás para iluminação.

Referências
J. M. Amado Mendes A área económica de Coimbra, CCRC, Coimbra, 1984.

[versão preliminar de Junho de 2010]

(PQ-CC) À procura da antiga fábrica do sabão junto à Feitoria dos Linhos

Em Santa Clara existiu, até aos anos 90 do século XX, uma fábrica de sabão que funcionou mais de cem anos. Situava-se na Rua da Feitoria dos Linhos do lado norte do Portugal dos Pequenitos ocupando o quarteirão onde agora se ergue uma urbanização com apartamentos e lojas (vê-se na foto atrás da casa da Feitoria dos Linhos).

A produção de sabão é desde há muito tempo realizada pela reacção de bases com gorduras, sendo esse tipo de reacções denominada saponificação

gorduras + base → sabão + glicerina + água

Conforme o tipo de gorduras usado (de origem animal ou vegetal) e as bases utilizadas (hidróxido de sódio, NaOH, conhecido como soda cáustica ou hidróxido de potássio, KOH, entre outras) se produzem diferentes qualidades de sabão. Por vezes uma parte da glicerina é deixada no sabão e há adição de perfumes além de outros corantes e componentes. Para esse produto de limpeza temos uma palavra que parece ser única na Europa: sabonete. Um artesão local referiu-me que quando a fábrica ainda estava a funcionar alguns funcionários lhe traziam sobonetes e que ainda podemos encontrados antigos funcionários da fábrica nos cafés locais; um testemunho oral da história industrial de Coimbra a registar.

A Feitoria dos Linhos tem também uma história interessante. O seu nome completo era Feitoria dos Linhos Cânhamos. O cânhamo, conhecido também como linho cânhamo, era a matéria prima que recebia, a qual era usada na industria da cordoaria até que esta actividade entrou em declínio.

Para quem não sabe, o cânhamo é a planta a partir da qual é feito o famigerado haxixe, a cannabis, que seria cultivado na região sem, ao que se saiba, problemas de maior. Para além de provavelmente as variedades de plantas cultivadas poderem ser pouco ricas em tetrahidrocanabinol (o composto estupefaciente da cannabis), o uso desta planta como estupefaciente não seria conhecido ou mesmo, sendo conhecido, não seria culturalmente aceitável.

Referências sobre história da indústria em Coimbra
J. M. Amado Mendes Subsídios para a Arqueologia Industrial de Coimbra, MNMC, Coimbra, 1983.
J. M. Amado Mendes A área económica de Coimbra, CCRC, Coimbra, 1984.

[versão preliminar de 23 de Junho de 2010, com correcções de 25 de Junho]