(PQ-PN) Química nos Jardins de Garcia d' Orta (I)

Como já escrevi a propósito do percurso químico na Universidade de Coimbra onde temos um curso de Química Medicinal, Garcia d'Orta foi um pioneiro ilustre português daquilo que hoje chamamos Química Medicinal, a qual foi a forma como a química se autonomizou da alquimia, dando origem às modernas (agora clássicas mas nunca antiquadas) licenciaturas em Química.

Em todos os jardins do Parque das Nações podemos encontrar química, em especial nos vários talhões do Jardim de Garcia d'Orta (Macaronésia, África, Coloane (China), Goa e S. Tomé e Brasil). Estes talhões evocam regiões por onde os portugueses andaram (e ainda andam), assim como as plantas que lá encontraram. E claro, associadas a quase todas as plantas há pequenas ou grandes histórias químicas. Com base nos óptimos textos do site do Parque das Nações irei referir algumas destas histórias.

Talhão da Macaronésia (imagem ParquedasNacoes.pt)
Começando pelo talhão da Macaronésia e pela flora dos Açores e Madeira, há três plantas cuja química marca profundamente a história da humanidade: a planta do chá, a cana-do-açúcar e o tabaco, qualquer uma delas com muitas histórias químicas para contar. O chá com os seus alcalóides (em especial a cafeína), taninos e antioxidantes. A sacarose que é um dos materiais mais puros que podemos encontrar no dia a dia e que permite fazer doces divinos (como os pastéis de Tentúgal), mas foi o inferno de muitos seres humanos vítimas da escravatura. O tabaco e toda a química do vício, o papel da nicotina e dos compostos envolvidos no fumo. A partir da referência à nicotina e da sua acção, podemos chegar à discussão moderna dos pesticidas neonicotinóides e muitos outros aspectos da importância da química na vida actual.

 Com a ilha de Santiago (Cabo Verde) surge o dragoeiro, o indigo e o aloé vera. Cada uma destas plantas também com muitas histórias curiosas. Sobre o dragoeiro e sobre o aloé vera já escrevi anteriormente a propósito do percurso químico da Universidade de Coimbra.

O indigo, pigmento usado nas calças de ganga, tem também um papel de relevo. O seu cultivo deixou de ter importância económica devido ao desenvolvimento de métodos de síntese do pigmento (que tem o mesmo nome da planta) mais eficientes que a sua obtenção a partir da planta. Mas não se lamente logo essa perda, calcule-se antes qual seria quantidade de plantas necessárias para obter todo o volume de pigmento usado (e desperdiçado) hoje em dia em calças de ganga!

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