Texto com passeios químicos que surgiu no Diário de Coimbra de 3 de Maio de 2011.
“A História Química de uma Vela” de Michael Faraday (1791-1867), publicada há 150 anos, tem inspirado, ao longo dos anos, milhares de jovens e adultos e é, ainda hoje, uma referência pedagógica notável. Recentemente, a Imprensa da Universidade de Coimbra e a Sociedade Portuguesa de Química fizeram uma edição portuguesa desta obra (tradução de Isabel Prata e Sérgio Rodrigues; prefácio de Sebastião Formosinho) inserida nas comemorações do Ano Internacional da Química. Para o passeio de hoje convido a recordar Faraday e reviver as lições desta obra no Laboratório Chimico pois uma parte das demonstrações vai ser recriada no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (3 e 24 de Maio e 7 de Junho pelas 15 horas, com entrada livre).
Filho de um ferreiro, Michael Faraday começou a a trabalhar como aprendiz de encadernador aos 14 anos. Nessa altura, o estatuto de aprendiz prolongava-se até aos 21 anos e, durante todo esse tempo, o jovem Michael pôde ler muitos livros a que, de outra forma, não teria acesso. Paralelamente, tinha um pequeno laboratório no qual fazia experiências fora das horas de trabalho. Na altura, as palestras de Humphry Davy (1778-1828), na Royal Institution da Grã-Bretanha, eram um evento muito procurado. Na sequência de ter assistido a conferências de Davy com bilhetes oferecidos, das quais registou notas que fez chegar a este cientista, Faraday foi admitido como seu assistente na Royal Institution, tendo, posteriormente, chegado a professor e director da instituição.
Faraday considerava-se um filósofo natural. Para ele todas as coisas, em particular a natureza, estavam relacionadas. E, embora tenha realizado trabalhos que hoje separamos em química ou física, para Faraday estes faziam parte do mesmo todo. Esta atitude é bem visível na forma como ligou a electricidade e a química através da electroquímica e no ênfase que dá à relação entre a combustão de uma vela e a respiração.
Há algo de Faraday em muitas coisas que nos rodeiam. As suas representações dos campos estão na base de boa parte da física moderna. Faraday está presente nos objectos que envolvem radiação electromagnética, como telemóveis, rádios e televisão, ou ainda nos motores eléctricos. Nas Lições de Philosophia Chimica de Joaquim Simões de Carvalho, publicadas em Coimbra em 1859, Faraday é referido a propósito da liquefacção dos gases. Faraday foi pioneiro dos gases liquefeitos, na descoberta de hidrocarbonetos aromáticos e na química dos colóides. De grande importância são também os trabalhos que deram origem aos revestimentos anti-corrosão e à deposição electrolítica.
Para além de excelente cientista e notável orador, Faraday tinha preocupações sociais e éticas; veja-se o final da “A História Química de uma Vela”: (...) queria expressar o meu desejo de que vocês, na vossa geração, possam ser comparáveis a uma vela; que possam como ela brilhar e iluminar aqueles que se encontram à vossa volta; e que todas as vossas acções possuam a beleza do pavio, tornando as vossas realizações honrosas e eficazes no cumprimento do dever para com os nossos companheiros.
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