Passeio químico em Milão

[Aproveitando que estive em Milão no fim de semana de 10 de março, fiz algumas fotografias e realizei alguns reflexões para este passeio químico]  

Milão é conhecido como a capital da moda e, de facto, inúmeras montras e espaços são muito inovadores. Foram incontáveis os momentos em que fomos vendo e discutindo as soluções estéticas e técnicas das montras. Houve uma marca em particular que nos entusiasmou pela beleza do resultado. Usavam grandes quantidades de algodão nas cabeças dos manequins para estas parecerem nuvens. 

Noutra montra, espantou-nos o inesperado de "esculpir" pães como pantufas. Outra ainda ao colocar brilhantes em bananas. E muitas vezes procuravam efeitos provocadores, como um oculista que tinha na montra armações para supostos tipos humanos: intelectual, homossexual, etc. Tudo isto pode ser interessante, mas a parte técnica que está por detrás, em particular a Química, também é. Desde logo as montras podem ser atualmente de vidros enormes por hoje em dia ser possível fazer vidros planos muito grandes sem defeitos e muito mais seguros. 

Como já referi em várias ocasiões, ao solidificar o vidro em estanho líquido podemos obter superfícies muito planas de grande dimensão. Mas isso não chega: esse vidro é perigoso pois pode quebrar e fazer gumes enormes que em várias circunstâncias causaram vítimas. Aquecendo e arrefecendo o vidro de forma especial podemos obter vidro temperado que aos estar em tensão vai estilhaçar em pedaços pequenos com o impacto. Podemos “ver” esses vidros com as lentes dos óculos polarizadas, ou mesmo em determinadas condições luminosas. Nessas condições, o vidro apresenta-se como uma espécie de malha mais ou mesmos regular. Mas isso também não chega. Mesmo os estilhaços podem causar danos. O vidro pode ainda ser laminado ou duplo, ou todas as coisas ao mesmo tempo. No caso do vidro laminado, basicamente as superfícies de dois ou mais vidros são unidas por um polímero (noutro texto expliquei que polímero poderia ser). Isso faz com que se o vidro quebrar não se separe, ficando colado ao polímero. Os vidros podem ainda ter camadas do outros polímeros, ou terem rugosidade microscópicas, para se evitar os reflexos. Todas estas soluções encontram uso nos carros, nos vidros dos museus e em nossas casas.

Mas não são os apenas os vidros das montras que nos podem espantar. A forma como são realizadas as obras também. Na montra de uma marca bem conhecida, as bases onde assentava o calçado era de espuma de poliuretano (PU). A mesma espuma que é usada na construção para fazer "uniões sem pregos". Se usaram os tubos comercializados com esse polímero para fazer essas bases, usaram bastantes! E o que é o PU? É um polímero muito versátil em que os monómeros estão unidos por ligações uretano (sem usar mais termos técnicos, a ligação é feita por grupos -NHCOO-). Estes polímeros são extremamente versáteis, podendo ser usados nestas espumas, nas espumas dos colchões e em materias que “imitam” couro (na verdade são muito mais versáteis do que simplesmente "imitar"), entre muitas outras aplicações. É importante fazer duas considerações sobre estes últimos usos. Se as espumas do colchões tiverem poros muito pequenos, o ar tem dificuldade em entrar e sair, criando um efeito de “memória da forma” que é muito publicitado. E no caso dos polímeros que “imitam” couro há a considerar a sustentabilidade e a proteção da vida dos animais que este uso permite. 

Ainda nessa montra, podemos ver ao fundo roupas de ganga tingidas com índigo. Também já referi várias vezes que se trata de uma molécula natural muito estável, mas pouco solúvel. Para a usar no tingimento tem de passar para uma forma reduzida que tem mais dois átomos de hidrogénio, conhecida como leucoindigo que é verde-amarelado. Nestes processos é usada muita água e um tema de investigação e desenvolvimento é diminuir essa quantidade, assim como o desperdício do corante. A sua produção tem também aspetos químicos interessantes. 

O índigo natural é produzido por várias plantas além do índigo – em Portugal pelo pastel dos tintureiros. Mas a produção natural pode não ser a mais sustentável. Sendo que a planta produz uma pequena quantidade (cerca de 0.3%) do corante, precisaríamos de muito área arável com a planta para produzir as 50 a 60 toneladas usadas anualmente em todo o mundo. Uma estimativa grosseira aponta para toda a área arável de um país como Portugal. Estão a ver o resultado? Se todo o índigo fosse de origem natural, poderíamos ficar sem espaços para outras culturas. Isso aconteceu realmente com as plantações nas colonias americanas. E podemos imaginar a quantidade de água e pesticidas que seriam usados, etc. Em contrapartida, esta molécula pode ser produzida de forma muito mais sustentável por síntese em fábricas. Infelizmente, o uso excessivo, a moda, em particular o “fast-fashion”, anulam uma boa parte destes ganhos de sustentabilidade, mas voltaremos a este assunto.       

 Várias outras montras que vimos usavam polímeros. Aliás essa era a norma, pois os polímeros além de serem facilmente obtidos e do baixo custo, permitem uma gama muito grande de utilizações. A montra de uma outra marca bem conhecida apresentava muitas cores, com objetos de grandes dimensões e revestimentos de, claro, polímeros (ou se quiserem usar o termo comum para alguns tipos de polímeros “plásticos”). E isso não é afinal mau como veremos e, sobretudo, deve ser compreendido.

Outra montra que nos chamou a atenção, foi a de uma marca cujo negócio era fazer sapatos de tenis recondicionados (essa valorização é conhecida no mundo da moda por upcycling). Na montra podíamos ver as máquinas de lavar, onde estes eram lavados, as máquinas de costura, onde estes eram reparados e onde lhes acrescentavam materiais e uma grande quantidade de tenis pendurados e, claro, os resultados. A ideia é interessante, e uma boa parte da modo é já assim: reutilização e reciclagem de objetos antigos. Mas o “fast-fashion” incentivado por os custos de produção e venda serem mais baixos, pode anular esses ganhos, como já referi. Os sapatos de tenis dessa marca, mesmo recondicionados, eram bastante caros. Uma das formas de minimizar o “fast-fashion” é aumentar os preços. Há várias marcas que fazem isso, e inclusive publicitam-no. E fazem-no porque essa estratégia comercial os favorece. Isto é extremamente complexo, mas os incentivos positivos e as tensões que se estabelecem, podem ajudar a que as coisas melhorem (talvez). Em todo o caso, dificilmente sairemos deste sistema que se vai metamorfoseando, renovando e absorvendo as inovações, muitas vezes de forma paradoxal.

Vou achar a atenção para duas coisas que vimos em Milão e que ilustram de forma clara o que referi no parágrafo anterior. A primeira é a estátua enorme com um manguito em frente a bolsa de valores, feita de mármore. Instalada de forma efémera, foi decidido mantê-la de forma permanente. Que imagem melhor para as contradições intrínsecas e às quais não podemos escapar do capitalismo? Outra é a nova tradição de oferecer às mulheres ramos de flores de acácia. Nós chegámos no Dia da Mulher e havia imensos vendedores com ramos dessas flores para venda. E num supermercado vimos que o preço poderia ser de dez euros! Como?
Depois de alguma investigação, cheguei a uma mulher política italiana que terá dito para oferecerem flores de acácia, que eram de graça, em vez de rosas. Podemos ver que logo o capitalismo se adaptou para obter dinheiro com algo que poderia ser de graça. São incontáveis os exemplos desse tipo. Se é possível ganhar dinheiro com algo, ou gastar menos dinheiro, logo alguém descobre uma forma engenhosa de o fazer.  Mas pode não ser a primeira nem a única pessoa que tenta. Muitos acabam por não conseguir, ou ganhando no princípio, a longo prazo perdem. Mas podemos acabar com esse sistema? A história tem-nos mostrado que as revoluções utópicas que pretendem  terminar com este estado de coisas acabam por ser absorvidas e, se forem mais violentas e impostas, não funcionam de todo a longo prazo, embora possam mostrar que existem novos caminhos, ou caminhos que não devemos seguir. Mas a verdade é que das várias convulsões e tensões que têm existido surgiram muitas melhorias.            

Tinham-nos dito que Milão se via num dia. Nunca acreditamos nisso, mas a verdade é que as coisas mais antigas e “turísticas” estão bastante perto umas das outras e, se se fizer um percurso puramente turistico, rapidamente se vê tudo o que os turistas procuram. Ora, Milão é muito mais do que isso. Para começar é uma cidade enorme. Tem mais de um milhão de habitantes no centro e estima-se a população à sua volta em mais de quatro milhões na zona. O seu comércio, serviços, indústrias e população geram riqueza para que a cidade seja considerada uma das maiores da Europa. Por isso a recolha de lixo, o abastecimento de água, o uso de eletricidade e a organização do tráfego e segurança das ruas são só por si enormes empreendimentos de engenharia.

 Há uma cidade que vive para além do turismo e das feiras de moda e arte. E há, na minha opinião, uma cidade que só se conhece indo ao local. Por exemplo, nós ficamos na “China Town”, de que nunca tínhamos ouvido falar, e que corresponde à ideia que temos dessas cidades, mas que à noite se enche de jovens para comer noodles e beber cerveja relativamente barata. Eu nunca teria imaginado se não tivesse estado lá. Depois a zona dos canais de Navigli, que também não conhecíamos dos guias, é muito interessante. Obviamente, as cidades florescentes surgiram onde havia muita água disponível, mas aqui foi mais do que isso. 

Os canais serviam também para transporte como foi feiro em muitas das grandes cidades. Eu que tinha ido a Milão a reler o livro de Alessando Manzoni, “Os noivos”, passado no Milão do século XVIII, ocupada pelos castelhanos, meditei em tudo isto, enquanto andava por ali a ver os livros usados. Este livro é o equivalente dos “Maias” de Eça de Queirós que todos os alunos leem na escola, e que é na minha opinião, um contraponto, do “Crime do Padre Amaro” onde todos os padres são bons exceto um, que não sendo propriamente mau, revela-se um covarde. É engraçado, mas não tanto como o crime do padre Amaro, nem como os Maias. Mas julgo que é um marco da unificação da língua italiana. Que é que isto tem a ver com Química? Na verdade, é bastante pouco, mas o suficiente para perceber que o mundo nao se desenvolvia sem química.      

Claro que vimos a catedral, as Galerias Vitorio Emanuele II, o Teatro La Scala e as famosas pinacotecas de Brera e Ambrosina, em particular tivemos muito tempo nesta última. Vimos a famosa biblioteca e uma exposição de desenhos de Leonardo da Vinci. Não fomos ver a sua última ceia de Leonardo que está a levantar problemas de conservação, mas fomos ao mosteiro de São Maurício que tem todas as paredes pintadas. Estivemos no Castelo de Sforza, vimos o Arco da Paz, fomos à Porta Nuova e aos triângulo da moda. Não fomos ver o estádio de San Siro, onde jogam duas equipas de futebol (o Inter e o A.C Milan). Quis o acaso que em Navigli estivesse uma quantidade enorme de adeptos de uma equipa checa que tinha jogado com uma das outras duas (não sei qual) e estavam a beber cerveja e entoar cânticos que pareciam ser em português, mas obviamente não eram. 

Na Pinacoteca Ambrosiana, vimos vários quadros de Ticiano e outros autores bem conhecidos. Uma pintura de Maria Madalena, lembrou-me que tinha lido um artigo sobre a identificação de hipotiroidismo num desses quadros numa modelo. O quadro que estava lá não parecia ter todas as características indicadas para o diagnóstico de hipotiroidismo como a cópia da Galleria Pamphilj em Roma, mas em qualquer dos casos, o pescoço parece ser compatível com a presença de bócio. Na altura, não havia qualquer ideia, obviamente, de que se tratava uma doença devida à falta de Iodo, que poderia ser provocada por deficiente produção de hormonas da toroide, ou por uma alimentação inadequada.      

Nesta pinacoteca, havia várias coisas que poderíamos considerar bizarras. Umas luvas que terão sido de Napoleão Bonaparte, estátuas colocadas em locais escuros, uma capa oferecida supostamente por indígenas há muito tempo, com penas de aves, objetos com escamas de peixe e corais que pareciam mal conservados. Mas o que me chamou mais a atenção foram uns caracóis de cabelo muito louros numa caixa atribuídos a Lucrezia Borgia. Eu achei muito estranho que fossem da famosa Lucrezia Borgia, mas podia comparar isso com umas madeixas de cabelo que estão no Museu Romântico no Porto de cabelos atribuídos a Inês de Castro. Acontece que estes cabelos foram descobertos numa carta que esta trocou no século XVI com o seu amante Pietro Bembo, entre 1502 e 1506, quando casou com o Duque de Ferrara, li num guia. 

Ao passarmos no grande jardim central, depois do Arco da Paz (este tinha sido vandalizado com tinta laranja, em novembro de 2023, por ativistas do clima e ainda lá estavam os efeitos), fomos um pouco por acaso ao espaço da Triennale onde havia um grande exposição de obras de Ron Mueck, além da exposição permanente sobre o design italiano. Para quem não sabe, Ron Mueck é um dos expoentes da arte hiper-realista, mas o que torna as suas obras únicas e facilmente identificáveis são as dimensões inusitadas. Estava lá a conhecida escultura da mulher na cama (In Bed, 2005) cuja cama tem seis metros e meio de comprimento por quase quatro metros de largura, assim com a mulher com um feixe de paus (Woman with Sticks, 2009), mas era surpreendente o "depósito" de caveiras gigantes (Mass, 2016-2017) e várias outras obras.
Obviamente tudo isto envolve muito trabalho, polímeros, vernizes e fibras, assim como novos métodos de fabricação. Em particular em Mass são cem caveiras gigantes com cerca de 40 a 45 quilogramas cada uma, feitas de fibra de vidro e resinas, acabadas à mão pelo artista. No caso de In Bed são usados vários materiais. Do que li, além do algodão dos lençóis e fronhas, a personagem humana envolve uma armação de ferro coberta com gesso e pasta de modelar coberta com polímero de silicone. Uma das obras ainda não estava ainda acabada (This little piggy), e e apresentada como uma maquete.

Na exposição permanente do design estavam muitos ícones do século XX. Chamou-me a atenção o primeiro computador pessoal de Olivetti e muitos objetos que usavam o novo material que eram os plásticos, ou de forma geral os polímeros. Ao olhar para tudo aquilo não podemos ver o plástico como um “sucedâneo” como é referido num famoso texto de Roland Barthes, mas como um coisa nova, nobre e única. 

Os plásticos não imitam apenas. Vieram acrescentar aos cinco materiais tradicionais que acompanham a humanidade desde tempos imemoriais (os metais, a pedra, os animais, nomeadamente o couro, os vegetais, de que são exemplo os tecidos e a cortiça, e os cerâmicos), um conjunto muito grande de outras possibilidades. O primeiro computador não militar desenvolvido e vendido por Olivetti a partir de 1959 é o ELEA. Tanto a Química como as outras ciências começaram a usar computadores mal estes ficaram disponíveis. 

Mais à frente na exposição podem ver-se propostas para instrumentos laboratoriais de Química. E achei muito interessante ter propostas relativas ao desenho de formar de purificar água com a radiação solar, assim como a "anatomia" de uma torneira. Estas duas entradas são na minha opinião muito interessantes pois permitem ver para dentro desta. Olhando com atenção vemos a combinação de materiais: o cromado exterior e o latão ou cobre interior. O cromado, como o nome indica, envolve a deposição de uma canada de cromo na superfície, e o latão é uma liga de cobre e zinco. Já devem ter visto torneiras antigas com camadas verdes que começam a aparecer. Isso é devido à oxidação do cobre. Do que li, as camadas de cromo decorativo variam de espessura entre cerca de 0,1 e 0,2 micrómetros. 

É preciso ser um geólogo experimentado e que conheça bem o local para conseguir identificar com alguma segurança as rochas usadas na construção e estatuária. Mas como eu costumo dizer também:  é preciso olhar com atenção. A mim chamou-me a atenção a utilização em Milão de rochas que tinham muitas conchas, o que me parecia estranho dado que não há mar perto e geralmente as rochas usadas na construção não vêm de muito longe. 

Depois de alguma pesquisa pareceram-me ser calcários detríticos do Vale de Ceresio, a cerca de 70 quilómetros de Milão. Olhando com mais atenção para a fotografia, há um conjunto de rochas diferentes que não consigo “ler”. Algumas parecem ser granito, outras calcárias, mas não me atrevo a propor hipóteses. O que é certo é que as rochas usadas na construção não poderiam vir de muito longe. Do que li têm sido usados, além dos calcários detríticos de Ceresio,  granitos, mármore e gneiss do vale de Ossola, que fica a cerca de 40 quilómetros, dolomias do Lago Maggiore, que fica a cerca de 100 quilómetros, arenitos de Brianza, que fica a cerca de 40 quilómetros, conglomerados e arenitos da bacia do Rio Adda, a cerca de 50 quilómetros, e pedra calcária negra e mármore do Lago Como, também a cerca de 50 quilómetros. 

O Museu da Ciência de Milão é enorme. Além das exposições típicas de um museu deste tipo, tem um submarino, um foguete, aviões, locomotivas, carruagens, barcos e muitas outras coisas. A parte da Física das partículas é muito desenvolvida, com partes de aceleradores e outros objetos. Também o Espaço, com fatos espaciais e réplicas (penso que o sejam) de satélites, além de ter bastantes coisas interativas. Chamou-me a atenção o elevado número de oficinas para crianças em corredores envidraçados. Além de muitas outras, tinha uma grande exposição permanente sobre a indústria metalúrgica e sobre todos os aspetos da produção, reciclagem e uso de alumínio. 

Nunca mais encontrava aquilo que mais procurava: a bancada de Giulio Natta. Este cientista trabalhou em Milão e foi Prémio Nobel em 1963 pela descoberta de nova vias sintéticas para a produção de polímeros, em  particular polipropileno. É preciso notar que este, assim como os cientistas da altura, não descobriram apenas novas formas de fabricação de plásticos. Encontram novas formas de os produzir com baixo custo e menos desperdício de materiais e energia, aumentando a sua potencial sustentabilidade, e controlar as suas propriedades, abrindo acima a porta a fazer reações que tiveram (e ainda têm) impacto no desenvolvimento de fármacos e novos materiais. Ou seja, este Premio Nobel não deve ser valorizado “apenas” pela produção de plásticos, mas pelos muitos desenvolvimentos que proporcionou, em particular em algo que é hoje muito valorizado: a catálise assimétrica.  

Depois de algumas conversas com guias e monitores acabei por descobrir onde estava. Mas estava fechada, numa ala dedicada à indústria química. Na altura pareceu-me uma coincidência, mas, poderia não ser. Entrava em dissonância com outras grandes exposições que o museu também tinha sobre os plásticos nos oceanos, e, como era fim de semana e o museu estava cheio de famílias, talvez não quisessem originar polémica. 

Ora, na minha opinião, não deveremos escamotear estas questões (devendo os museus ser espaços de debate e liberdade), pois o plástico é, e ainda é, uma grande, invenção que permite muito mais sustentabilidade e versatilidade. Sem este material não teríamos telemóveis e computadores e devido a este podemos ter óculos e muitos outros instrumentos mais práticos e sustentáveis. E continua a haver investigação e a aparecerem novas aplicações. Se nos espaços públicos continuarem a insistir nestas ideias maniqueístas, corremos o risco de não salvar o bebé, mas de o deitar fora com a água do banho. Não tenho pena dos fabricantes que hão-se em média sempre encontrar formar de ganhar dinheiro, mas de toda a sociedade que perde acesso a um debate complexo, a um drama denso, cheio de contradições, e não apenas a contos de fadas ou histórias de terror que os infantilizam. Quando visitei o museu, nessa exposição dos plásticos, estava um visita de estudo com deficientes mentais pouco profundos e podia-se ver as caras de raiva destes perante os horrores que eram os plásticos nos mares.   

Formos no último dia ao cemitério monumental de Milão rapidamente. Estava a chover torrencialmente, mas vale a pena dada a qualidade das esculturas e das inovações na arquitetura mortuária. A logo prazo todos morrem, mas podemos aumentar a esperança e qualidade de vida.