Passear ao encontro da química na rua

[Descrevem-se as atividades planeadas para uma oficina de um percurso em diálogo com professores a realizar uma ação de formação e as atividades que foram efetivamente realizadas]

Já várias vezes fiz estes passeios químicos com professores. Mais pormenores podem ser encontrados aqui e aqui.

O percurso começou na entrada do Departamento de Física, no Polo I da Universidade de Coimbra, e fomos para a entrada oeste da Faculdade de Medicina. Referi Pedro Hispano, João XXI, e Garcia de Orta. Já escrevia aqui sobre eles.

Falei dos vidros planos e temperados nos quais podemos “ver” as tensões com óculos de luz polarizada (a fotografia que apresento é de outro sítio de Coimbra, mas o efeito é semelhante). Já tinha referido esta questão noutro outro passeio. E ainda noutro referi materiais simples que podemos usar.

Aqui houve alguma discussão sobre a questão clássica de os “vidros escorrerem”, a qual é falsa mas que da qual muitas vezes os livros de divulgação fazem eco. Os vidros das casas e automóveis são sólidos amorfos meta-estáveis com ordem de curto alcance e portanto maus condutores de calor. Escrevi mais sobre os vidros aqui.

Mostrei pedaços de betão coloridos no interior com o indicador fenolftaleína, mostrando que o cimento é básico. Aqui houve alguma discussão sobre a origem da água, pois trata-se de uma reação em meio aquoso e a solução de fenolftalína é em álcool etílico. O material tem sempre alguma água concluímos, mas eu lembrei-me de como a presença do álcool pode ser problemática por exemplo para analisar o pH do mar.       

Fomos em seguida ver o relevo alusivo à Física e Química na parede da Biblioteca Geral. Reproduzo aqui o texto que escrevi para o Facebook em maio de 2016. Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra há seis baixos relevos de Duarte Angélico, usualmente designados: Biologia, Física, Matemática, Ética, Gramática e Lógica. Já me tinha interrogado por que razão não havia alusões à química nesses baixos relevos, mas hoje, ao olhar com mais atenção vi que havia! Na verdade, o “Física” resulta do empastelamento  destas duas ciências e dever-se-ia designar “Física e Química”.

De facto, do lado esquerdo há uma imagem que remete para a física: um campo de forças (embora também pudesse ser um diagrama de densidades eletrónicas de uma molécula diatómica); e há uma escala de nónio que remete para o rigor da ciência (e também  poderíamos ali ver uma proveta). Entretanto, do lado direito está a representação do modelo de um átomo, algo que tanto remete para a física como para a química. E o microscópio? Enigmático, não é? Atualmente, o microscópio aponta para o imaginário da biologia, mas já foi um instrumento fundamental da química. Era com este que se identificavam os cristais de compostos e foi com um microscópio que Pasteur descobriu a isomeria óptica nos cristais de ácido tartárico. Diz Mary Shelley em Frankenstein “os químicos são sábios modestos, com mãos sujas, que, debruçados nos seus microscópios, penetram nos segredos da Natureza para todos os dias obterem milagres”. Vamos lá a dar o nome correto a este baixo relevo: “Física e Química”! Há quem veja ali a evocação de Newton. Pois a mim o perfil parece-me mais próximo do de Abel Salazar, o que não deixa de ser curioso pelas ligações culturais e políticas (Abel Salazar foi, como é sabido, perseguido pelo estado Novo).

Em seguida vimos a Porta Férrea sobre a qual já escrevi. Entrámos depois para o Pátio das Escolas onde conversámos sobre vários aspetos e realizei algumas demonstrações, em particular a demonstração da “garrafa azul” sobre a qual já falei em mais pormenor noutro passeio com professores e sobre a qual numa nota indiquei a composição.  

Realizei também a demonstração da “cor de uma rosa” vermelha que em meio ácido, ácido clorídrico concentrado, é rosa muito intenso, em solução concentrada de amoníaco ficou azul e em solução de cloreto de alumínio ficou violeta. Discutimos a influência do pH e dos metais presentes no solo para as cores de várias plantas. No caso das hortênsias isso é evidente nos sítios onte estão plantadas, no caso das rosas e outras plantas tem de se fazer a extração das antocianinas.  Falámos também de reciclagem. Escrevi sobre isso com mais por pormenor aqui.  

Em seguida seguimos para o Jardim Botânico onde fomos ver e cheirar as folhas do “eucalipto que cheira a limão." Eu levava comigo frascos com isómeros da molécula que origina esse aroma (o citronelal, um aldeído de fórmula C10H18O): o geraniol (um álcool também C10H18O, principal componente do cheiro a rosas) e eucaliptol (que tem nome de álcool, mas é um éter cíclico, responsável pelo cheiro a eucalipto, também C10H18O). Tinha também um frasco com limoneno (um dos responsáveis pelo cheiro a limão e laranjas, C10H16 – não, não são moléculas isómeras as responsáveis pelos dois cheiros, como por vezes é dito)  

No Jardim Botânico há muitos outros interesses químicos, em particular uns cartazes com moléculas que dão origem a medicamentos. Não tivemos tempo de ir aí, mas já tinha escrito sobre isso e por isso fica aqui no texto. Vou comentar alguns, mas a maior parte dos medicamentos atuais não são sequer inspirados pelo mundo natural. Costumo dizer que as plantas e animais não estão particularmente interessadas na nossa saúde, mas por outro lado as possibilidades são muito grandes. 

Refere-se muitas vezes o medicamento Captopril que teve origem num veneno de uma cobra, mas em vão se poderá procurar a molécula do veneno dessa cobra que deu origem a este medicamento. Todavia, trata-se uma grande ideia que foi inspirada pela natureza, em particular por essa cobra venenosa. De facto, o mecanismo de ação do medicamento, entretanto descoberto, teve a sua origem nesse estudo. Mais clássicos são a aspirina e o taxol (ou paclitaxel que está nos cartazes), mas em ambos os casos a intervenção química continua a ser relevante. No primeiro caso, uma alteração sintética que torna menos agressivo o ácido salicílico (sendo produzido ácido acetilsalicílico), no segundo caso, são implementadas outras formas de obter o composto natural, as quais não fazem perigar a espécie rara de teixo onde este foi descoberto. Este aspeto é relevante, mesmo sendo bio-inspirados ou presentes na natureza, para evitar que as plantas ou animais que estão nas suas origem se extingam podemos usar processos químicos mais sustentáveis. 

Os exemplos presentes nos cartazes são a dedaleira, de onde se extrai a digitalina, a qual tem efeitos cardíacos; a planta do café de onde se extrai a cafeína; o cardo-mariano que é a origem de potentes antioxidantes com efeitos em patologias do fígado; a consolda com alcalóides pirrolizidinicos usados para queimaduras, dores, etc.; o açafrão-do-prado que tem a colchicina, usada para o tratamento da gota; A Cannabis sativa fonte de tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD), usada de várias formas, para doentes terminais, etc.;  o meimendo negro, fonte de escopolamina, usado medicamento Buscopan. Faço aqui uma pausa para referir que a escopolamina é um potente veneno, mas em pequena quantidade é o medicamento referido. Isso acontece com uma boa parte das moléculas bioativas pois aos serem bioativas são venenos em grande quantidade e podem ser medicamentos em pequena quantidade. Continuando a referir as plantas e moléculas presentes dos cartazes:  a papoila-dormideira, a origem da morfina; deladona, origem da atropina; o teixo, fonte de paclitaxel (já referido), que é usado para o tratamento de alguns cancros; e a Galantus nivalis, fonte de galantamina, moléculas usada para o Alzheimer.

Noutros canteiros podemos ver o chícharo, fonte de algumas moléculas que causam rabdomiólise (em casos extremos, causando paralisia dos músculos das pernas; em Espanha a sua farinha – farinha de almortas - esteve proibida), mas o consumo moderado e os processos de demolha afastam uma boa parte desse problema. Noutro canteiro, podemos ver a planta do linho. Há também uma árvore de cuja casca se extrai a canela.  

É interessante o jardim sensorial (também não tivemos tempo de ir aí) o qual envolve plantas que estimulam quase todos os sentidos. Chamo a atenção para os sentidos químicos do olfato e paladar.

No exterior do Jardim Botânico, na Rua Martim de Freitas, podemos no aqueduto apreciar as dolomias, as estalactites e os depósitos de gesso devido aos compostos de enxofre na atmosfera (tinha planeado fazer a sua análise sumária e precipitação com cloreto de bário, mas acabámos por não ter tempo). Do outro lado da rua, temos casas isoladas com alumínio, e construções com zinco e (provavelmente) com finas camadas de cobre em águas furtadas.

Ao longo das paredes e muros podemos observar uma planta de onde se poderia extrair a valeriana. Ao longo de todo o percurso pudemos apreciar as paredes brancas que usam o pigmento dióxido de titânio, os vidros planos e antigos, os ar-condicionados, o ferro e outros metais usados em construção.

Há muitas coisas que se podem ver e sobre as quais se pode refletir. O mais importante, na minha opinião, é essa capacidade de ver e refletir sobre o que nos rodeia. 

Passeio Químico em Espinho


[Fui realizar uma palestra à Escola Manuel Laranjeira sobre a Química e os Objetivos do Desenvolvimento das Nações Unidas e, pelo caminho, consegui passar no  Museu Municipal desta cidade e tirar algumas fotos para um rascunho de um Passeio Químico. O convite foi feito pela professora Ana Maria Tavares que desenvolveu o tema com os estudantes. Entretanto, comunicou-me - eu não sabia! - que 16 de junho, o dia em que disponibilizei o Passeio Químico, era o dia da cidade de Espinho!]

As praias de Espinho são famosas, mas não é delas que irei falar. A cidade é relativamente recente e cresceu a partir da maior procura das férias nas praias, que surgiu durante o Liberalismo em Portugal, com a ideia de que o banho de mar era bom para a saúde. Visitei o Museu Municipal, que foi a antiga fábrica de conservas “Brandão, Gomes” (1) e a Escola cujo patrono é Manuel Laranjeira (1877-1912). Começando por este último, perguntei aos estudantes se sabiam de que este tinha morrido. Suicidou-se com um tiro, mas estava aparentemente deprimido e debilitado por sofrer de várias doenças.  

Alguns estudantes lembraram-se da tuberculose. Sim, também tinha tuberculose, aliás como outro médico escritor, Joaquim Gomes Coelho, que usou o pseudónimo de Júlio Dinis. Durante o seu tempo,  e até aos anos 1950, era uma doença, em geral, incurável. Mas, Manuel Laranjeira tinha também sífilis, que era bastante comum na altura. Esta última doença não era, em geral, mortal, mas podia ser incapacitante e conduzia, muitas vezes, nos seus estágios finais, à loucura. E amiúde, a transmissão da doença não era por via sexual direta, contrariamente à ideia que a sociedade tem de que a doença tem algo a ver com uma vida dissoluta. Podia, por exemplo, ser a ama que a transmitia ao bebé que a transmitia à mãe e esta ao pai. Ou podia transmitir-se, no parto, da mãe para o filho. Felizmente, a doença é muito sensível à ação dos antibióticos. E, assim, com o seu tratamento e com a profilaxia, de que foram pioneiras as instituições militares, quase desapareceu. Mas, antes destes tratamentos, para combater a loucura, chegou a ser usada a malarioterapia (conhecida também por piroterapia) que foi alvo do Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina, de 1927, de Julius Wagner-Jauregg. Nessa altura, os hospitais psiquiátricos tinham mosquiteiros para inocular malária! Porque referi tudo isto? Porque um dos objetivos do desenvolvimento das Nações Unidas é a Saúde (objetivo três) e porque é preciso reconhecer que a Química trouxe muitas melhorias para a saúde pública (Rodrigues, 2022a). 

Para a tuberculose, para a sífilis e doenças mentais temos atualmente tratamentos que não havia no tempo de Manuel Laranjeira, embora ainda existam várias dificuldades. Um outro problema que temos hoje são as diferentes velocidades na evolução da medicina. Nos países desenvolvidos, a tuberculose e a sífilis são residuais, e procura-se desenvolver a medicina personalizada, com moléculas cada vez mais especificas, para doenças complexas, ao mesmo tempo que muitas das doenças são devidas à abundância e ao sedentarismo. Por outro lado, nos países menos desenvolvidos e envolvidos em guerras e catástrofes, são comuns a tuberculose, a SIDA e a malária, as quais são  classificadas como doenças negligenciadas. Para melhorar a saúde tanto de uns como de outros, precisamos, além de novas moléculas e tratamentos, de outros desenvolvimentos (os objetivos do desenvolvimento das Nações Unidas acabam por estar todos ligados). A diminuição da pobreza (objetivo um), fim da fome (objetivo dois), ter água de qualidade e saneamento (objetivo seis), estão claramente relacionados com a melhoria da saúde (objetivo três, como já referi). De facto, melhor qualidade de vida é conseguida primeiro com melhor alimentação, depois com higiene e, só finalmente, com melhores tratamentos para as doenças. E todos os objetivos do desenvolvimento das Nações Unidas estão, direta ou indiretamente, relacionados com a Química, como já referi, (Rodrigues, 2018; 2022b). 

Em particular, a educação de qualidade (objetivo quatro) e a igualdade de género (objetivo cinco), parecem não ter nada que ver, mas têm: maior educação leva ao desenvolvimento e maior autonomia, liberdade e igualdade. Um exemplo que costumo apontar é o do Prémio Nobel da Química de 1965, Robert Woodward, que só foi para a universidade devido a ter uma bolsa. Mais exemplos poderia apontar como o de Frederick Sanger (agraciado com dois prémios Nobel da Química, 1958 e 1980). Um outro exemplo, é de Gertrude Elion, Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina em 1988. Esta começou a sua investigação durante a Segunda Guerra Mundial, quando se tornou mais fácil às mulheres participarem nessas atividades. Hoje em dia, a igualdade de género é mais ou menos assente no mundo, nas até meio da segunda metade do século XX, havia muitos preconceitos em relação às mulheres na investigação e desenvolvimento. O aumento da cultura das populações traz melhorias de qualidade de vida. Infelizmente, Portugal, um país que nunca foi pobre em recursos, não desenvolveu a sua maior riqueza que era o conhecimento e desde há séculos que se apresenta como um país pobre. Mas a sua pobreza continuada tem sido devida à falta de conhecimento. No final do século XIX a percentagem de analfabetismo era de 80% (aproximadamente 70% para os homens e 90% para as mulheres). As desigualdades eram enormes.

As elites que procuraram desenvolver o país, com boas intenções, é certo, mas nunca conseguiram resolver este problema básico, talvez por nunca o terem enfrentrado a sério e por, muitas vezes, aceitarem as ideias de inferioridade dos portugueses de forma acrítica. Radica aqui o aparente paradoxo de um país considerado pobre em termos médios, produzir e ter, por vezes, coisas semelhantes às dos países ricos e cultos. As elites estavam imersas numa cultura semelhante à dos paises ricos, enquanto que o resto do país vivia na pobreza e incultura. Ora as elites nunca perceberam claramente, até quase ao fim do século XX, que essa desigualdade era devida essencialmente à Escola. Com educação de qualidade para todos, diminui-se a pobreza e as desigualdades de género, melhoram-se as condições de trabalho, etc.         

No Museu Municipal há bastante destaque para a pesca usando a arte xávega. Esta forma de pesca, que envolve estender uma rede no mar que é puxada para terra, foi, e continua a ser praticada, em todo o país, mas na região de Espinho e Ovar é especialmente conhecida. Os pescadores são conhecidos como vareiros. Ao procurarem em Lisboa melhores condições de vida causaram muta impressão às elites. As mulheres que vendiam peixe ficaram conhecidas como "varinas." Até meados do século XX, não existiam polímeros sintéticos. Os plásticos (alguns tipos de polímeros sintéticos) vieram substituir as bóias de vidro e de cortiça e tornar as redes de pesca mais resistentes. 

No museu podemos ver que as redes, cordas e bóias, mesmo as antigas, já têm esses desenvolvimentos. Mas nem tudo é bom, claro. A utilização de redes, bóias e cordas de nylon, e outros plásticos, veio contribuir para o lixo marítimo de plástico. Sabemos hoje que é a longevidade e a resistência destes materiais que faz com que estes sejam problemáticos. Em particular, as principais contribuições para o lixo plástico marinho são as redes que “continuam a pescar” depois de perdidas. Mas hoje em dia, sabemos muito mais coisas. O desenvolvimento de plásticos biodegradáveis pode melhorar muito estes aspetos problemáticos. E tenho de referir que a arte xávega contribui relativamente pouco para o lixo marinho (a maior contribuição é da pesca industrial), mas, mesmo assim, é relevante.

As salas do Museu mostram a forma como se vivia nas casas dos pescadores. Uma das coisas que salta à vista é a falta de água canalizada. Mas não são só os pescadores que tinham essa falta. Toda a população se abastecia de água nas fontes e nascentes que por vezes estavam contaminadas e contribuíam para epidemias e para a grande mortalidade infantil e juvenil. A juntar a isto, temos que o saneamento era deficiente e a conservação dos alimentos era feita de forma rudimentar. Como já referi, e vale a pena referir de novo, a água canalizada, o tratamento da água, o saneamento e os métodos de conservação dos alimentos vieram contribuir em muito para a melhoria da saúde pública (Rodrigues, 2022a).    

Umas notas sobre a fábrica de conservas “Brandão, Gomes e Companhia Lda”. Esta fábrica estendia-se quase até ao mar e fazia muitas outras conservas além das de peixe. Já falei sobre este tipo de fábricas em Portimão. Aqui, queria referir uma história que é contada por Morais Gaio (1984), a qual ilustra bem a falta de cultura das populações e a sua vontade de desenvolvimento. Os vareiros viam que um francês e os seus criados tinham sardinhas todo o ano, mas não percebiam como. Até que um vareiro mais “indiscreto” conseguiu perceber que isso tinha a ver com a conservação do peixe em salmoura.
Já expliquei várias vezes como o sal pode conservar os alimentos, mas fá-lo-ei de novo. As bactérias típicas não podem viver em altas concentrações de sal pois a pressão osmótica faz com que a água que está no seu interior saia para equilibrar as concentrações de sais no interior e exterior. Assim, as bactérias morrem por “falta” de água. De uma maneira geral é o que acontece ao se espalhar sal sobre alimentos para os conservar. Voltando à história das sardinhas conservadas em salmoura. Contada num livro sobre a fábrica de conservas, parece ligar-se com as lendas da sua criação, e mostra como a vontade de conhecimento faz avançar as coisas, mas também mostra como a falta de escolas pode retardar o desenvolvimento por não propiciar a abertura de horizontes. Felizmente, tudo isso é passado, mas é importante lembrarmo-nos que as nossas maiores riquezas são a cultura e o conhecimento.

(1) Ver, por exemplo, Morais Gaio (1984). O nome parece estranho e por vezes aparece sem vírgula, mas o nome completo da firma era “Brandão, Gomes & Companhia Lda.”

 Morais Gaio (1984). Fábrica de conservas "Brandão, Gomes" : fragmentos da memória de Espinho. Nascente – Cooperativa de Ação Cultural. 

Rodrigues, Sérgio P. J. (2018). Acerca das contribuições da química para os objectivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Atas do III Congresso Internacional Educação, Ambiente e Desenvolvimento. Instituto Politécnico de Leiria, Leiria.

Rodrigues, Sérgio P. J. (2022a). Química e Saúde Pública: Elementos da História de uma relação fundamental. Revista Multidisciplinar 4(2), 57-74,  https://doi.org/10.23882/rmd.22087

Rodrigues, Sérgio P. J. (2022b). Acerca das Contribuições da Química para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas – Atualização de 2022. Em Meio ambiente: princípios ambientais, preservação e sustentabilidade 3. Atena, pp.1-12.

Passeios Químicos em Braga

[Aproveitando que estava a participar no congresso SciCom2024, que se realizou este ano na Universidade do Minho, e que fui convidado para organizar um passeio químico em Braga, em setembro próximo, no 2º Congresso da Associação Portuguesa de Professores de Física e Química, e já pensando que, em 2025, Braga será a Capital Portuguesa da Cultura, tirei algumas fotografias e realizei as reflexões que se seguem]


Braga tem mais de dois mil anos de história e uma grande quantidade de interesses patrimoniais, culturais e ambientais. Em particular, há uma grande variedade de guias e trabalhos sobre a cidade, dos quais refiro na bibliografia uma parte dos que consultei para este trabalho (Azeredo, 2008; Costa, 2013; Oliveira, 2014; Sousa, 2016). Há também guias de percursos pedonais da Câmara Municipal de Braga que estão online (Bonus, 2017).

Começo este passeio pelos aspetos ambientais, em particular, sobre a água. Para que uma cidade seja viável é necessário que tenha água suficiente disponível. Em Braga há bastante água, no passado essa disponibilidade era mais devido aos sítios altos que rodeiam a cidade do que devido à água que corre nos rios que estão à sua volta. Entretanto, atualmente, a água de consumo humano é captada no Rio Cávado (Agere, 2024), enquanto que as nascentes que rodeiam a cidade, nomeadamente proveniente do Parque das Sete Fontes, continuam a abastecer os fontanários públicos (Lopes, 2022). Mas lá iremos, por agora quero falar da água proveniente das nascentes em sítios elevados. 

Nunca tinha pensado com atenção na razão porque parecia haver mais água nas montanhas. A minha primeira ideia - algo ingénua - seria que haveria água em toda a parte, mas que só os sítios altos seriam úteis para que essa água descesse por gravidade. Ora, uma consulta dos trabalhos que foram feitos e escritos sobre o assunto mostra que essa ideia estava errada. A explicação corrente é de que este líquido transpira das plantas e evapora dos rios e mares, ficando na atmosfera como vapor. Entretanto, a quantidade de água máxima no estado vapor só depende da temperatura. Por outro lado, a densidade menor do ar quente faz com que este suba, indo condensar nas montanhas e sítios altos que se encontram a temperaturas mais baixas. o meu “erro” mostra, em parte, como funciona a ciência. Estudamos o que fizeram os outros investigadores antes de nós e propomos explicações para os acontecimentos que podemos testar. 

Bastantes vezes (quase sempre) muitas pessoas já estudaram os assuntos, fizeram experiências sobre eles e realizaram revisões que mostram que foi atingido um consenso, o qual já está muitas vezes nos livros de texto (como acontece neste caso concreto). Mas, imaginemos, por hipótese, que eu persistia na minha ideia e queria verificá-la. Teria de desenhar uma experiência robusta para a verificar e deveria comparar com as hipóteses alternativas. O normal será que, com essa experiência, eu confirme o consenso e deveria ficar por aqui, mas, imaginemos de novo, que que obtenho que “tenho razão” na minha ideia. Depois de verificar tudo, vou tentar publicar o trabalho. 

É aqui que os revisores são mais importantes. Se houver um que descubra falhas no trabalho, eu deveria, mais uma vez, ficar por ali, mas imaginemos, de novo, que os revisores fazem eco do consenso e não me convencem. Devo ficar por aqui? O bom senso diz-me que sim, mas um bom cientista é persistente e podem acontecer duas coisas: eu efetivamente tenho razão (o que é muito pouco provável), e devo estar preparado para, mesmo fazendo as experiências mais engenhosas, não ter inicialmente adeptos, embora ao longo do tempo acabe por convencer algumas pessoas de que o consenso anterior tinha problemas. Ou então, persisto na minha ideia contra todos (mesmo estando errado). 

O primeiro caso é o dos cientistas de sucesso que mudaram a forma de ver o mundo e que, por vezes, ficam na história da ciência, o segundo é dos cientistas que se concentram nas franjas do conhecimento e podem ficar na história da ciência pela má de razão de insistir num “erro”. Ambos os tipos, se tiverem estudantes que seguem as suas ideias, acabam por criar nichos que se espalham ou que terminam com eles. Tudo isto, relembro, devido uma ideia errada, mas a ciência avança com a liberdade para errar e corrigir os erros. Entretanto, se as minhas experiências reforçarem o consenso, também estão a contribuir para a robustez da ciência. A maior parte das experiências científicas são nesse sentido. Por exemplo, eu poderia reformular o meu trabalho para aplicar o consenso à dinâmica da água numa determinada montanha que ninguém ainda tinha estudado. Provavelmente não teria problemas em publicar o trabalho. Não seria um grande avanço, mas seria um pequeno passo para reforçar a robustez da ciência e o conhecimento. Entretanto, no processo de aplicação do consenso poderiam surgir dúvidas e voltaria ao princípio. Não me parece, pois o consenso é bastante robusto e vou tomá-lo como certo. De facto, o que as pessoas do público em geral veem são os consensos atingidos e por isso a ciência parece paradoxalmente dogmática, mas não é!     

De acordo com o consenso, forma-se água no estado líquido nos sítios altos devido à diminuição de temperatura, que por gravidade desce para os sítios mais baixos. Estes fenómenos são aproveitados com engenho em Braga, sendo, por exemplo, o funicular do Bom Jesus do Monte movido por um sistema e pesos e contrapesos que usam a massa da água. Por outro lado, no Parque das Sete Fontes, a água desce para os fontanários da cidade. Mas se a água do funicular não se destinava a ser bebida, a dos fontanários foi bebida até ao princípio do século XX. 

A água das fontes e nascentes, antes do tratamento com cloro, só conseguia a sua pureza nas filtrações, que eram feitas tanto de forma artificial como natural. Nesses filtros naturais acumulam-se filmes de bactérias que “limpam” a água. Mas esses processos são muito falíveis pois não asseguram a proteção contra bactérias patogénicas ao longo da rede, o que é conseguido pela adição de ião hipoclorito. Mas a Química tem uma intervenção maior, nomeadamente, na análise da composição da água, verificação e correção da sua acidez e turvação, por exemplo. Como referi, a água para consumo humano da cidade de Braga é captada no rio Cávado (Agere, 2024). Não fui à ETA (Estação de Tratamento de Água), mas tenho grande certeza de que a água é rigorosamente vigiada e que os tratamentos e correções realizados são no sentido de acelerar os processos naturais de purificação e de reforço da proteção contra contaminações ao longo da rede.  

O abastecimento de água a Braga sofria de escassez crónica desde o século XIX (Cordeiro, 2018), mais do que isso, de problemas de salubridade, em particular era foco de epidemias de febre tifóide de que é dado conta em 1901, mas também em 1960 (Cordeiro, 2018). Hoje pode parecer absurdo falar-se de febre tifóide, mas esta doença era infelizmente comum devido às fontes não vigiadas. É preciso não esquecer que esta doença matou um rei português, D. Pedro V, em 1861, e alguns dos seus primos, os quais, ao irem caçar em Vila Viçosa, beberam água de uma fonte contaminada ficaram doentes, acabando por morrer (Rodrigues, 2022). Foi tal o tumulto popular, achando que o rei tinha sido envenenado, que no órgão oficial (que está agora online) foi descrita com todos os detalhes a autópsia do príncipe D. João, a qual teve a participação dos melhores Médicos e Químicos portugueses (Rodrigues, 2022).

Li (não me lembro da referência) que um estudo dos anos trinta do século XX estimava que nas Sete Fontes brotariam 500 mil litros de água por dia. Ora isso é muito pouco nos dias de hoje (em que uma pessoa em média usa 200 litros de água). Assim, estimo que a água das Sete Fontes daria para cerca de duas mil e quinhentas pessoas. Entretanto, a ETA do Cávado tem uma produção diária de cerca de trinta e dois mil metros cúbicos de água (Agere, 2024), permitindo abastecer, assim, cerca de 160 mil pessoas. Com cerca de 3600 metros de condutas, tem cerca de 2250 metros de galerias subterrâneas, nascentes ou mães de água e caixas de distribuição, e desde 2011 é Monumento Nacional (Fontes et al., 2021).

Para a preparação do Passeio Químico no Parque das Sete Fontes, além das questões das quantidades e tratamento da água, olhei com mais atenção para as plantas presentes e para a sua química. Entre as várias que encontrei, chamaram-me a atenção o embude, a dedaleira, a celidónia maior e vários sobreiros selvagens. Do embude, uma planta venenosa comum, falarei mais à frente. A dedaleira é também comum e facilmente identificável pelos seus “sinos” púrpura. É a fonte de um glícosídio com efeitos cardíacos que é ainda usado atualmente em medicina, mas não tem, segundo a literatura, aplicações ancestrais. A celidónia maior é uma planta também comum e facilmente identificável pelas suas flores amarelas e caules que, ao serem quebrados, libertam uma seiva amarela. Alguns usos tradicionais são externos como cicatrizante e cáustico. A minha avó chamava-a “erva das verrugas” que é outro dos nomes tradicionais.  

Visitei, um pouco por acaso, a Igreja de Santa Cruz, que tinha sido restaurada há pouco tempo (Ferreira, s.d.). As folhas de ouro estavam resplandecentes nesta igreja. É o que acontece quando são aplicadas folhas de ouro novas, pois, embora o ouro não reaja com o oxigénio e com outros compostos que estejam na atmosfera, ao longo dos anos, com a acumulação de gorduras, pó e outras sujidades, a superfície deste metal vai ficando baça. As folhas de ouro têm uma espessura típica de um milésimo de milímetro e são demasiado frágeis para que a limpeza seja um processo útil. Que eu saiba, são aplicadas novas folhas de ouro no restauro. Note-se que, embora o ouro tenha uma densidade de cerca de 19,4 gramas por mililitro, ou seja um litro de ouro tem de massa 19,4 quilogramas, um metro quadrado coberto com folha de ouro pesaria cerca de 20 gramas e portanto não teria qualquer interesse para hipotéticos “criminosos” roubar folha de ouro que esteja aplicado em igrejas.  

Os monumentos de Braga são quase exclusivamente feitos de granito. Trata-se de uma rocha variável nas cores e composição, mas é mais ou menos assente que é quartzo (o mesmo componente da areia, óxido de silicio, SiO2), feldspato (mais complexo em termos de composição, (Na, K, Ca)(Si, Al)4O8, mas que é também um óxido, neste caso de vários elementos) e mica (vários tipos de minerais da família dos filossilicatos, que são caraterizados por terem em geral camadas de sílica e serem brilhantes; escuros se forem de moscovite, por exemplo, mas rosa, se forem de lepidolite, por exemplo, uma fonte secundária de lítio). 
O grão do granito é muito grande e não podem ser feitas esculturas complexas com este material, mas na fachada da Igreja de Santa Cruz e noutros locais é feito um aproveitamento bastante interessante das limitações e potencialidades deste material. No Santuário do Bom Jesus do Monte, chamou-me a atenção a fonte do pelicano que reproduz a lenda de que esta ave pica o seu próprio coração para alimentar os filhos. Reparei ainda noutras fontes, em particular as que tinham um aviso de que a água era imprópria para consumo. A água pode vir naturalmente de nascentes e mesmo assim ser imprópria para consumo por estar contaminada, sendo em geral estas contaminações de origem biológica, mais do que de origem química. Mas só as análises químicas e bacteriológicas permitem ter a certeza.  

O granito que vi é ligeiramente castanho e esverdeado, talvez também devido à presença de microrganismos. Entretanto, ainda no Santuário do Bom Jesus do Monte, reparei em quatro colunas de granito cinzentas que pareciam diferentes. Inicialmente, pensei ser algum tipo de calcário. No entanto, ao me aproximar reparei que poderiam ser, de facto, de outro tipo de granito, ou poderiam ser desta cor por estarem limpas; não consegui confirmar. Há uma história sobre a dificuldade de transporte destas colunas para o cimo do santuário, mas também não desenvolvi o seu conteúdo. Notei, ainda na Basílica, algumas aplicações de tinta muito branca. São claramente de tintas modernas cujo pigmento é o dióxido de titânio e permite brancos ainda mais brilhantes do que a cal.  

Ainda no Santuário do Bom Jesus do Monte, reparei nos azulejos da Casa das Estampas, nos azulejos coloridos de um edifício do lado direito, nas grutas fingidas ao gosto romântico, nos lagos artificiais, onde se pode andar de barcos a remos, no terreiro dos evangelistas e nos sobreiros, pintados a branco com o último número do ano em que lhes foi retirada a cortiça (2023). O funicular do Bom Jesus do Monte, que funciona com o peso da água, como já referi, foi o primeiro da Península Ibérica. Camilo Castelo Branco adorava o local (Peixoto, 2008; Gomes, 2014), tendo um dos seus livros o nome do santuário (pode ser encontrado online; está em domínio público). 

Como já referi, Camilo gostava bastante do local e voltava sempre que podia, mas em várias cartas queixou-se das pulgas e percevejos (Braga, 2015). Estes insetos que importunavam Camilo podem ser motivos de outras reflexões. Poderíamos pensar em falta de higiene, e, em parte, talvez fosse, mas podemos também ver as coisas noutra perspetiva (Rodrigues, 2022). Os inseticidas que havia na altura de Camilo eram muito perigosos (usavam, por exemplo, arsénio, e não seria sensato usá-los em camas). Só com o aparecimento, primeiro do DDT (diclorodifeniltricloroetano), em 1939, e depois das permetrinas, em 1986 (inspiradas em compostos dos crisântemos), foi possível fazer um controle mais seguro destas pragas, ao ponto de muitas pessoas nunca terem visto uma pulga ou um percevejo.   

Uma nota breve sobre os autocarros elétricos que vi em Braga. Com a eletricidade obtida de formas renováveis e sem produção de dióxido de carbono, estes permitem retirar os gases de combustão das cidades e diminuir os gases que aumentem o efeito de estufa, em geral. Entretanto, será necessário melhorar as suas baterias, fazer investigação e ter desenvolvimento sobre a sua reciclagem e produção, entre muitas outras coisas. Não entrei num desses autocarros, mas consigo imaginar as maravilhas da técnica que encerram: os estofos (provavelmente de algum polímero), os vidros com os seus revestimentos e métodos de produção, os pneus, os anúncios e ecrãs, etc. Na verdade, qualquer coisa que nos rodeie, mesmo já mais antiga, permite-nos algumas reflexões sobre a ciência e a técnica, as quais assentam em centenas ou milhares de anos de desenvolvimento humano.        

Por exemplo, os vitrais que reparei na Sé: de que serão feitos? Como foram feitos? Os cataventos de ferro forjado que podemos ver por toda a cidade: de que são feitos? As misturas de novos e velhos materiais são também desafiantes. É um nunca acabar de possibilidades que, parecendo invisíveis, são relevantes e envolvem desenvolvimentos complexos, assim como a colaboração de centenas de pessoas, alguns delas químicos.

As pessoas em Braga já se habituaram ao INL (Laboratório Ibérico de Nanotecnologia), mas pareceu-me muito curioso o testemunho de um jovem investigador que assinalou a estranheza inicial das pessoas. Este referiu que inicialmente houve alguma desconfiança em relação a este edifício que ocupou o espaço da Bracalândia (parque de diversões que funcionou de 1992 a 2007). Além de ser um edifício muito fechado e de acesso restrito, prometia fazer investigação ao nível atómico, o que “parecia perigoso”! O edifício que pude ver é muito elegante, sendo os vidros enormes duplos e temperados (o que se pode ver com óculos polarizados). Fica ao lado do rio Este, onde a água flui de forma relaxante. Ao lado deste rio, há um passeio bastante agradável, que é aproveitado pelas pessoas para correr ou passear. Chamou-me a atenção um cartaz com as plantas autóctones que não tem uma muito comum, o embude, que se encontra ao longo do rio. Faz sentido, uma vez que é uma planta muito venenosa de Portugal, mas dá uma ideia errada do nosso país. Foi a raiz dessa planta que dois caminheiros comeram e morreram, pensando que era a a raiz de uma cenoura selvagem. A planta é muito comum e vamos encontrá-la também em grande quantidade no Parque das Sete Fontes que já referi.

Antes de abandonar este caminho, queria chamar a atenção para os postes de eletricidade e os seus isoladores. É mais uma coisa em que raramente reparamos, mas os humanos são ávidos de energia e estas instalações lembram-nos bem disso. Aqui queria chamar a atenção para os materiais de que são feitos os postes e os isoladores. O aço anodizado (ou seja recoberto de zinco) e o vidro dos isoladores e o metal dos cabos elétricos. E o que é conduzir eletricidade? É permitir a passagem de eletrões, algo que é feito muito facilmente pelos metais, mas não pelo vidro que é constituído por vários materiais que não permitem o fácil fluxo dos eletrões, como o silício. Curiosamente, o silício dopado com alguns metais pode ser usado como semicondutor o que está na origem da eletrónica moderna. 
Também os cabos condutores de eletricidade são relevantes. A passagem de eletricidade a temperatura ambiente origina sempre perdas de energia por aquecimento (conhecido como efeito de Joule). Isso pode ser minimizado de duas maneiras. Aumentando muito a diferença de potencial, ou seja conduzindo a eletricidade usando altas voltagens, e escolhendo os metais melhores condutores. O melhor condutor é a prata, mas não se está a imaginar que os cabos sejam de prata. Isso pode ser feito em microeletrónica, mas não em grandes instalações, onde o seu uso seria demasiado caro. O segundo melhor metal é o cobre, mas mesmo esse começa a ser demasiado caro e a ser limitado o seu uso. Segundo percebi, usam agora alumínio (pelo menos em parte) e os cabos estão protegidos por um revestimento de plástico.     

Há muitos autores que nasceram em Braga, ou que aqui viveram, que valerá a pena referir, mas vou falar apenas de Francisco Sanches (1550-1622) e Pero de Magalhães Gândavo (ca. 1540-ca. 1580) pelas evocações sobre a ciência que suscitam. O primeiro é de origem judaica, cristão-novo, penso que antepassado do médico Ribeiro Sanches, e também, como este, de fama internacional; médico e filósofo, professor na universidade de Toulouse e autor de uma notável obra (ver e.g. Maia, 2003). Em Braga podemos encontrar uma sua estátua. A sua atitude cética, mas ao mesmo tempo observacional e experimental, irá antecipar várias ideias que iremos encontrar, por exemplo, em Bacon e Descartes (Maia, 2003). Sanches nasceu algures na comarca de Braga ou perto (o próprio refere que nasceu em Túi), mas foi batizado em Braga. Realizou nesta cidade os estudos primários, tendo, perto dos doze anos, rumado a Bordéus, onde tinha família. 
Estudou nesta cidade durante a adolescência e esteve, em seguida, em Roma quatro anos. Rumou, mais tarde, a Montpellier, onde se formou em medicina. Instalou-se a seguir em Toulouse onde foi professor de medicina, mas nunca deixou de exercer esta ciência e realizar dissecação em cadáveres e se manter atualizado. Aparentemente nunca foi incomodado pela Inquisição e teve a sorte de se movimentar em círculos progressistas e abertos. Em Roma, terá apanhado a abertura do Renascimento, em Montpellier a liberdade do cosmopolitismo e em Toulouse viveu num ambiente livre de opressão e nunca teve de fugir. Podemos comparar a sua vida com a de Amato Lusitano, médico português que teve de fugir para evitar ser perseguido, ou Garcia de Orta que gozou em Portugal de alguma liberdade, mas que acabou por ser perseguido na Índia, tendo os seus ossos sido queimados.          

Por outro lado, Gândavo embora fosse de origem flamenga  irá também nascer em Braga. É o autor da notável “História da Província de Santa Cruz” (o Brasil), que é um livro com uma atitude vincadamente experimental, mas que mistura elementos fantasistas. Sebastião Silva Dias (1988), dá especial atenção ao exemplo do método seguido para explicar de forma experimental a produção de âmbar cinzento pelos cachalotes. Infelizmente, a observação rigorosa e experimental que Gândavo descreve, envolve um conjunto de problemas que o empirismo ingénuo não permite resolver e a explicação acaba por se revelar incorreta. De facto, embora a formação de âmbar cinzento esteja relacionada com a alimentação e este material seja expelido no sistema digestivo, a sua produção pelos cachalotes não está relacionada diretamente com o que é comido, mas com uma reação ao que é comido: este é segregado pelo animal como resposta à alimentação baseada em lulas. Na minha opinião, este livro, e esta passagem em particular, é um exemplo das potencialidades das observações empíricas realizadas nas viagens dos portugueses. Do muito conhecido “dar novos mundos ao mundo”. Mas, sem que houvesse continuidade e contraditório, sem um ambiente livre e estimulante, em que se publicavam facilmente os resultados, rapidamente se extinguiu. Ficou a ideia das velhas glórias emolduradas e amarelecidas no cárcere de miséria em que se transformou Portugal. Felizmente, agora não é assim.

E, contrariamente ao que é dito por vezes, na minha opinião Portugal não é um país pobre e tem muito potencial para ser um país mais rico. É certo que tem acumulado dívidas desde há séculos e não se desenvolveu culturalmente até há umas décadas atrás – chegou ao final do século XIX com 80% de analfabetismo e a 1974, ainda, com 25% de pessoas sem saber ler e escrever. Mas tem, e sempre teve recursos minerais (uma maldição, quando não há cultura), e agora as maiores riquezas de entre todas: as do conhecimento e da cultura que tem trazido a escolaridade.   

Estas são algumas das reflexões que me suscitou o que vi em Braga. Estou a melhorá-las e acrescentar novas coisas.  [atualizado a 29 de junho de 2024]

Bibliografia

Agere. Água de consumo. https://agere.pt/agua-de-consumo/ (acedido a 20 de maio de 2024)

Azeredo, António Carlos de. Braga: Bracara Augusta, dois milénios de história. Caminhos Romanos, 2008. 

Bonus. Rede de Percursos Pedestres de Braga. Câmara Municipal de Braga, 2017. https://www.cm-braga.pt/archive/doc/Guia_Percursos_de_Braga.pdf (acedido a 25 de maio de 2024).

Braga, João Paulo. Coração, cabeça, estômago… e um par de calças! Correio do Minho. 18 de março de 2015. 

Cordeiro, José Manuel Lopes. História do Abastecimento de Água a Braga (1913-2013). Braga: Agere, 2018.

Costa, Margarida. Adoro conhecer Braga. Associação Comercial de Braga, 2013.

Ferreira, Rui. A Igreja de Santa Cruz. Irmandade de Santa Cruz, s.d.  

Fontes, Luís; Braga, Cristina; Pimenta, Mário; Guerreiro, Maurício. Sete Fontes : o sistema de captação de água da cidade de Braga (séculos IV-XX). Braga, 2021.

Gomes, Joaquim da Silva. O penedo do amor colocado no Bom Jesus. Correio do Minho, 21 de abril de 2014. https://correiodominho.pt/cronicas/o-penedo-do-amor-colocado-no-bom-jesus/15701 (acedido 12 de maio de 2024)

Lopes, Alexandre. Sete Fontes. 12 de julho de 2022. https://aguasesaneamento.pt/outros/colunistas/sete-fontes/ (acedido a 20 de maio de 2024)

Maia, Idalina . O problema do conhecimento em Francisco Sanches. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2013.

Oliveira, Eduardo Pires de. Segredos de Braga: Braga top-secret. Centro Atlântico, 2014.

Peixoto, José Carlos Gonçalves. Camilo Castelo Branco no Bom Jesus do Monte. 13 de maio de 2008. https://historiaporumcanudo.blogspot.com/2008/03/camilo-castelo-branco-no-bom-jesus-do.html (acedido 12 de maio de 2024)

Rodrigues, Sérgio P. J. Química e Saúde Pública: Elementos da História de uma relação fundamental. Revista Multidisciplinar 4(2), 57-74, (2022), https://doi.org/10.23882/rmd.22087

Silva Dias, José Sebastião da. Os Descobrimentos e a problemática cultural do século XVI. Presença, 1988.

Sousa, Rogério. Guia simbólico do Bom Jesus: Paixão e alquimia no monte sagrado de Braga. Cronos, 2016.


Passeio Químico em Tomar

[Fui bastantes vezes a Tomar, mas tenho passado lá sempre pouco tempo ou só tenho estado à noite. No entanto, juntando as várias fotografias que tinha, e, também porque vou a Tomar dar uma palestra no final do mês de abril de 2024, aproveito para refletir sobre algumas das coisas que vi. Entretanto, dei conta de que quase todas as fotografias que tinha foram tiradas durante a noite. Logo que possa substituo-as. O texto tinha algumas gralhas que procurei corrigir.]  

Tomar é uma cidade com antigos e novos atrativos. A enciclopédia Portuguesa-Brasileira dedica-lhe inúmeras páginas, dando muita relevância aos monumentos. De facto, um dos ícones mais conhecidos da cidade é a Janela Manuelina do Convento de Cristo. Mas Tomar tem muito mais interesses. Não só assumiu a herança dos templários, como também apresenta muitas inovações, que em boa parte envolvem a proximidade do Instituto Politécnico de Tomar.    

José-Augusto França (1922-2021), historiador de arte, nasceu em Tomar e escreveu alguns trabalhos sobre a cidade. Podemos visitar o "Centro de Arte Contemporânea" do Museu Municipal, que tem cerca de duzentas obras que este colecionou durante a sua atividade, em particular relacionadas com os movimentos artísticos portugueses, mas eu ainda não tive tempo para ir lá.

Embora já tenha ido várias vezes ao Convento de Cristo, não tenho fotografias. Entretanto, a última vez que fui a Tomar fotografei a entrada da Igreja da Misericórdia. Fico sempre surpreendido com o que se pode fazer com a pedra. Durante milénios a humanidade só tinha disponíveis cinco tipos de materiais: minerais (rochas e metais), vegetais (fibras, etc.), animais (couro, ossos, etc.), cerâmicos e vidros. Os polímeros sintéticos, para além dos avanços que proporcionaram em relação a estes tipos tradicionais, vieram aumentar muito as possibilidades, mas só no século XX. Agora causam problemas, mas é preciso não esquecer esse alargamento das possibilidade e, paradoxalmente, da sustentabilidade.  

Fernando Lopes-Graça (1906-1997) [tinha trocado o nome com outro autor] nasceu também em Tomar. No Parque da Levada, penso que há uma estátua alusiva a este personagem importante  da nossa história. A sua obra é lembrada na “Casa da Memória”, onde também ainda não tive tempo de ir. 

 Também não fui ao Museu dos Fósforos, mas o guia que consultei refere que neste podemos ver milhares de caixas (mais de sessenta mil) de mais de 120 países. Curiosamente, em Jonkoping, na Suécia, visitei o Museu dos Fósforos, que não dá tanta importância às imagens das caixas, mas às questões da produção destes.

Ao passar a ponte sobre o Rio Nabão, chamou-me a atenção a calçada portuguesa com rochas rosa e brancas. As calçadas em Portugal continental são em geral feitas de rochas calcárias de carbonato de cálcio, mas a presença de óxidos de ferro, ou de outros metais, ou de compostos de carbono, fá-las apresentar uma gama muito grande de cores. No caso dos vermelhos e rosa, são provavelmente óxidos de ferro.

No parque da levada do mouchão (1), há uma roda de madeira alusiva ao aproveitamento da água realizado pelos árabes. Mas quando dizemos isto podemos refletir um pouco. Portugal e a Península Ibérica durante muitos séculos foram colonizados por esses povos do Sul, havendo uma razoável harmonia e tolerância, além de trocas e entrosamento culturais.     

O grande industrial de Tomar foi Manuel Mendes Godinho, mas eu não sabia. Mas, ao ver uma estátua com o seu nome, fiz alguma pesquisa, em particular li o livro de Manuel Valente (2) e aprendi muitas coisas sobre Mendes Godinho. O império industrial da sua família envolvia moagens de farinha, aproveitando a energia do rio, fábricas de rações e de cerâmica, instalações de extração de óleo de bagaço de azeitona e uma hidroelétrica (esta última, mais pela necessidade de energia para as anteriores, segundo percebi), entre muitas outras. Algumas destas indústrias mais antigas fazem agora parte do Complexo Cultural da Levada, junto ao rio. 

Talvez não seja muito conhecido o legado de Mendes Godinho, mas se eu referir “Platex” e azeite “Oliveira da Serra” quase toda a gente conhece. Começando pelo segundo caso, Mendes Godinho e sua família não criaram diretamente a empresa “Sovena” responsável por esta marca de azeite, mas criaram a “Tagol” que na sua segunda vida, depois de passar por muitos problemas, deu origem à atual Sovena (3).  Já a “Platex”, e as empresas de aproveitamento de fibras de madeira que se lhe seguiram, surgiu por intervenção direta de Mendes Godinho - “platex” permanece no nosso imaginário (pelo menos no meu) como sinónimo de um tipo de aglomerado de madeira. 

Porque refiro estas empresas que parecem não ter nada a ver com Química? Começando pela primeira não há dúvida que têm. Queremos azeite “puro” no sentido de ter vindo diretamente da azeitona sem intervenções “químicas” mas estas intervenções têm necessariamente de existir, nem que seja na análise química do resultado, confirmando essa “pureza”, através da química analítica e controlo de qualidade. É que não podemos confiar cegamente na “pureza” publicitada. Os possíveis vigaristas conhecem essa nossa fraqueza por coisas “puras” e usam-na a seu favor. Em Espanha, por exemplo, nos anos oitenta do século XX morreram várias pessoas que compraram azeite em mercados, provavelmente “caseiro”, que era obtido destilando um óleo que não se destinava a consumo humano. 

Não quero com isto dizer que o conceito de “caseiro” seja mau – é bom com certeza -, o que é necessário é que seja verificado e estudado, não só que se verifique que o produto  mesmo “caseiro”, mas também que não origine riscos para a saúde, pois não faltam coisas “caseiras” perigosas. Mas há mais. A Química permite também a análise detalhada da composição e a otimização das condições de fabrico para ajudar a Natureza a agir de forma mais rápida e segura. A Química não procura fazer um azeite “melhor” (embora no seu programa de alargamento da natureza possa tentá-lo), mas verificar, estudar e otimizar o resultado “natural”. Quanto ao “platex” (no estrangeiro “valbonite”) fiquei surpreendido com o que pesquisei. Os pedaços de madeira são reduzidos até ficarem quase só as fibras separadas e depois estas são prensadas, ficando coladas com a cola natural da madeira, a lignina. Não percebi bem de onde vinha a cor castanha caraterística, mas penso que possa ser acrescentado um corante que pode bem ser natural, pois o castanho é muito comum nestes contextos.      

Com as ferramentas da Internet podemos “ver” muito mais do que antigamente. Só temos de estar atentos. Ao sair da cidade em direção a sul, notei uma instalação fabril. Usei o Google Maps, onde se viam muitos tanques. Depois de alguma pesquisa na Internet, verifiquei que era uma destilaria, que além disso tinha outros produtos. Há muito tempo que se destilam vinhos para obter álcool, e estes oferecem várias graduações alcóolicas. Mas além disso, na fábrica disponibilizam também grainhas de uva desidratadas e outro produto tradicional derivado do vinho, o ácido tartárico. 

O ácido tartárico está no centro de um grande avanço na Química: a descoberta da quiralidade (4) de algumas moléculas. Estas moléculas são em tudo iguais, exceto no que concerne às suas imagens num espelho e a natureza usa preferencialmente uma das formas. Por exemplo, nos açúcares, a maior parte das moléculas usadas pelos organismos vivos estão na forma D. Por outro lado, a maioria dos aminoácidos nos seres vivos estão na forma L. Estas moléculas são muito comuns na natureza, mas até Pasteur não sabíamos da sua existência. Pasteur, com muita paciência e bastante sorte (mas a sorte conquista-se e é favorecida pelas mentes preparadas) separou as formas D e L dos cristais de ácido tartárico. Depois, juntando muitas informações, os químicos chegaram à conclusão que isto em geral envolvia o carbono estar num tetraedro rodeado de quatro grupos químicos diferentes (carbono assimétrico). Daqui até se poder hoje produzir só uma das formas das moléculas demorou algum tempo, mas não deixa de ser curioso que a L-DOPA, usada para o tratamento da doença de Parkinson tenha sido a primeira molécula a ser produzida de forma industrial na Monsanto (na altura uma empresa essencialmente química e já centenária). Hoje em dia há imensos processos para produzir apenas uma das formas das moléculas.      

A Festa dos Tabuleiros é uma das atividades mais conhecidas da cidade. Esta é realizada regularmente desde o século XIV. Desde há algum tempo é chamada Festa Templária, reunindo outra das atrações da cidade e é realizada de 4 em 4 anos. A festa de 2024 tem lugar de 11 a 14 de julho e envolve, segundo vários sítios de divulgação, recriações, visitas, seminários, acampamentos, mercados, concursos, entre outras atividades, que irão evocar a história, as lendas, os segredos e os mitos, da mais rica e poderosa instituição medieval, a Ordem dos Templários.

Segundo o sítio do turismo, o tabuleiro é o símbolo e a principal alfaia da Festa dos Tabuleiros e deve ter a altura da rapariga que o carrega. É ornamentado com flores de papel, verdura e espigas de trigo. Tem além disso, 30 pães de 400 gramas cada, enfiados em 5 ou 6 canas. Ainda no sítio, ficamos a saber que estas canas saem de um cesto de vime envolvido em pano bordado e são rematadas, no topo, por uma coroa encimada pela Cruz de Cristo ou Pomba do Espírito Santo. Há um monumento numa rotunda com esta iconografia, mas eu fiquei a pensar nos pães. De acordo com estas contas, estes teriam no total um peso de doze quilogramas, o que corresponderia a mais de 31 mil calorias (na verdade quilocalorias, sendo que um ser humano típico consome cerca de dois milhares diárias). Assim, os pães de um tabuleiro dariam para cerca de 15 dias em termos de calorias de uma pessoa. Se consideramos o número que li de mais de 600 tabuleiros, dá mais de sete toneladas de pão. Todo este pão é entregue às populações. A festa de 2024 ocorrerá em breve.

Notas e referências

(1) Mouchão é uma ilha num rio. Outros nomes usados são “murraça” ou “murraceira” por exemplo. Eu não conhecia o significado desta palavra mas hoje em dia podemos aprender as coisas rapidamente com a Internet. Muitas vezes só custa tempo e, claro, o uso de espírito crítico. E podemos saber com as coisas se pronunciam. Isso é muito útil para nomes estrangeiros. 

(2) Leonel Valente. Mendes Godinho : uma história de empreendedorismo empresarial familiar. Associação MG – Memorial Mendes Godinho, 2018. 

(3) Segundo o que li no livro de Leonel Valente (2) a "Tagol" foi a maior empresa privada de Portugal. Com a revolução, a família que era dona da empresa através do banco familiar, que foi nacionalizado, deixou de ser dona da empresa. De vicissitude em vicissitude, esta acabou na falência, tendo uma "segunda vida" agora como "Sovena" que é dona de marcas como a do azeite "Oliveira da Serra". Além das produções normais, em 2007 inaugurou uma unidade de produção de biodiesel que produzia 300 toneladas por dia. A Sovena, através de um complexo conjunto de participações é do Grupo Jorge Mello. A história é contada em detalhe no livro de Leonel Vicente, mas houve alturas que a Tagol esteve para ser da Tabaqueira, agora do grupo da Philip Morris, ou da Cargill, uma multinacional que o publico não conhece em geral por os seus negocios envolverem matérias primas alimentares e não produtos finais. Estar agora na esfera do Grupo Mello, foi conhecido na altura como a "vingança do amendoim" por inicialmente ter quebrado o monopólio das óleos alimentares da CUF (Companhia União Fabril, que irá dar mais tarde origem ao Grupo Mello).

(4) Moléculas quirais que têm geometrias que são a imagem no espelho umas das outras, como as nossas mãos esquerda e direita. São ditas “enantiómetros”, sendo que a sua mistura que não tem propriedades óticas é referida como “mistura racémica” ou “racemato”. A notação tradicional D e L para dextrogiro (seguindo o sentido horário) e levogiro (sentido anti-horário) foi sugerida por Emile Fischer tendo como base a posição dos grupos OH do formaldeído e é conhecia como a configuração absoluta. A notação (+) e (-) (ou d/l em minúsculas) refere-se ao valor experimental dessa rotação. Finalmente temos a notação R e S (rectus e sinistra) que se aplica para o ambiente químico que rodeia cada átomo de carbono. Apenas para o formaldeído é garantido que D é (+) e L (-). Nos restantes casos, podemos diferentes possibilidades.