(PQ-CC) À procura da antiga fábrica do sabão junto à Feitoria dos Linhos

Em Santa Clara existiu, até aos anos 90 do século XX, uma fábrica de sabão que funcionou mais de cem anos. Situava-se na Rua da Feitoria dos Linhos do lado norte do Portugal dos Pequenitos ocupando o quarteirão onde agora se ergue uma urbanização com apartamentos e lojas (vê-se na foto atrás da casa da Feitoria dos Linhos).

A produção de sabão é desde há muito tempo realizada pela reacção de bases com gorduras, sendo esse tipo de reacções denominada saponificação

gorduras + base → sabão + glicerina + água

Conforme o tipo de gorduras usado (de origem animal ou vegetal) e as bases utilizadas (hidróxido de sódio, NaOH, conhecido como soda cáustica ou hidróxido de potássio, KOH, entre outras) se produzem diferentes qualidades de sabão. Por vezes uma parte da glicerina é deixada no sabão e há adição de perfumes além de outros corantes e componentes. Para esse produto de limpeza temos uma palavra que parece ser única na Europa: sabonete. Um artesão local referiu-me que quando a fábrica ainda estava a funcionar alguns funcionários lhe traziam sobonetes e que ainda podemos encontrados antigos funcionários da fábrica nos cafés locais; um testemunho oral da história industrial de Coimbra a registar.

A Feitoria dos Linhos tem também uma história interessante. O seu nome completo era Feitoria dos Linhos Cânhamos. O cânhamo, conhecido também como linho cânhamo, era a matéria prima que recebia, a qual era usada na industria da cordoaria até que esta actividade entrou em declínio.

Para quem não sabe, o cânhamo é a planta a partir da qual é feito o famigerado haxixe, a cannabis, que seria cultivado na região sem, ao que se saiba, problemas de maior. Para além de provavelmente as variedades de plantas cultivadas poderem ser pouco ricas em tetrahidrocanabinol (o composto estupefaciente da cannabis), o uso desta planta como estupefaciente não seria conhecido ou mesmo, sendo conhecido, não seria culturalmente aceitável.

Referências sobre história da indústria em Coimbra
J. M. Amado Mendes Subsídios para a Arqueologia Industrial de Coimbra, MNMC, Coimbra, 1983.
J. M. Amado Mendes A área económica de Coimbra, CCRC, Coimbra, 1984.

[versão preliminar de 23 de Junho de 2010, com correcções de 25 de Junho]

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