Ao encontro das mulheres na ciência

Texto com passeios químicos que apareceu no Diário de Coimbra de 8 de Março de 2011, dia da Mulher

O ano Internacional da Química assinala 100 anos da atribuição do Nobel da Química a Maria Sklodowska Curie celebrando também a contribuição das mulheres para a ciência. É notável que Mme. Curie tenha recebido este prémio após ter recebido o Nobel da Física em 1903 e que a sua filha, Irene Joliot-Curie, tenha sido premiada com o Nobel da Química em 1935, todos devidos a trabalhos sobre a radioactividade. Ao tempo, o participação da mulher na ciência era muito mais difícil do que actualmente. Branca Edmée Marques doutorou-se em 1935 no Instituto do Rádio de Mme. Curie, e realizou importantes trabalhos de radioquímica. No entanto, só em 1966 teve um lugar de catedrática na Faculdade de Ciências de Lisboa, sendo a primeira mulher a obter essa posição na área das ciências em Portugal. A presença segura da radioactividade e da radioquímica no nosso dia-a-dia, por exemplo nos detectores de fumo e tratamentos médicos, muito deve as estas mulheres determinadas.

Não tem havido, infelizmente, muitos mais prémios Nobel da Química para mulheres. Dorothy Crowfoot Hodgkin, que determinou as estruturas químicas da penicilina e insulina, recebeu este prémio em 1964 e Ada Yonath recebeu-o em 2009 por trabalhos sobre os ribossomas.

No passado remoto podemos encontrar mulheres ligadas à química. Maria a Judia, por exemplo, terá inventado o banho-maria. A francesa Marie Meurdrac, que publicou em 1666 “La Chymie charitable et facile, en faveur des dames,” é considerada a primeira autora química, mas há mulheres notáveis cujo nome não ficou impresso; Por exemplo, Marie Anne Paulze, mulher de Lavoisier, teve um papel importante nos trabalhos deste.

Em Portugal, em 1891, o analfabetismo feminino era cerca de 85%. Nesse ano, Domitilla Hormizinda Miranda de Carvalho é a primeira mulher a frequentar a universidade em Portugal, e, das primeiras cadeiras que faz, contam-se química inorgânica e orgânica. Irá formar-se em Matemática e Filosofia (Ciências), e, mais tarde, em Medicina. Em 1917, já com algumas mulheres na universidade, Maria Virgínia Pestana e Maria Teresa Basto inscrevem-se em ciências Físico-Químicas. Com duas colegas de Letras, fundam em 1920 a primeira república feminina nos Palácios Confusos. A Senhora Dona Virgínia, como era conhecida na cidade, foi professora do D. Maria até jubilar aos 75 anos, tendo falecido em Agosto de 2010 com 111 anos.

Um lugar especial é devido às mulheres com inventos na área da química. A patente da Universidade de Coimbra, desenvolvida no Departamento de Química por Mariette Pereira e colaboradores, sobre um fármaco para utilização em terapia fotodinâmica, que recebeu recentemente o prémio Inventa, é um exemplo actual. No passado podemos encontrar contribuições como a da nobre indiana que desenvolveu o método de extracção do perfume das rosas ainda hoje usado ou a de Mine Lefebvre que patenteou em 1859 um processo para produção artificial de nitratos a partir de azoto. Uma perfumaria, ou os azulejos antigos com publicidade aos “Nitratos do Chile” evocam recordações destas mulheres inventivas.

Actualmente, com um sistema de ensino generalizado e uma maior percentagem de mulheres, em relação aos homens, nas universidades, surgem novas questões sobre a participação da mulher na ciência. Lembrar o passado pode ajudar a compreender o presente e preparar um futuro melhor, também com a química.

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