Os medicamentos de venda livre, publicitados em vários locais são uma novidade dos últimos anos. Estes têm, como é óbvio, compostos "químicos" na sua formulação, tendo vantagens terapêuticas e possíveis efeitos adversos. Serem de venda livre não quer dizer que não apresentem perigos, tanto mais que vários destes medicamentos coexistem com formulações idênticas de venda apenas com receita médica.
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Um outros medicamento anunciado nas ruas, tem como princípio activo o anti-histamínico fexofenadina, uma molécula também relativamente complexa que se liga ao receptores da histamina, mas não atravessa de forma significativa a barreira hemato-encefálica (uma barreira fisiológica que impede alguns compostos de atingirem os sistema nervoso central e cerebro) e por isso não chega ao cérebro, causando sonolência. É curioso referir que foi esse efeito secundário da sonolência causada pelos primeiros anti-histamínicos estudados que levou à descoberta, nos anos 1950, do primeiro medicamento para as psicoses e outras doenças psiquiátricas: a clorpromazina, muito conhecida pelo se nome comercial largactil. Ao se procurar um medicamento para as alergias acabou-se com outro para as psicoses e esquizofrenia!
Ainda há pouco tempo os anúncios eram de medicamentos para os resfriados e outros maleitas de inverno. A gripe é uma virose, em geral benígna, mas aborrecida. O medicamento daqui ao lado tem paracetamol, um medicamento para as dores e febre; cafeína, um composto nosso conhecido no café, vasodilatador e estimulante; e mepiramina, um anti-histamínico. Estes compostos dirigem-se ao alívio dos sintomas e não à cura. Os resfriados e gripes normais curam-se com o tempo, muitos líquidos, alimentação saudável e descanso. Claro que há casos graves e pessoas que estão em maior risco, para os quais estas mezinhas modernas ou as antigas pouco servem. Para esses casos existem vacinas e antiviriais como o oseltamivir (conhecido pelo nome comercial de tamiflu), a usar só em casos especiais assim como tratamentos mais avançados em hospital.
Mas não só os medicamentos têm química nos anúncios das ruas. Outros exemplos são os cosméticos, tratamentos estéticos para o cabelo e perfumes. No daqui do lado é referido o ácido hialurónico, um composto existente naturalmente nos tecidos do nosso corpo, o qual até à pouco tempo tinha de ser administrado usando uma seringa. No departamento de Química da Universidade de Coimbra foi desenvolvido um método, comercializado desde o mês passado por uma empresa start-up (a LaserLeap), que usa pulsos de laser para facilitar a entrada de cosméticos na pele, sem necessidade de agulhas.
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Também a pintura dos cabelos envolve muita química, como já referi a propósitos do química nos cabeleireiros. O métodos de pintura dos cabelos envolve água oxigenada razoavelmente concentrada (na ordem dos 6%, quando a vendida nas farmácias é 3%), uma amina (que cheira como amoníaco e é da sua família) e os pigmentos que dão a cor. A questão da água oxigenada foi tristemente lembrada recentemente a propósito dos atentados de Paris e Bruxelas que usaram um explosivo obtido com água oxigenada concentrada e acetona o qual é muitissimo arriscado de preparar, envolvendo destilação de água oxigenada. Já vários potenciais terroristas terão sido presos por comprarem quantidades anormais de produtos para pintar o cabelo!
Os champôs e amaciadores têm também muita química (basta ler as composições), mesmo quando se limitam a evocar a luz, a dinâmica e a geometria dos volumes. Para se obter esse volume é necessário que o champô tenha compostos que não só retirem as gorduras que se forma naturalmente, mas também que se depositem nos cabelos e façam com que estes apresentem algum grau de repulsão entre eles, mantendo espaços vazios que geram volume.
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