(PQ-PN) Oceanário de Lisboa e a química do mar

O Oceanário de Lisboa vale bem a visita (e a volta regular), pela vida marinha, claro, mas também pelo edifício.  De facto, muitos dos pormenores da construção e funcionamento do edifício e aquários só são possíveis devido à química. Por exemplo, apenas com a descoberta do vidro acrílico e outros polímeros, como o policarbonato, se tornou possível fazer tanques para aquários tão grandes. Outros aspectos técnicos relevante em termos químicos são a renovação e análise da água dos aquários e a luta contra a corrosão que é propiciada pela presença dos iões cloreto.
 
O mar, além de indispensável à vida, é uma fonte de substâncias químicas naturais ainda por descobrir e outras bem conhecidas que marcaram e ainda marcam as nossas vidas. Por exemplo, a tetrodoxina do peixe balão foi (e é ainda) muito importante para o entendimento do funcionamento do sistema nervoso, para além de ser um petisco perigoso. Muitos outros exemplos podem ser indicados.

Também, como escrevi noutro local, com a ajuda do meu filho mais pequeno, a química teve também um papel relevante no fim da caça às baleias, descobrindo substâncias alternativas às que as baleias forneciam. E vai ter, com certeza, importância para se encontrarem alternativas ao petróleo e soluções para os plásticos que flutuam nos oceanos, fruto da incúria das pessoas que usam mal o que a ciência lhes oferece.

Sobre a química que se pode encontrar à beira mar escrevi já um texto mais curto que aproveitava partes de um outro mais longo, neste blogue.

Um outro aspecto químico curioso é do brilho das escamas dos peixes. Se calhar, muita gente já se perguntou porque brilham as escamas dos peixes, quando vêm que as suas escamas são, depois de retiradas, brancas e baças. Já se sabia há algum tempo que esse brilho era devido a cristais de guanina, mas só recentemente se percebeu que a disposição desses cristais é, nos peixes, muito diferente daquela que é obtida em laboratório (nas escamas dos peixes aparecem na forma de placas finas que são muito mais eficientes para criar o efeito de iridiscência).

Há muitas respostas sobre o mar e a químico do mar que ainda não temos, ou que só agora estamos a descobrir, mesmo de coisas aparentemente simples como o brilho das escamas dos peixes.

(PQ-PN) Química nos Jardins de Garcia d' Orta (I)

Como já escrevi a propósito do percurso químico na Universidade de Coimbra onde temos um curso de Química Medicinal, Garcia d'Orta foi um pioneiro ilustre português daquilo que hoje chamamos Química Medicinal, a qual foi a forma como a química se autonomizou da alquimia, dando origem às modernas (agora clássicas mas nunca antiquadas) licenciaturas em Química.

Em todos os jardins do Parque das Nações podemos encontrar química, em especial nos vários talhões do Jardim de Garcia d'Orta (Macaronésia, África, Coloane (China), Goa e S. Tomé e Brasil). Estes talhões evocam regiões por onde os portugueses andaram (e ainda andam), assim como as plantas que lá encontraram. E claro, associadas a quase todas as plantas há pequenas ou grandes histórias químicas. Com base nos óptimos textos do site do Parque das Nações irei referir algumas destas histórias.

Talhão da Macaronésia (imagem ParquedasNacoes.pt)
Começando pelo talhão da Macaronésia e pela flora dos Açores e Madeira, há três plantas cuja química marca profundamente a história da humanidade: a planta do chá, a cana-do-açúcar e o tabaco, qualquer uma delas com muitas histórias químicas para contar. O chá com os seus alcalóides (em especial a cafeína), taninos e antioxidantes. A sacarose que é um dos materiais mais puros que podemos encontrar no dia a dia e que permite fazer doces divinos (como os pastéis de Tentúgal), mas foi o inferno de muitos seres humanos vítimas da escravatura. O tabaco e toda a química do vício, o papel da nicotina e dos compostos envolvidos no fumo. A partir da referência à nicotina e da sua acção, podemos chegar à discussão moderna dos pesticidas neonicotinóides e muitos outros aspectos da importância da química na vida actual.

 Com a ilha de Santiago (Cabo Verde) surge o dragoeiro, o indigo e o aloé vera. Cada uma destas plantas também com muitas histórias curiosas. Sobre o dragoeiro e sobre o aloé vera já escrevi anteriormente a propósito do percurso químico da Universidade de Coimbra.

O indigo, pigmento usado nas calças de ganga, tem também um papel de relevo. O seu cultivo deixou de ter importância económica devido ao desenvolvimento de métodos de síntese do pigmento (que tem o mesmo nome da planta) mais eficientes que a sua obtenção a partir da planta. Mas não se lamente logo essa perda, calcule-se antes qual seria quantidade de plantas necessárias para obter todo o volume de pigmento usado (e desperdiçado) hoje em dia em calças de ganga!

(PQ-PN) Esculturas de ferro no Parque das Nações


Homem-Sol (imagem ParquedasNacoes.pt)

De entre as muitas obras de arte urbana do Parque das Nações há várias esculturas de ferro. De entre estas saliento o Homem-Sol de Jorge Vieira (1922-1998) que tem vinte metros de altura, pesa quinze toneladas e está coberto de óxidos de ferro e Cursiva de Amy Yoes que é também feita de ferro, mas está pintada de verde.

Para além dos aspectos artísticos, olhemos para química envolvida nestas obras e em particular para a química dos materiais de que são feitas. Só recentemente na história da humanidade se conseguiu produzir ferro metálico. Primeiro como ferro forjado, quase sem carbono, e mais tarde como ferro fundido, saturado de carbono e silício. E só no século XIX se conseguiu produzir, de forma industrial, aço que é uma liga com quantidades intermédias de carbono entre o ferro forjado e o ferro fundido, na qual se pode também incorporar outros metais.


Cursiva (imagem ParquedasNacoes.pt)
Note-se na fotografia, no lado mais baixo da escultura Cursiva, o aparecimento de óxidos propiciado pela fragilização do revestimento da tinta que expôs o ferro ao contacto com o oxigénio e humidade, necessários à corrosão do ferro. A partir destes pontos frágeis a corrosão da escultura poderá, se não for restaurada, avançar de forma inexorável ao longo dos anos. Já o Homem-Sol, que está completamente coberto de óxidos de ferro, não tem zonas preferenciais de corrosão e poderá manter-se estável durante séculos como acontece com a Porta Férrea da Universidade deCoimbra e a célebre coluna de ferro de Delhi se não sofrer muita influência dos aerossóis marítimos contendo iões cloreto. As condições climatéricas, a forma de produção e as impurezas e aditivos têm muita influência na evolução da corrosão. No caso da pintura, para além da função de isolamento, podem ser incluidos materiais que evitam a corrosão do ferro de várias maneiras. Antigamente eram muito usados óxidos de chumbo que por serem muito tóxicos, com a evolução da química, deixaram de ser usados.

Também o pigmento verde usado na escultura Cursiva é digno de referência sobre o papel da química na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Até à descoberta dos modernos e pouco tóxicos pigmentos orgânicos de elevada estabilidade que se usam actualmente, eram usados para as tintas verdes, pigmentos inorgânicos de crómio e cádmio, bastante tóxicos (mas felizmente pouco solúveis). E, no século XIX, chegou a ser uma verdadeira loucura (em todos os sentidos) o uso do verde de arsénio que originou inúmeros envenenamentos. 

Ironicamente, a química tornou os pigmentos mais seguros e os materiais mais resistentes à corrosão, permitindo que possamos fruir da arte de uma forma que quase esquecemos a química!

(PQ-PN) Química no Parque das Nações

Em 2009 tirei algumas fotografias num dia enovoado a partir das quais prometi escrever sobre a química no Parque da Expo, actual Parque das Nações.

Esse momento chegou, pois vou apresentar um painel com o título Passear ao encontro da química na rua no congresso SciCom PT 2013 a decorrer no Pavilhão do Conhecimento 27 a 28 de Maio de 2013.

 Irei apresentar aqui uma versão alargada do percurso químico proposto.