(PQ-UC) A pia da pólvora de Tomé Rodrigues Sobral


No Museu da Ciência podemos ver uma pia que terá sido usada para produzir pólvora para combater as invasões francesas por inciativa do lente de química do início do séc XIX Tomé Rodrigues Sobral. Por causa disso os franceses acabaram por lhe queimar a casa, o que levou a que perdesse todos os seus papéis incluindo o manuscrito de um livro de ensino da química que estaria quase pronto.

A composição típica da pólvora, duas partes de enxofre, três partes de carvão e quinze partes de salitre (nitrato de potássio) é conhecida há séculos, mas o comportamento deste material era tido muitas vezes como imprevisível. E, de facto, as reacções químicas envolvidas e o mecanismo de combustão da pólvora só muito mais recentemente começaram a ser conhecidos. A pólvora é muito higroscópica; a presença de uma pequena quantidade de água pode levar em algumas raras circustâncias à sua explosão, mas leva em geral à sua inactivação e tranformação num material corrosivo.

Outra das iniciativas de Tomé Rodrigues foi a utilização de desinfectantes de cloro para combater um surto de peste que surgiu em Agosto de 1809, tendo deixado essa actividade descrita de forma muitíssimo detalhada e verbosa em publicações da época. Na altura existia a teoria dos miasmas que, segundo Sobral, seriam corpúsculos químicos ainda não identificados causadores de doenças que eram inactivados de forma química pelo desinfectante.

Os aparelhos desinfectantes consistiam num pequeno vaso de barro no qual era colocado sal marinho e morado (óxido de manganésio). Para fazer a desinfecção adicionava-se ácido sulfúrico, após o que se libertava um gás que na altura era designado como ácido muriático oxigenado mas sabe-se hoje ser o cloro, segundo a reacção

MnO2 + 4NaCl + 2H2SO4 → Cl2 + MnCl2 + 2H2O + 2Na2SO4

A designação de ácido muriático oxigenado advém de se pensar na altura que o oxigénio do óxido de manganésio passava a fazer parte do gás que se libertava, após a reacção com o ácido muriático (HCl). Essa interpretação foi seguida pelo próprio Lavoisier e só mais tarde Davy a pôs em causa. É interessante notar que num relatório que escreveu em 1813 Tomé Rodrigues Sobral já conhecia e possivelmente aceitava as conclusões de Davy.

É de notar, no entanto, que na altura também poderia ser designado como ácido muriático oxigenado o ácido hipocloso HClO cuja base conjugada é o hipoclorito ClO- que pode ser obtido pela dismutação do cloro em solução alcalina na presença de cloretos,

Cl2 + Cl- + 2OH- → 2ClO- + H2O


[Versão de 9 de Abril de 2010. Ultima alteração de 31 de Maio de 2010]

(PQ-UC) Química das cores do Outono

O Outono traz-nos cores magníficas nas folhas das árvores. Vale a pena parar um pouco para as apreciar e procurar entender porque surgem.

O pigmento verde das plantas é a clorofila que tem como ião central o magnésio. Para além da clorofila, há outros pigmentos como os carotenóides (que são de cor amarela). Nas folhas verdes a clorofila está ligada a uma proteína que origina um produto insolúvel. Há medida que se aproxima o Outono a proteína separa-se em aminoácidos que são armazenados nas raízes e a clorofila degrada-se, permitindo que se tornem visíveis os amarelos dos carotenóides, além de cores devidas a outros pigmentos. Para além disso, os açucares que ficam nas folhas sofrem transformações que resultam em antocianinas dando os tons de vermelho.

P. Borrows, Educ. Chem. 1993, 30(1), 182.

[Versão preliminar de 9 de Abril de 2010; fotografia de Outubro de 2009]

Porquê percursos químicos?

Inspirados pela sugestão de Peter Borrows [1,2] para a criação de chemistry trails no ambiente local de cada escola, a qual é, por sua vez, baseada nos tradicionais percursos na natureza, os percursos químicos podem contribuir para revelar a importância da química e das suas aplicações e ser um instrumento de apresentação ou revisão de conceitos e conhecimentos em novos contextos, reforçando a eficácia do ensino da química e a motivação dos estudantes.

[1] Peter Borrows, The Pimlico chemistry trail, School Science Review 66, 221 (1984).
[2] Peter Borrows, Chemistry outdoors, School Science Review 87, 23 (2006).