Há uns domingos atrás passei no Porto e fiz mais algumas fotografias para completar o passeio químico. Só agora tive tempo para editar o texto.
O Edifício da Academia Politécnica e a Praça dos Leões estão cheios de histórias químicas para contar. Ferreira da Silva, o primeiro presidente da Sociedade Portuguesa de Química, Abel Salazar, que começou por se matricular na Academia e depois se doutorou em medicina, mas nunca abandonou o interesse pela química, José António de Aguiar (cujo nome estava errado na versão inicial deste texto), químico e professor brilhante que morreu novo mas deixou aqui obra e boa memória, Camilo Castelo Branco que aqui fez as primeiras cadeiras, e tantos outros que passaram por este edifício.
Ao lado do edifício da Politécnica há um jardim muito bonito que agora apresenta toda a química do Outono. As cores de ouro e cobre das folhas que se explicam, mas não perdem por isso a beleza, com os pigmentos que restam quando a clorofila começa a ser reciclada pela planta, encantam-nos. Há também aqui um teixo, árvore tão venenosa quanto útil, que nos dá um pretexto para voltar a contar a conhecida história do taxol, um medicamento usado em quimioterapia que começou por ser obtido do tronco de uma espécie rara de teixo. Foi o trabalho dos químicos que permitiu não só a identificação da estrutura desta molécula como a descoberta de formas de sintetizar o taxol a partir de um composto presente nas folhas de teixo vulgar, evitando a tragédia ecológica ao mesmo tempo que se tornava o medicamento mais acessível.
Na entrada do parque de estacionamento onde deixei o carro, as pastilhas elásticas do costume mostram, literalmente, o seu lado negro, incorporando matéria carbonatosa: nanopartículas de carbono, hidrocarbonetos poliaromáticos e, claro, sujidade. Muitas pessoas ficam surpreendidas com a explicação das manchas negras, algumas nunca tinham reparado, outras pensavam ser fungos! Também na entrada do Museu Soares dos Reis, e em todas as entradas e saídas do que quer que seja, as há. Quando a química inventar pastilhas que não se colem ao chão (se é que isso é possível), já que o civismo parece ser difícil de inventar, as pastilhas elásticas vulgares passarão a ser proibidas!
Finalmente, consegui fotografar o termómetro das tintas Stephens e a bonita papelaria (fechada para obras) onde está este termómetro. As tintas usadas em canetas de tinta permanente, inicialmente obtidas de forma semelhante às tintas anteriores, a partir de compostos naturais, vieram substituir os tinteiros e penas, mas tinham alguns problemas, nomeadamente com as variações de temperatura. A fábrica Stephens procurou criar tintas cujas propriedades eram menos sensíveis às variações de temperatura. Mais tarde vieram as esferográficas e as suas tintas, com pigmentos sintéticos, quase insensíveis às variações de temperatura. Mais tarde ainda chegaram as canetas de feltro, as canetas estilográficas que usam tinta da china, etc. Também nesta praça, existe uma elegante e bonita farmácia com mais de duzentos anos (data de 1804). Podemos bem imaginar Camilo Castelo Branco e outras figuras da época a vir aqui trocar umas impressões com o boticário.
[versão preliminar de 8 de Dezembro de 2013, com correcções de 8 e 24 de Março de 2014, bibliografia: ver abaixo]
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1 comentário:
Didático e pedagógico. Gostei bastante. Acho que está lançado o desafio para um projeto
"Pastilhas elásticas que não se colem ao chão", para também resolver o problema das mil pastilhas coladas no verso dos tampos das mesas e cadeiras das salas de aula!
Goreti
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