Estive bastantes vezes em Leiria, cidade que é conhecida por várias coisas. Vou falar de uma delas e deixarei as restantes para outros passeios químicos. Uma das coisas que me chamou a atenção foi a “Rota do Crime” que, como é óbvio, é a rota do “crime do padre Amaro” um livro de Eça de Queirós. Provavelmente esta rota já é antiga e não tem sido actualizada ou mantida [este texto foi escrito em 2020, mas houve desenvolvimentos em 2023] mas a pergunta que fiz inicialmente era se essa rota tinha Química? Claro que tem: a que possui e a que lhe falta.
Mais tarde percebi que esta rota, embora muito conhecida por todos, não era muito bem vinda na "sociedade" de Leiria. Porquê? Não era só por envolver crimes de padres, luxúria e morte. Não, que com isso podemos bem! Seria mais porque Eça foi lá administrador e quase todas as personagens, se não todas, são baseadas em alguém conhecido. Refiro só duas, o administrador sifilítico que fez versos em Coimbra e olha de forma (aparentemente) lúbrica para as mulheres que é baseado no próprio Eça e o Carlos da Farmácia, sendo que a farmácia é uma edificação que está em frente à sé e ainda existe, embora estivesse nas alturas que lá estive fechada. Mais, o Eça de Queirós terá sido corrido, diz-se, a pontapés de uma festa, por umas escadas de uma casa muito conhecida, em que este teria feito avanços em relação a uma senhora ou menina também bem conhecida. Algumas pessoas dizem que este quis vingar-se. Talvez. A verdade é que se colocou a si mesmo na história de forma pouco abonatória, embora com bastante liberdade ficcional, penso. [Voltei a rever o livro em 2024 e uma coisa que salta à vista é o seu humor]
No “crime” identifiquei vários aspectos químicos. Desde logo os aspectos químicos que não tínhamos. Não havia antibióticos nem nada que se parecesse. Esse aspecto, o da falta das coisas que hoje nos parecem óbvias, apesar de toda a conversa e filosofia, é realçada de forma premonitória por várias das personagens. Só existiam, para a sífilis, sais de mercúrio, os quais são referidos aos longo da obra. E, finalmente, a condição de que morreu Amélia (a pre-eclâmpsia que não desapareceu com o parto). Por essa altura, morria-me muito nos partos, as mães e, sobretudo, os filhos. A mortalidade infantil chegava aos 30% e uma infecção, hemorragia ou aumento da tensão arterial da mãe poderiam significar a morte.
Além dos aspectos literários e de costumes, quase todos os locais do livro são identificáveis e por isso podemos fazer um roteiro. Mas podemos encontrar outras coisas, como a química. Em breve voltarei a Leiria para referir outros aspectos.
[Translation, semi-automatic, corrected]
Chemical trails in Leiria: the Route of the Crime (of Father Amaro)
I have been in Leiria many times, a city that is known for many things. I will talk about one of them and leave the rest for other chemical trails. One of the things that caught my attention was the “Rota do Crime” which, of course, is the “crime of Father Amaro” route, a book by Eça de Queirós. Probably the assigned route is already old and has not been updated or maintained but the question I asked initially was whether that route had chemistry? Of course, it has; the one it possesses and the one it lacks.
Later on, I realized that this route, although well known by all, was not very welcome in the "society" of Leiria. “Because?” - you ask. It wasn't just because it involved crimes of priests, lust, and death. No, with that we can cope well! It would be because Eça was there administrator and almost all the characters, if not all, are based on someone known. I only mention two, the syphilitic administrator who wrote verses in Coimbra and looks at women in a (supposedly) carnal manner, which is based in Eça and Carlos, owner of a pharmacy in front of the cathedral that still exists, although it was, at the time that I was there, closed. Furthermore, Eça de Queirós is said to have been expelled, by the foot, at the stairs of a well-known house, in which he made "advancements" to a well-known lady or girl. Some people say that he wanted to take revenge. Perhaps. The truth is that he put himself in the story in an unappealing way.
In the “crime” I identified several chemical aspects. First, the chemical aspects that we did not have. There were no antibiotics or anything like that. This aspect, that one lacks things that seem obvious to us today, appear in some of the conversations and philosophy, in a premonitory way, by several of the characters. There was only, for syphilis, mercury salts, which are referred throughout the work. And, finally, the condition that Amélia died (the pre-eclampsia that did not disappear with childbirth). By that time I was dying a lot in childbirth, mothers, and especially children. Infant mortality reached 30% and an infection, hemorrhage, or increased blood pressure could mean death.
In addition to the literary and customs aspects, almost all the locations in the book are identifiable and this is why we can make a route. But we can find other things, like chemistry. Soon I will return to Leiria to mention other aspects.
[Primeira versão de 25 de Setembro de 2020, corrigi alguns aspetos depois de publicar, como o nome da amante de Amaro que não é Amélia]
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