A religiosidade popular é muito forte em Nápoles. Por exemplo, li num artigo, que nas catacumbas do cemitério de Fantanella (fechado quando lá fomos) há caveiras que são veneradas. E, claro, há o San Gennaro que duas vezes por ano arrasta multidões que vão ver o “milagre” do seu “sangue” sólido a liquefazer-se. Em termos estritamente científicos parece tratar de um efeito relativamente comum: os materiais tixotrópicos, ou fluidos não-Newtonianos, ficam mais fluidos com a agitação. É o que acontece aos iogurtes e outros materiais. Foi publicado um artigo na Nature que reproduz esse efeito e são feitas alguma considerações sobre os estudos que já foram feitos, alguns deles nunca publicados. Estes estudos são espectroscópicos e, embora os espetros sejam compatíveis com sangue, muitas coisas apresentam picos semelhantes, dizem vários autores. E, de facto, a ampola não foi aberta e estudado diretamente o seu conteúdo. O resultado não é em si um milagre, mas pode estar ligado a um milagre. Ciência e religião não são incompatíveis, pois a última tem a ver com fé. Num sentido mais lato e profundo, como escreveu São Paulo, um milagre é “a prova do que não se vê”. O busto de San Gennaro e várias outras estátuas são de prata que ficou enegrecida. Ao longo dos anos, a prata reage com o dióxido de enxofre e forma sulfureto de prata, que enegrece a prata à superfície. Seria possível recuperar o efeito prateado, mas as pessoas não estão habituadas a isso. Assim, o que se mantém é o tom acinzentado. Curiosamente, algumas das peças têm uma razoável quantidade de cobre o que deve ajudar a terem aquele aspeto acinzentado amarelado.Na capela de Sansevero era proibido fotografar, mas eu trouxe o catálogo e tirei algumas fotografias ao catálogo. Nesta capela está a famosa estátua do Cristo velado, onde o mármore parece ser transparente. Muitas das estátuas aqui presentes têm o mesmo efeito de transparência. Goethe referiu esse aspeto quase mágico do mármore. Nesse pequeno museu, podemos ainda observar o que é conhecido por “Máquina Anatómica”: dois esqueletos, um de uma mulher e outro de um homem, com o emaranhado de vasos sanguíneos. Inicialmente, pensou-se que o médico que fez isso, tinha descoberto formas de metalizar os vasos, mas as análises têm mostrado que aqueles que se analisaram são essencialmente de cera. O Príncipe de Sangro de Sanseveso, criador desta capela, inventor e alquimista, está envolto numa aura de mistério. Para aumentar esta aura, a pintura do seu retrato funerário sobre cobre, está bastante danificada. Uma das coisas que me surpreendeu em Nápoles foi a muito maior limpeza do que em Roma. As ruas eram sistematicamente limpas nas manhã e o aspeto era bastante bom. Havia muitos turistas nas ruas, mas não se sentia a sua pressão como em Roma. Vaguear pelas ruas de Nápoles é uma experiência interessante e a cada passo podemos ser surpreendidos. Há muitas pinturas nas paredes e chamou-me a atenção um mural enorme, nas traseiras da universidade de Nápoles, de Fidel Castro que tinha a sua imagem no espelho, como um isómero ótico de uma molécula. Há outro mural enorme com San Gennaro e, já referi, o “São Maradona”. Em todos sítios de Itália onde passei – Nápoles também se bebia um cocktail chamado Spritz de Aperol ou de Campari (mas menos). Só em Nápoles vi algo que parecia um altar ao “São Spritz”. Nápoles está muito perto do Vesúvio, o vulcão que foi responsável pela tragédia de Pompeia. Fomos lá de comboio, o que é bastante simples e barato. Cerca de 10% das pessoas não conseguiu fugir e morreram com a nuvem gases incandescentes e asfixiantes, tendo ficado soterrada pelas cinzas. Surpreendeu-me a forma como foram consolidadas as vítimas de Pompeia. Só descobri depois. Ao longo de centenas de anos, as partes moles dos seus corpos desapareceram, só ficando os esqueletos e os espaço vazio dos seus corpos nas cinzas, entretanto solidificadas. Um arqueólogo descobriu que vertendo cimento por orifícios podia recuperar as suas formas e é assim, basicamente, que são obtidos aqueles “vultos” tridimensionais das vítimas. Também não tinha bem essa ideia, mas ouvi um guia dizer isso e faz bastante sentido: Pompeia era uma cidade produtiva, havia algumas diversões, claro, mas não era o seu principal objetivo. Teve azar de ficar no caminho de um dos vulcões mais perigosos em atividade: o Vesúvio. Também ouvi um guia referir como o vermelho era precioso e dizer vermelhão nas paredes. Diria que não. Os vermelhos dos paredes devem ser de óxidos de ferro.A Sorrento fomos também de comboio (é na mesma linha) mas voltámos a Nápoles de barco. Há uma certa magia neste belo lugar turístico, mas as praias, para um português, são bastante cómicas e absurdas. São quase todas na forma de “lido” e paga-se para entrar e ter chapéu de sol e cadeiras num espaço minúsculo e quase sem areia, que é muito escura, devido a vir em boa parte de rochas negras de origem vulcânica.
O metro de Nápoles tem estações muito bonitas e diferentes. Acabou de inaugurada uma desenhada por Siza Vieira e Souto Moura (ainda não estava pronta quando lá estivemos).
Vou aqui referir a estação de metro que era conhecida como "a mais bela estação de metro do mundo" (agora diz-se que a mais bela é a mais recente). Esta, com luz e pequenos azulejos de pastilha, dá o efeito de uma galáxia, ou, com alguma imaginação, de início do universo. Achei muito curioso a Sociedade Italiana de Física ter ali também uma câmara de faíscas para visualizar a passagem de raios cósmicos. É essencialmente física, mas vou aqui referir como a química contribui para esses problemas fundamentais e aplicados com dois exemplos: para a deteção de matéria negra podem ser usados reservatórios de xénon que tem ser obtido com elevada pureza; para as janelas das naves espaciais, são continuamente desenvolvidos novos materiais e colas.Em Nápoles comi bacalhau fresco frito e gostei bastante. Para, um português, habituado à propaganda sobre o bacalhau e os portugueses, fiquei surpreendido, em 1995, altura em que este peixe era para nós pouco mais do que um trapésio espalmando, quando vi pela primeira vez bacalhau frito em Roma. Mas tratava-se de bacalhau fresco, um dos melhores peixes para ser frito, é certo, apesar de tudo (os melhores fish-and-chips dos ingleses são também desse peixe). Nós, os portugueses, por várias razões, até pela nossa pobreza até há relativamente pouco tempo, temos explorado as receitas que envolvem bacalhau salgado demolhado. Entretanto, das dificuldades nascem muitas vezes o engenho e as novidades. Nesse processo, as fibras do bacalhau, um peixe quase sem gordura, ficam mais firmes e com sabor mais complexo. A carne do peixe fica uma pouco mais amarela, mas mesmo ainda bastante branca, perdendo o branco imaculado do bacalhau fresco, mas ganha novos sabores e maior complexidade. Mas, embora tenhamos os sentidos abertos e atentos para essas subtilezas, recusamos muitas vezes a complexidade dos odores e sabores do peixe fumado por não os conhecermos. Essas recusas e desconhecimentos, deveriam diminuir quando viajamos com a mente aberta e vontade de aprender. E nisso, Nápoles, é também uma lição.[verified automatic translation]
Chemical trail in Naples, Pompei, and Sorrento
Naples is very close to Vesuvius, the volcano that was responsible for the tragedy of Pompeii. We went there by train, which is quite simple and cheap.
About 10% of the people were unable to escape and died in the cloud of incandescent and asphyxiating gases, having been buried by the ash. I was surprised by how the victims of Pompeii were consolidated. I only found it later. After hundreds of years, the soft parts of their bodies disappeared, leaving only the skeletons and empty spaces of their bodies in the ashes, meanwhile solidified. An archeologist discovered that putting cement through holes could restore their shapes and that's basically how those three-dimensional "figures" of victims are made.I didn't have this idea either, but I heard a guide say that and it makes sense: Pompeii was a productive city. There were some diversions, of course, but it wasn't their main objective. The city was unlucky enough to get in the way of one of the most dangerous active volcanoes: Vesuvius. I also heard a guide mention how precious red was and talk about vermilion on the walls. I would say no. The reds on the walls are probably iron oxides.We also went to Sorrento by train (it's on the same line) but we returned to Naples by boat. There is a certain magic in this nice tourist place, but the beaches, for a Portuguese, are quite comical and absurd. They are almost all in the form of a “lido” and you pay to get in and have a sun hat and chairs in a tiny space with almost no sand that is very dark, due to most of the black rocks of volcanic origin.The Naples metro has very beautiful and and very different stations. One designed by Siza Vieira and Souto Moura has just been inaugurated (it was not yet open when we were there).
I will refer here to what was knew as "the most beautiful metro station in the world" (now it is said the same about the most recent). This one, with light and small tiles gives the effect of a galaxy, and with some imagination, of the beginning of the universe. I found it very curious that the Italian Physical Society also had a spark chamber there to visualize the passage of cosmic rays. It is essentially physics, but here I will refer to how chemistry contributes to these fundamental and applied problems with two examples: for the detection of dark matter, xenon reservoirs can be used, which must be obtained with high purity; also for spacecraft windows, new materials and glues are always been developed.In Naples, I had fresh cod fried and I liked it. As a Portuguese, I used to listen to propaganda about cod and the Portuguese. So, I was surprised, in 1995, when the fish was for us little more than a flat trapeze, when I first saw fried cod in Rome. But it is fresh cod - anyway one of the best fish to be fried (the best fish-and-chips of the English are also of this fish). We Portuguese, for various reasons, including our poverty until relatively recently, have been exploring recipes that involve soaked salted cod. However, many ingenuity and novelties are born out of difficulties. In this process, the fibers of cod, an almost fat-free fish, become firmer and have a more complex flavor. The meat of the fish becomes a little more yellow, but even still quite white, losing the immaculate white of fresh cod, gaining new flavors and greater complexity. But although our senses are open and attentive to these subtleties, we often reject the complexity of the smells and flavors of smoked fish because we don't know them. These refusals and ignorance should diminish when we travel with an open mind and willingness to learn. And in this, Naples is also a lesson.
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