
Vale a pena visitar o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Para além dos aspectos histórios, tecnológicos, geológicos e botânicos que Artur Côrte-Real, coordenador da equipa de recuperação e dinamização do espaço do Mosteiro, não se cansa de realçar, há aspectos químicos dignos de nota. Nesta paragem chamo a atenção para a composição química das pedras e outros materiais usados na construção do mosteiro e ainda para a erosão química e física que estes foram sofrendo ao longo do tempo.
Nas paredes podem encontrar-se rochas cuja erosão e mistura de minerais são verdadeiramente surpreendentes. Por exemplo, na foto ao lado pode ver-se uma rocha carbonatada,1 que poderia ser um calcário (rocha cujo constituinte principal é o carbonato de cálcio, CaCO3) embora seja mais provável tratar-se de uma dolomia (rocha cujo constituinte principal é a dolomite, CaMg(CO3)2, carbonato duplo de magnésio e cálcio). Os veios cinzentos são provavelmente de calcite (CaCO3 quase puro com clivagem ortorrômbico perfeita), embora também pudessem ser de sílica, SiO2. Uma forma de ter a certeza seria riscar com um prego ou canivete para ver se o mineral dos veios é riscado; se isso acontecer não é sílica. Os visitantes estão proibidos de verificar pois trata-se de um monumento nacional!
Uma rocha que tenho a certeza ser pedra de Ânça (uma rocha calcária muito usada em trabalhos de escultura) é a do arco decorado ao estilo maneirista da foto ao lado. A facilidade com que esta pedra pode ser trabalhada tem como contraponto a sua sensibilidade à erosão e ao vandalismo.Interessantes são também alguns apectos das novas construções no espaço do mosteiro.
Por exemplo, a utilização de chapas de cobre nos telhados e o consequente aparecimento de manchas verdes de compostos deste elemento. A composição destes manchas é variável, sendo referidos [1] o carbonato básico de cobre (II), CuCO3⋅Cu(OH)2, o sulfato básico de cobre (II), CuSO4⋅3Cu(OH)2, ou ainda, em meios marítimos, o cloreto básico de cobre (II), CuCl2⋅3Cu(OH)2. Repare-se também na oxidação das placas de ferro usados como pavimento, a qual ocorre, de forma simplificada, segundo a reacção,
Fe(s) → Fe2+(aq) + 2e- → Fe3+(aq) + 3e-
E vale mesmo a pena reparar nas moedas atiradas ao lago. As de um, dois ou cinco cêntimos, apresentam manchas de ferrugem porque são na realidade feitas de ferro coberto de cobre e por isso se oxidam como as placas de ferro referidas acima. Note-se também, em alguns casos, junto a outras moedas que não contenham ferro, manchas verdes resultantes da oxidação do cobre.Muito haveria também para dizer sobre os azulejos da foto mais acima, mas fica para outra visita...
1Agradeço à Doutora Elsa Gomes as sugestões sobre o tipo de rocha, realizadas com base na foto.
[1] Peter Borrows, Education in Chemistry, September 1996, p. 120.
[Versão de 19 de Fevereiro de 2010. Última alteração 17 de Abril de 2010]
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