Em Copenhaga com Ørstead, com a Carlsberg, com Legos e muito mais

Hoje vamos passear em Copenhaga, na Dinamarca. As fotografias são de 2019, mas fiz para este trabalho alguma investigação online mais recente.

Trata-se de uma cidade muito grande cheia de pontos de interesse químicos. Para começar, é de referir que a cerveja Calrsberg e o cientista dinamarquês Ørstead estão relacionados. Um dos primeiros donos da famosa destilaria foi aluno de Ørstead e criou um instituto (que ainda hoje existe) para realizar pesquisas cientificas. Ficou tão fascinado com o conhecimento científico que criou o “Instituto Carlsberg”.

 Alguns dos objetos mais emblemáticos que encontramos em Copenhaga foram oferecidos pelos donos da Carlsberg. Por exemplo, a estátua da pequena sereia ou as obras de arte do Gliptoteca Ny Carslberg. Neste museu, perto do famoso parque Tivoli, chamou-me a atenção as coleções de estátuas de mármore e as estátuas romanas. Sabe-se que essas estátuas romanas eram pintadas e neste museu fizeram uma réplica do que se esperaria, o que achei francamente bastante interessante.

Em frente à estátua da pequena sereia, veem-se as chaminés da Hofor, a empresa de energia e as instalações da Biofos, uma empresa que trata o lixo e os esgotos. As duas juntaram-se para fazerem projetos comuns que envolvem a sustentabilidade, usando lixos para produzir energia, entre muitos outros projetos que estão em desenvolvimento. Um bom exemplo na minha opinião. Não fomos a esse lado, embora tenhamos ido a lugares perto, que se podem considerar pós-industriais, para comer o que eles chamavam “street food”. Entretanto, uma rápida vista de olhos no “street view” mostra zonas mais desarrumadas, com lixo e pouco estéticas que normalmente os turistas não veem. Isso acontece em todo mundo não vale a pena endeusar uns e diabolizar os outros.

Na sede da Calrsberg, que estava em obras quando lá fui, podemos encontrar a porta dos elefantes e a chaminé torcida que um dos donos da Carlsberg achava um símbolo da beleza da ciência. Entretanto, foi no Instituto Calrsberg que criaram as principais estirpes de leveduras ainda hoje usadas. Fazer cerveja é um processo muito complexo que pode correr mal de muitas maneiras (mesmo muitas). Não é como o vinho que pode ser muito mais fácil. Também se pode fazer mau vinho, claro, mas o pior que pode acontecer é ficar um vinagre. Na cerveja, desde os maus cheiros a poder ficar completamente imprestável, quase tudo é possível. 


Em várias notas falei da produção de cerveja e não queria repetir-me. É preciso água e cevada fermentada de onde se obtém o álcool. O lúpulo é uma planta bastante comum (muitas vezes usado sob a forma de um prensado comercial) é usado para dar sabor amargo e, antigamente, para aumentar o período de conservação, origina muitos tipos de cerveja, nomeadamente as IPA. Nesse aspeto a Carlsberg tem sido muito conservadora, mudando muito pouco. Procurou inovar na utilização de corantes verdes mais sustentáveis quando passou a usar garrafas de plástico. Entretanto, generalizou-se a diabolização do plástico e parece que voltaram ao vidro e ao metal. Não investiguei ainda com mais profundidade, mas o resultado parece algo incongruente.     


Visitei Copenhaga antes da pandemia e os parques estavam cheios. Num dos parques há uma estátua de Ørstead. Este era um cientista completo. Era o que se chamava na altura um filósofo natural e encontram-se algumas semelhanças entre ele e Michael Faraday. Por razões religiosas, ou outras, era o que chamaríamos hoje em dia “boa pessoa”, mas é também um homem das “duas culturas”. Está muito ligado à Física, mas fez algumas descobertas ditas químicas. Terá sido ele o primeiro a descobrir o elemento alumínio, mas aceitou que Wholer reinvindicasse essa descoberta.

A Dinamarca é também muito conhecida pelos brinquedos conhecidos como “Lego” feitos de plástico, o ABS (acrilonitrilo-batadieno-estireno), muito resistente e com pigmentos muito coloridos. O plástico e os pigmentos continuam a ser alvo de muita investigação, nomeadamente na “Lego”.

Este país é também conhecido pela sua expansão marítima (a Gronelândia, embora tenha bastante autonomia, ainda está sob a sua jurisdição). O museu militar de Copenhaga, perto do conhecido “Diamante Negro”, que integra a antiga biblioteca nacional vale a pena ser visitado por isso. Com tempo poderemos também visitar a biblioteca antiga.

Copenhaga, e toda a Dinamarca que conheci, é o reino das bicicletas. Há também uma alegria de viver que se sente, além de um orgulho em ser dinamarquês, e isso tem muita química. Têm orgulho no seu parlamento, nas suas coligações e nos seus governos. E têm orgulho em terem parlamentares e governantes mulheres há muito tempo. O parlamento é visitável gratuitamente e eles, embora tenham algumas criticas em relação aos que os procuram para aproveitar do que têm para oferecer gratuitamente, continuam a ser relativamente abertos e confiantes. A chave do seu sucesso costuma ser apontada como sendo a confiança.

Os restaurantes da Dinamarca são famosos, havendo uma grande concentração de estrelas Michelin. E eles cultivam muito esse aspeto da sua cultura. Quando lá estive, havia grande promoção dos alimentos biológicos e sustentáveis. Fui a uma loja de café e chocolate, tudo sustentável, diziam eles. Caríssimo, claro. O que achei curioso foi a rigidez. Quando pedi açúcar para o café a empregada demorou a perceber e quando percebeu demorou muito tempo a trazer um copinho com açúcar. Talvez o café fique melhor sem açúcar, mas é uma combinação interessante de uma coisa muito amarga (o café) com uma coisa doce (o açúcar). Senti algo parecido no café do “Diamante Negro”. 

Perto de Copenhaga fica o Museu de arte moderna Louisiana, o qual deve ao seu nome à mulher do criador do Museu. Na altura que o visitei, estavam patentes além das exposições permanentes, uma de Pipilotti Rist entre muitas outras. Vivíamos tempos anteriores à pandemia e, em salas apinhadas, havia um grande número de conferências. Se não estou em erro, esteva lá nessa altura Michel Houellebecq que apresentou o seu livro “Serotonina”. É um autor amado e odiado que tem formação na área científica, na área da agricultura concretamente, e de que os personagens têm vidas em volta da ciência e da tecnologia. Do Museu de Louisiana, mostro uma instalação com próteses. Um dos flagelos de África são as guerras e os campos minados que continuam a ser perigosos depois do fim das guerras. É infelizmente demasiado comum crianças perderem pernas a ir buscar água, pois a água canalizada, e muito menos tratada, ainda não chegou a muitos pontos do globo. A qualidade de vida, assim como a escolaridade e a igualdade de género, nesses lugares, tem aumentado, mas não tanto como desejaríamos.

Viemos para Copenhaga da Suécia, pelo ferry que se liga a Elsinore e voltámos para a Suécia pelo túnel e ponte que liga os dois países. Em breve escreverei sobre a Suécia. 

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