Em 2019, quando chegámos à Noruega a coisa que nos chamou mais a atenção foram os contrastes. É um país rico com bastante petróleo, mas estimula as energias alternativas. Coisas novas misturam-se com coisas mais antigas ou rústicas. Veem-se muitos veículos elétricos Tesla, e, em Oslo, há muitos edifícios modernos. Estivemos lá só dois dias, portanto a nossa visão é muito parcial. Durante esse tempo, nunca usámos dinheiro físico. Em todos os sítios que visitámos só aceitavam cartões. Mesmo numa bomba de gasolina para pagar um pão. A casa onde estivemos, num fiorde, perto de Oslo, era muito cómoda e quente mas para se chegar lá tinha de se andar muito a pé. E a casa de banho era na rua.
Um investimento em veículos elétricos consistente, implica a criação de estruturas de carregamento e oficinas, para além de que para, serem mesmo redutores da emissão de dióxido de carbono, deverão consumir eletricidade que minimize a sua produção. Estima-se que a energia eólica e solar vá nesse sentido, mas é importante analisar todo o ciclo de produção. De qualquer forma, com centrais elétricas de ciclo combinado já se conseguem rendimentos de mais de 60% e os carros elétricos podem ter uma mecânica mais simples do que os de combustão interna. Além disso, muda-se a origem das possíveis fontes de poluição. Ainda não está longe de ser resolvido o problema das baterias.
Estivemos só um dia em Oslo. Nunca tínhamos ouvido falar do escritor Jo Nesbø, nem do restaurante Schrøder, onde um seu personagem, o detetive Harry, vai por vezes. Fomos lá parar quase por acaso e sentámos-nos num espaço que tinha uma placa com o seu nome. Entretanto, soubemos que vários dos nossos amigos eram leitores compulsivos desse escritor, traduzido em muitas línguas, inclusive em português, e um campeão de vendas. Comemos no Schrøder pratos simples, julgamos que tradicionais (eu, cavala cozida com batatas), mas a parte das bebidas foi algo estranha. Só havia cerveja sem álcool. As histórias, que conheci depois, de Jo Nesbø são complexas e violentas, tendo os criminosos e os detetives mentes tortuosas. Em boa parte, a análise química forense é fundamental, como em todos os livros do género. A química forense é uma área fascinante para o público em geral, mas é difícil explicar que é só uma parte aplicada da outra que não é considerada tão fascinante.
Fomos a seguir ao museu Edvard Munch (1863-1944), onde está exposta uma versão do seu quadro mais famoso, “O grito”. O museu ia mudar de instalações e tinha uma exposição sobre as vezes que foi assaltado e como roubaram ou tentaram roubar várias das suas obras. Munch foi diagnosticado com neurosífilis, mas ainda viveu quase quarenta anos depois, o que levanta algumas dúvidas sobre o diagnóstico. Em qualquer dos casos, a sífilis só passou a ser combatida com eficácia com o aparecimento da penicilina, que só ficou disponível para uso civil em 1945, depois da sua morte. Também não há notícia que tenha desenvolvido loucura séria (embora alguns dos seus quadros sejam muito tortuosos) a qual também era provável com esta doença. A malarioterapia, agora um tratamento histórico, foi desenvolvida para combater este tipo de loucura, pois o protozoário da malária combatia a sífilis. Nos hospitais psiquiátricos havia mosquiteiros! Henrik Ibsen (1828-1906), um dos mais famosos dramaturgos noruegueses, escreveu sobre os efeitos desta doença em “Espectros”, associando esta doença a comportamentos devassos, o que nem sempre era verdade.
Ao atravessar um parque, notámos bastantes identificações de plantas. Curioso foi reparar numa publicação sobre as plantas infestantes. As plantas que eram infestantes na Noruega não são em Portugal, e as que estavam em extinção lá, podem ser cá pragas. Esses aspetos muitas vezes não são suficientemente conhecidos do público que pode ver as plantas infestantes como universais e imitáveis, assim como pode pensar, por vezes, haver só algumas. Ora não é assim. As plantas têm diferentes ações em climas e locais diferentes. Isso devia chamar-nos a atenção para o facto de que também a química é muito mais complexa e rica do que parece.
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