Passeio químico em Portimão

Em Portimão havia muitas fábricas de conservas e uma delas foi transformada no museu da cidade. Estas indústrias foram iniciadas por estrangeiros, no final do século XIX, as de sardinhas por franceses, na sequência de diminuição  da quantidade de sardinha na Bretanha, e as de atum por italianos. 

Chegaram a existir muitas fábricas de conservas em Portimão, as quais tiveram grande procura na primeira guerra mundial. Mas durante a segunda guerra mundial, o embargo à importação da folha-de-flandres de França e Inglaterra, a qual era usada para fazer as latas de conserva causou alguns constrangimentos. A  folha-de-flandres é basicamente uma chapa fina de ferro coberto com uma camada de estanho e era usada para fazer conservas. Numa primeira fase, estas latas tinham de ser feitas e soldadas por trabalhadores especializados. Penso que essa solda não deveria ter chumbo, ou que tivesse muito pouco, tendo apenas estanho, para evitar o envenenamento com este metal, mas não tenho a certeza. A chamada "solda" é uma mistura de 30% de chumbo com 70% de estanho (valores que baixam o  ponto de fusão da liga) e era usada para regadores, bacias, etc. Atualmente, nas fábricas que ainda restam, as latas  começaram a ser de alumínio, mas voltaram ao ferro (podemos ver isso com um íman - dos cinco tipos de lata de conserva que tinha em casa, só um era de ferro), mas têm agora outros revestimentos, nomeadamente vernizes, e já não se usa solda, sendo a abertura fácil feita criando uma zona que se quebra facilmente. No museu de Portimão podemos acompanhar os processos que eram utilizados para fazer conservas.

O lugar onde foi instalado o centro comercial Aqua, era uma antiga fábrica de conservas da qual se conservam as chaminés num jardim próximo. Não verifiquei se foram preservados os baixo relevos a entrada fábrica, como era referido no relatório de conformidade ambiental, mas imagino que sim.

Numa rua, perto do centro comercial, encontrei um curioso anúncio à utilização de lasers de picosegundo para tatuagens. Antes de mais o que é um picosegundo? É um sobre um milhão de milhões de segundos. Nesse tempo curtíssimo ocorrem alguma vibrações moleculares e podem-se estudar moléculas e radicais que existam durante tempos muito curtos. É muito usado em investigação, nomeadamente fotoquímica. Se quisermos usar tempos ainda mais curtos, temos de ter equipamentos mais complexos, mas já se consegue chegar ao fentosegundo (mil vezes mais rápido que o anterior) e apanhar as moléculas numa vibração e podemos ir a tempos ainda mais curtos, ao nível do attosegundo (mil vezes mais rápido que o anterior, ou um mihão de vezes mais rápido do que o laser de picosegundo), em casos muito particulares.    

E o que é um laser? Se há abreviatura mais conhecida é esta. Laser é a abreviatura de light amplification by stimulated emission of radiation. Neste, a luz tem um comprimento de onda bem definido (é normal haver lasers vermelhos ou verdes), mas essa luz, além de ter um comprimento de onda bem definido, está em fase (todos as ondas se somam em vez de se perturbarem) e é colimada (todos os raios de luz são paralelos). Isso faz com que o lasers sejam bastante perigosos pois a radiação tem grande intensidade e enorme focagem. Curiosamente, a ideia do laser começou por parecer não ser possível por, aparentemente, poder violar o princípio da indeterminação. Mas afinal era possível e não violava de maneira nenhuma esse princípio. Os lasers são muito usados em química. Alguns exemplos são o fornecimento de energia às moléculas de forma muito precisa ou a deteção da energia e tempos de vida que têm com grande precisão (que já referi), entre muitos outros. Como isto se obtém é razoavelmente complexo, mas a ideia é mais ou menos simples. Levados a estados de maior energia os fotões (as partículas de luz) voltam ao estado fundamental, mas neste caso há um contínuo forçar a ir para estados excitados e na volta aos estado fundamental os fotões  estimulam outros fotões a irem também para o estado fundamental, resultando na amplificação estimulada que o nome indica.    

Num caminho para a Praia dos Três Irmãos encontrei sumagre. Aqui, há alguns séculos, reduziam as flores deste arbusto a pó e exportavam o produto. Este, era usado para curtir as peles pois tem muito tanino. Atualmente, há outros processos, mas Portugal já foi um grande exportador deste produto obtido desta planta que existe do Algarve até Trás-os-Montes.

Até ao século XVII era também colhido coral na costa, mas devido à pirataria e outros problemas que não identifiquei, esta atividade caiu em desuso. Os corais são animais que parecem plantas, muito coloridos, sendo os seus esqueletos de carbonato de cálcio como seria de esperar, mas as cores vivas vêm de caroteno e outras moléculas. Se forem apanhados ainda novos é possível preservar essas cores. Por exemplo, do tesouro da Rainha Santa, consta uma joia de cor muito vermelha que ainda hoje é impressionante.

Havia também muitas salinas e moinhos de maré em Portimão, que são hoje essencialmente memória. Nos anos 1960 com a explosão do turismo de massas as Praia da Rocha, que já se chamou de Santa Catarina, e que era das mais belas (ainda é) teve muitas procura. Os elegantes chalés nas falésias deram lugar a uma grande pressão urbana para alimentar um turismo de massas que se desenvolve até aos dias de hoje. Atualmente, há muito mais atrações. O Algarve não é só praias. Nos percursos naturais, bem marcados, é possível observar muitas plantas e formações geológicas. Em destaque os algares, fossos verticias que resultam da ação das águas mais ácidas com a formação de buracos nos arenitos moles. São formações muito belas, nos quais as cores dos arenitos amareloss e castanhos quase vermelhos são devidos a sais de ferro.

São também interessantes as memórias dos fumeiros, armazéns onde se secavam os figos e frutos secos. Manuel Teixeira Gomes, que dá nome a uma escola, natural de Portimão, foi o último presidente da república, antes do estado novo. Poeta, escritor e viajante, durante poucos meses tratava dos negócios e o resto do tempo viajava e escrevia. Todos esses frutos secos deram origem a doces regionais bem conhecidos como os Dom Rodrigos, os morgados e os queijos de figo, por exemplo.

No Alvor, na Estada do Vale da Lama, estão instaladas aquiculturas e produções de ostras. Na verdade, a produção de ostras e outros bivalves sempre foi uma tradição nesta região, segundo li.

 

Bibligrafia

Maria da Graça Mateus Ventura, Maria da Graça Maia Marques, Portimão, Editorial Presença, 1993.

Fernando Santos Graça, Alvor com História, Junta de Freguesia de Alvor, 2020.


[versão preliminar de 8 de janeiro de 2022]

 

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