Captação de água e canalização desta para consumo humano

[no âmbito da realização de um estágio Ciência Viva fui visitar a central de captação de água da Boavista]

A água consumida em Coimbra é captada na Boavista a cerca de vinte metros de profundidade. Esta água é filtrada pela areia e é já muito boa. Por isso não precisaria de correções, mas, no entanto, é aumentada a sua acidez arejando-a com dióxido de carbono. Daqui segue para vários concelhos, onde é distribuída por empresas municipais.

Perceber a acidez da água é simples. Na ausência quase total de dióxido de carbono e na presença de algum bicarbonato de sódio (nome popular do hidrogenocarbonato de sódio) temos águas básicas como a de Monchique que atinge muitas vezes 9.5 de pH. Podemos atingir valores de acidez ainda mais baixos (ou de basicidade ainda mais altos). Em Cabeço de Vide, no Alentejo, podemos encontrar águas com pH de cerca de 11.5 unidades [corrigi um lapso] 

Entretanto podemos ter bastante sílica, na verdade silicatos, nas águas. A descrição das rochas com estes iões é bastante enganadoras para um químico. Elas são ditas “rochas ácidas” em geologia, mas continuam a ser básicas, em termos químicos, são é menos básicas do que as outras [1]. Assim, uma água com muitos silicatos e praticamente nenhum bicarbonato pode ainda ser básica, mas se tiver muito dióxido de carbono dissolvido, será ácida. Quando ainda não havia esta quase loucura com as águas básicas, havia uma água que fazia questão colocar em vermelho que o seu pH era de 4.5. Agora já não fazem essa publicidade, mas vê-se no seu rótulo que o pH que lá está é 5. Eu beberia de qualquer destas águas. A única questão é algumas das águas poderem ser muito mineralizadas e isso ser prejudicial.

Há algum tempo atrás algumas águas faziam a publicidade de serem radioativas. Uma eram realmente, mas em quantidades que não seriam preocupantes, mas outras pensamos que era só para serem mais apelativas. Publicidade enganosa antiga.

O cloro, numa concentração que não conseguimos detetar, é juntado mais tarde não para corrigir a água mas para manter a proteção desta ao longo da rede. Na rede podem existir contaminações e para evitar que a água fique com bactérias usa-se esse cloro. Ainda não foi descoberta outra forma de proteger a água ao longo das redes, mas com um controlo e higiene rigorosos, essa adição pode ser muito minimizada. Neste momento, em muitos municípios, toda a rede é monitorizada regularmente assim como os contadores individuais, minimizando as perdas. Muitas vezes, um momentâneo sabor a “lixívia” é devido a uma rotura próxima que é assim tratada para evitar a contaminação. É preciso também não esquecer que os episódios da bactéria Legionela são muitas vezes devidos à falta se desinfeção de sistemas antigos.

Não falei neste pequeno apontamento do saneamento e das águas pluviais. Não falarei aqui desse aspeto, apenas lembrar que muito do que é feito é conduzir a natureza para agir de forma mais rápida, nomeadamente tratando a água que vem das nossas sanitas. E que muitas vezes nem damos valor a coisas tão simples como a água canalizada e tratada e ao saneamento básico. Mas estas duas coisas evitam muitas doenças.   

[1] W. A. Deer,  R. A. Howie, J. Zussman, Minerais constituintes das rochas. Uma introdução, 3ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.    

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