Passeio químico pela reciclagem e valorização dos resíduos [A chemical trail through recycling and waste recovery]

[No âmbito da organização de um estágio Ciência Viva fui à ERSUC  - Resíduos Sólidos do Centro observar o que se fazia em Coimbra em relação aos lixos e à reciclagem]

A nossa primeira observação, antes de encontrarmos quem nos ia receber, foram os canos que saiam do aterro sanitário. Aventámos que eram para recolher metano. É verdade, mas é mais interessante como veremos a seguir.

Depois de uma pequena conversa onde nos falaram dos passos futuros, nomeadamente a separação do lixo orgânico, e onde tivemos oportunidade de esclarecer algumas dúvidas, fomos visitar a instalação industrial. Uma das primeiras coisas que nos disseram foi que aquilo que víamos não era lixo, mas matéria-prima. É muito curiosa esta observação pois a sustentabilidade ecológica depende também dessa interiorização profunda da economia circular. 

Embora estivesse em obras, pudemos visitar o local onde é descarregado o lixo indiferenciado. Eles têm alguma capacidade de separar vidro, metais e plásticos desse lixo, usando cilindros giratórios de onde sai a matéria orgânica por pequenos orifícios, ficando estes materiais retidos nos cilindros e que depois podem ser separados (isso não vimos). Imagino que alguns desses resíduos estejam contaminados e sejam difíceis de reciclar, mas em relação ao vidro e metal parece-me que não será difícil. A matéria orgânica segue para grandes silos, onde é produzido metano. Não pudemos fotografar por haver pessoas a trabalhar (um compromisso que aceitámos foi não fotografar os trabalhadores). Este gás é depois conduzido para a produção de energia elétrica, a qual é injetada na rede nacional. O que sobra da matéria orgânica é um adubo que, depois de analisado, pode ser usado em jardins e árvores (mas não, por imposição legal, na produção direta de plantas hortícolas). Finalmente, o que sobra de tudo isto, vai então para o aterro sanitário. Como pode ainda haver alguma matéria orgânica, é recolhido ainda um pouco mais de metano (daí os tubos).

Seguimos depois para os recicláveis. A separação é feita por uma combinação de ação manual e automática, havendo vários pontos em que esta separação é repetida e reverificada. O aparelho automático de separação que vimos, estava calibrado para PET (Politereftalato de etileno) de que são feitas as garrafas de água. “Calibrado” significa que era identificado pelo seu espetro, provavelmente infravermelho. Na separação manual era também separado o metal, embora creio que os tipos de metais que mais interessam (o alumínio e o ferro) possam ser separados de forma automática (o último por magnetismo simples e o primeiro de uma forma mais complicada).

Na ERSUC fazem a separação do PET que esteve em contacto com óleo (por exemplo as garrafas de azeite) e soluções aquosas (água e refrigerantes, por exemplo). Neste momento já é possível usar o PET com óleo, disseram-nos, mas tem de ser separado. Havia também fardos com alumínio (o metal mais precioso) e ferro. Era também aí que separavam as embalagens de Tetra Pak que são os próprios fabricantes de reciclam. Foi-nos dito que não é preciso lavar as embalagens, basta despejar o conteúdo.

O vidro e o papel é mais fácil de separar e tratar e acabámos por não ver essa parte com tanta atenção. Mas devemos notar os papéis com gorduras e plastificados que não podem ser reciclados. Uma nota sobre os ditos “copos de papel.” Para que estes possam ser usados em líquidos quentes como café, têm uma pequena camada de plástico e não são recicláveis. Só podem assim ser valorizados como CDR (combustíveis derivados de resíduos). Isso eu já sabia e dá para entender que muito do que “dizem” as empresas de fast-food é apenas propaganda. E também sabia que nos países do norte e noutros locais que referem quase ou mesmo 100% de reciclagem, contam a valorização dos CDR como reciclagem. O que não sabia, mas percebi quando fiz a visita, é que os sacos compostáveis são para eles um problema. Como a matéria orgânica é usada de forma imediata, estes sacos não têm tempo de se decompor, ficam nos cilindros e não são recicláveis. Isso fez-me recordar que é preciso envolver todos os atores numa solução que pensamos propor.

Uma nota final sobre o que ainda vai parar ao aterro. Só vai para lá o que não pode ser reciclado nem valorizado. Como o aterro é estanque e ainda há alguma matéria orgânica residual, a água de lixiaviação é recolhida e analisada, passando por um sistema de osmose inversa antes de chegar ao coletor dos esgotos. Os resíduos que ficam da osmose inversa são considerados  materiais perigosos e tratados de acordo. Muito gente já ouviu falar de osmose inversa, mas sabe o que é? Na osmose normal existem membranas (pode ser uma parede celular) que só deixam passar água mas não sais e moléculas. Como os dois dados da membrana procuram estar em equilíbrio há entrada de água para a parte mais concentrada. Na osmose inversa usam-se bombas para realizar o processo contrário, saindo a água e ficando os sais e moléculas no lado onde estão mais concentradas.   

Devo dizer que gostei. Há de facto separação e reciclagem, algo que já sabia, mas por vezes é contestado. Estes materiais têm bastante procura pelas empresas, criando um circuito de economia circular e concorrência, assegurando a sustentabilidade do sistema. Mesmo quando o utilizador não faz separação, as empresas de lixos conseguem fazer alguma separação, mas isso não é ótimo. De qualquer forma, a separação é fundamental para eles, uma vez que precisam da matéria orgânica para obter o metano de onde obtêm eletricidade e adubos verdes.          

[verified semi-automatic translation]

[In a Ciência Viva internship I went to ERSUC - Solid Waste of the Center to observe what was being done in Coimbra about waste and recycling]

Our first observation, before finding out who was going to receive us, was the pipes coming out of the landfill. We suggested they were to collect methane. It is true, but it is more interesting as we will see below.

After a short conversation where they told us about the future steps, namely the separation of organic waste, and where we had the opportunity to clarify some doubts, we went to visit the industrial facility. One of the first things we were told was that what we saw was not garbage, but raw material. This observation is very curious because ecological sustainability also depends on this deep internalization of the circular economy.

Although it was with work, we were able to visit the place where unsorted waste is unloaded. They have some ability to separate glass, metals, and plastics from this waste, using rotating cylinders from which organic matter comes out through small holes, with these materials being retained in the cylinders from where they can then be separated (we didn't see that). I imagine that some of this waste is contaminated and difficult to recycle, but the glass and metal seem to me that won't be difficult. The organic matter goes to large silos, where methane is produced. We couldn't take pictures because people were working (a compromise we accepted was not to photograph the workers). This gas is then used in the production of electricity, which is injected into the national network. What is left of the organic matter is a fertilizer that, after being analyzed, can be used in gardens and trees (but not, by legal imposition, in the direct production of horticultural plants). Finally, what's left of all this then goes to the landfill. As there may still be some organic matter, a little more methane is collected (hence the pipes).

Then we move to the recyclables part. Separation is done by a combination of manual and automatic action, with several points at which this separation is repeated and rechecked. The automatic sorting device that we saw was calibrated for PET (Polyethylene terephthalate) from which plastic water bottles are made. “Calibrated” means that it was identified by its spectrum, probably infrared. In manual separation, the metal was also separated, although I believe that the types of metals that are most interesting (aluminum and iron) can be separated automatically (the latter by simple magnetism and the former in a more complicated way). Probably they have this separation.

At ERSUC, they separate PET that has been in contact with oil (for example, olive oil bottles) and aqueous solutions (water and soft drinks, for example). It is now possible to recycle PET with oil, we were told, but it has to be separated. There were also bales with aluminum (the most precious metal) and iron. It was also there that the Tetra Pak packaging was separated, which the manufacturers themselves recycle. We were told that there is no need to wash the packaging, just empty the contents.

Glass and paper are easier to separate and treat, and we ended up not seeing that part so closely. But we should note that greased and plasticized papers cannot be recycled. A note also on the so-called “paper cups.” To be used in hot liquids like coffee, they have a small layer of plastic and are not recyclable. They can thus only be valued as CDR (fuels derived from waste). This I already knew and you can understand that a lot of what fast-food companies “say” is just propaganda. I also knew that in northern countries and other places that report almost or even 100% recycling, they count the recovery of CDRs as recycling. What I didn't know, but realized when I did this visit, is that compostable bags are a problem in some cases. As the organic material is used immediately, these bags do not have time to decompose, remain in the cylinders, and are not recyclable. This reminded me that it is necessary to involve all the players in a solution that we intend to propose.

A final note on what will still end up in the landfill. Only what cannot be recycled or recovered goes there. As the landfill is watertight and there is still some residual organic matter, the leaching water is collected and analyzed, passing through a reverse osmosis system before reaching the sewage collector. Waste left over from reverse osmosis is considered hazardous material and treated accordingly. A lot of people have heard of reverse osmosis, but do you know what it is? In normal osmosis there are membranes (can be a cell wall) that only let water pass but not salts and molecules. As the two sides of the membrane try to be in equilibrium, water enters the more concentrated part. In reverse osmosis pumps are used to carry out the opposite process, making the water get out and leaving the salts and molecules on the side where they are more concentrated.

I must say I liked the visit. There is indeed separation and recycling, something I already knew, but is sometimes disputed. These materials are in high demand by companies, creating a circuit of circular economy and competition, ensuring the sustainability of the system. Even when the user doesn't do separation, garbage companies manage to do some separation, but that's not great. Nevertheless, separation is critical for them, as they need organic matter to get the methane from which they get electricity and green manures.

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