[Aproveitando que fui a um congresso em Florença, e era a primeira vez que ali estava, procurei, nas horas vagas, muitas vezes muito cedo, o que até era bom, pois estava muito calor, andar pela cidade e tomar notas para um percurso químico]
Algo que não me ocorreu logo, foi a perfumaria tradicinal. Na rua de S. Nicolò (onde estava instalado) encontrei duas lojas de mestres de perfumes e há também um museu (ao qual não fui). Nessa rua, fica também um pequeno museu da joalharia, que vi aberto uma vez, mostrando complexos mecanismos de relógios e outras coisas. Esta rua fica muito perto da emblemática Ponte Vecchia, na qual, no filme “O perfume”, um mestre perfumeiro tem a sua loja. A ideia básica da química dos perfumes é bastante simples e envolve moléculas que causam sensações nos recetores olfativos, mas os detalhes de todo esse processo são muito complexos. Há um conjunto de moléculas mais voláteis que dão as notas de topo do perfume. São os álcoois, aldeídos e cetonas dos aromas florais e de frutas, entre outros. Algumas moléculas mais pesadas e menos voláteis dão as notas centrais. Finalmente, moléculas mais pesadas e ainda menos voláteis dão as notas ditas “de baixo” que demoram mais tempo a extinguir-se. Nestas, está, por exemplo, as moléculas do âmbar cinzento, que era obtido dos intestinos do cachalote, ou o odor da glândula anal da civeta. É referido no “Moby Dick” que “se as senhoras soubessem de onde vêm os seus perfumes mais caros!” Hoje em dia, esses materiais têm equivalentes sintéticos por razões éticas e de sustentabilidade, entre outros. Mas, até ao desenvolvimento das moléculas sintéticas, tudo era obtido da Natureza “clássica”, quer de plantas quer de animais. O desenvolvimento de moléculas sintéticas veio permitir a criação de novos aromas (moléculas desconhecidas na Natureza “clássica”) e permitir aos mestres perfumeiros criar perfumes únicos que podiam usar moléculas patenteadas (as quais não podiam ser usados por outros em perfumes sem pagar direitos). Agora, na Ponte Vecchia, há lojas de ouro e joalharias. Em tempos, por debaixo, no rio fazia-se o tratamento de couros, o qual, como se pode imaginar, causava cheiros nauseabundos. Mudaram para outros locais e o tratamento dos couros já não é visível pelo público. Mas, hoje em dia, ainda há muitas lojas de artigos em couro em Florença. E é visitável também uma escola da catedral. Estava a pensar numa coisa diferente e encontrei lá mais um conjunto de lojas. Esse é um dos problemas do turismo de massas. Há muitas lojas e restaurantes e muita pressão sobre os espaços. Que me lembre, foi a única vez em que não entrei numa biblioteca (por não serem permitidas visitas). Estive na Biblioteca Pública de Nova Iorque ou na antiga biblioteca pública de Copenhaga, no Diamante Negro, mas em Florença, não. Um amigo meu italiano disse-me que deveria ser como em Veneza. Haver um número limitado de turistas que podem entrar. Talvez. É que em Florença, com tanta gente, nem dava para sentir o clássico sindroma de Stendhal ao ver a beleza rodeada de tantos turistas.Voltando aos couros. O cheiro do couro tratado é agradável e muito diferente dos cheiros envolvidos na sua produção. Nós humanos habituámo-nos a achar esse cheio agradável. E aqui está uma coisa em que a natureza “clássica” pode ser melhor do que as nossas imitações artificiais. Um couro bem tratado dura anos, mesmo usado intensamente, enquanto isso, não inventámos ainda, que eu saiba, polímeros que tenham essa performance. Chamou-me a atenção a imensa paleta de cores. Hoje em dia com corantes sintéticos é muito mais fácil. Mas no tempo dos Medici todos os corantes existentes eram de origem natural.
A parte mais importante e complexa do curtimento das peles é a estabilização da estrutura das fibras de colagénio com taninos vegetais, iões de crómio ou outros agentes químicos. Portugal foi em tempos um exportador importante de uma planta muito usada, o sumagre. Mas antes disso, há que extrair os pêlos e outros materiais biológicos e fazer vários tratamentos que fazem com que as fibras de colagénio se modifiquem e encolham, criando uma estrutura mais aberta. E isso é muito mal cheiroso! Essa maior abertura das fibras permite a passagem de gases que popularmente se designa por “o couro respirar”.
Florença era, na altura da maior glória dos Medici, um sítio muito rico e atrativo, para onde os artistas e artesãos ocorriam em grande quantidade. Toda a gente sabe que aqui podemos encontrar obras de Giotto, Leonardo da Vinci, Miguelangelo, entre outros Foi também, nesta cidade, que viveu Dante e Galileu, por exemplo.Em Florença há muitos museus, claro. O museu Galileu ficava perto de onde estava instalado e visitei-o. Quase toda a gente conhece a história de Galileu Galilei, mas Bertold Brech nas várias versões da peça, especialmente na última, publicada após a sua morte, conseguiu evidenciar muito bem as várias facetas envolvidas. O museu é baseado essencialmente em duas coleções de instrumentos. A coleção de instrumentos de química do século XVIII é impressionante, mas sofre da clássica falta de alguns instrumentos de vidro. É fácil de perceber pois estes eram muito frágeis e ao longo do tempo desapareceram ou foram adaptados. Tem uma coleção de termómetros muito boa. O visitante pode dar-se conta de que a medição da temperatura era muito mais complexa do que é hoje. Podemos também ver uma banca de perfumeiro, com todos os seus frasquinhos.As rochas são também muito interessantes nesta cidade. Florença é um paraíso geológico, diria! Podemos ver estátuas que aproveitam variações de materiais para dar efeitos das roupas e dos cabelos, por exemplo. Há muitas estátuas de mármore muito branco. O chão, em muitas partes, é coberto por uma pedra que é impropriamente chamada mármore rosa. As igrejas têm aquele ar característico devido a terem riscas de uma rocha verde, uma serpentina. Há calcários cinzentos, castanhos e de outras cores. Muitas ruas são também pavimentadas com esse calcário cinzento bastante irregular o que de certa forma diminui a velocidade dos carros e dos motociclos (em Florença há muitos).Na Piazza Della Signoria, onde fica também a Galleria Degli Uffizi, uma cópia do David de Michelangelo troça, de certa forma, do Neptuno, que é conhecido por “il Biancone.” Muitas estátuas de mármore da ruas estão algo cinzentas devido, imagino, às partículas de carbono no ar e ao pó. Nalgumas estátuas a acumulação desses materiais, por exemplo, no nariz, dava efeitos algo cómicos.
As serpentinas são rochas que têm na sua composição química (aproximada) três iões de magnésio para um silicato e quatro iões de hidróxido, Mg3SiO3(OH)4. O seu nome deriva de terem aspeto de pele de serpente. Têm três formas principais: lizardite, de cor verde, antigorite, de cor azulada, e crisólito, de cor amarelada. Nas serpentinas verdes, alguns átomos de magnésio são substituídos por átomos de ferro. O crisólito é muito “famoso” por dar origem ao amianto, mas não é essa a rocha usada em Florença.
O vermelho é um calcário de grão muito fino conhecido entre os geólogos por Rosso Ammonitico dada a grande quantidade de amonites fósseis que contem. O branco é mais conhecido por mármore de Carrara e é muitas vezes calcite quase pura, uma forma de carbonato de cálcio, CaCO3.
Há ainda mais algumas pedras calcárias que chamam a atenção em Florença. O castanho usado em muitas construções conhecido por “Pietraforte” e um calcário cinzento mais usado em detalhes e decorações, a “Pietra Serena”. Segundo um artigo que li estas pedras estão bem conservadas pois os artesãos escolheram as melhores, mas encontrei em vários sítios rochas menos bem conservadas, em particular as cinzentas. Finalmente, há uma forma de calcário com desenhos e cores variadas, a “Paesina”. Essa capacidade de usar as cores é muito útil. Fui ao Museu da Pedra Dura, onde com muita paciência e trabalho conseguem reproduzir ou produzir quadros complexos juntando pequenos pedaços de rochas com as cores adequadas.Tenho de voltar a Florença!
[verified semi-automatic translation]
[Taking advantage of the fact that I went to a congress in Florence, and it was the first time that I was there, I tried, in free hours, many times very early in the morning, which is good, because it was very hot, walking through the city and take some notes to a chemical trail]
Something that didn't occur to me, is that exists still in Florence, traditional perfumery artisans. On the street of S. Nicolò (where I was installed), I found two shops of masters of perfumes and there is also a museum (to which I did not go to). This street also has a small jewelry museum, which I saw open once, showing complex clock mechanisms and other things. This street is very close to the emblematic Ponte Vecchia, in which in the film “Perfume: The Story of a Murderer", a perfume master had his shop.The basic idea of the chemistry of perfumes is quite simple. It involves molecules that cause sensations in the olfactory receptors, but the details of this whole process are very complex. It is the set of more volatile molecules that give the "top" notes of the perfume. These are alcohols, aldehydes, and ketones of floral and fruit aromas, among others. Some heavier and less volatile molecules give the "central" notes. Finally, much heavier molecules, even less volatile, give the notes “from below” that are extinguished in longer time. In this group, there are the molecules of amber, which were obtained from the intestines of sperm whales, or the odor of the anal gland of the civet. As referred on “Moby Dick”: “if the ladies know the origin of their most expensive perfumes!” Nowadays, these materials have synthetic equivalents due to ethical and sustainability reasons, and others. But, due to the development of synthetic molecules, Other things are possible. One is no longer be obliged to obtain perfumes from “classical” nature, both from plants and from animals. The development of synthetic molecules allowed also the creation of new aromas (unknown in “classic” nature) and allowed master perfumers to create unique perfumes that could also have patented molecules (which could not be used by other perfurmers without paying fees).Now, in Ponte Vecchia, there are gold shops and jewelries. Times ago, bellow this bridge, in the river, it was made the treatment of leather, which as we can imagine, can cause fools smells. This work moved to other locations and is not visible to the public. But, nowadays, there are still many stores of leather articles in the heart of Florença. And we may also visit the cathedral school about leather. I thought of a different thing, like a museum, and found also stores. This is one of the problems of mass tourism. There are many shops and restaurants and a lot of pressure on the spaces. It was the first time, that I did not entered in a library (because visits are not allowed). Am Italian friend told me that it should be like Veneza. One has a limited number of tourists that can enter in the city. Perhaps. In Florence, in summer, there are so many people, that is not possible to feel the classic Stendhal syndrome.Returning to leather. The smell of finished leather is significantly different from the smells involved in its production. Also, humans are accustomed to the smell of finished leather as agreeable. And this is a thing where "classical" nature can do better than our artificial imitations. We have not yet invented polymers that have this performance, I think. It called my attention also the immense palette of colors. Today, with synthetic colors, it is much easier to obtain it. At the Medici time, all were of natural origin.
The most important and complex part of leather tanning is the stabilization of the collagen fiber structure with vegetable tannins, chrome oxides, or other chemical agents. Portugal was once an important exporter of a widely used plant for this, the sumac. In the beginning of leather treatment, it is necessary to extract the hairs and other biological materials and carry out various treatments that cause the collagen fibers to be modified and shrink, creating a more open structure. This larger opening of the fibers allows the passage of gases that is popularly known as the "respiration of leather."
Florence, at the time of Medicis greatest glory, was a very rich and attractive place, where artists and craftsmen came in great quantity. Everyone knows that here we can find works by Giotto, Leonardo da Vinci, and Michelangelo, among others. It was also in this city that lived Dante and Galileu, for example.
In Florence, there are many museums, of course. The Galileo museum was close to where I was installed, and I visited it. Almost everyone knows the story of Galileo Galilei, but Bertold Brech, in the various versions of the play, especially in the last one, published after his death, managed to highlight the various facets involved. The museum is essentially based on two instrument collections, it has an impressive collection of chemical instruments from the XVIII century, but also suffers from the classical lack of some. It is easy to understand, as these were very fragile and over time they disappeared or were modified. It has an impressive collection of thermometers. The visitor may from it realize that temperature measurement was much more complex than it is today. We can also see a perfume stand, with all the little bottles. The museum has much more things related to maps, physics instruments, etc. The rocks are also very interesting in this city. Florence is a geological paradise, I would say! We can see statues that take advantage of variations in materials to give effects to clothes and hair, for example. There are many very white marble statues. The floor, in many parts, is covered with a stone that is improperly called pink marble. The churches have those characteristic looks because they have stripes of green rock, a serpentine. There are grey, brown, and other colored limestones. Many streets are also paved with a rather irregular gray limestone, which in a way slows down cars and motorcycles (there are many in Florence).In Piazza Della Signoria, where the Galleria Degli Uffizi is also located, a copy of Michelangelo's David somehow "makes fun" of Neptune, which is known as “il Bianconi.” Many marble statues on the streets are somewhat gray due, I imagine, to carbon particles in the air and dust. In some statues, the accumulation of these materials, for example, on the nose, gave somewhat comical effects.
Serpentines are rocks having in their approximate chemical composition three magnesium ions, a silicate, and four hydroxide ions, Mg3SiO3(OH)4. Their name derives from their appearance of snakeskin. They have three main forms: lizardite, which is green in color, antigorite, which is bluish, and chrysolite, which is yellowish. For the green streamers, magnesium atoms are replaced by iron atoms. Chrysolite is also very “famous” for giving rise to asbestos, but this was not the rock used in Florence.
Red comes from a very fine-grained limestone known among geologists as Rosso Ammonitic given the large number of fossil ammonites it contains. White is best known as Carrara marble and is often pure calcite, a form of calcium carbonate, CaCO3.
There are even a few more limestones that catch the eye in Florence. The brown is used in many constructions known as “Pietraforte” and gray limestone is more used in details and decorations, the “Pietra Serena”. According to an article I read, these stones are well preserved because the artisans chose the best ones, but I found, in some places, less well-preserved rocks, in particular the gray ones. Finally, there is a form of limestone with different designs and colors, the “Paesina”. This ability to use the color of rocks is very good. I went to the Pedra dura museum, where with a lot of patience and work they can reproduce complex paintings by joining small pieces of rocks with the appropriate colors.
I visited several parks and there was some vegetation and trees in the streets by the river. The access to the Arno River was closed at least in the places I saw, except for a small river beach where there was no one. The river seemed low and have infesting vegetation (in fact, I saw a sign warning on infesting plants in a park). People used canoes and the few boats I saw moved using poles like the gondoliers of Venice. There were a lot of ailanthuses (as well as here in Portugal) infesting everything. I wasn't too impressed with the greenery, but Florence isn't known for it. There were lots of linden trees in the streets and the hedges were cherry laurel, which is poisonous because it has amygdalin. In one place I found, in addition to the cherry laurel hedges, rosemary, and oleander trees.I have to go back to Florence!
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