A ciência e a
técnica modernas são feitas em grande parte recorrendo a enormes
equipamentos (cada vez mais precisos e mais pequenos quando é
possível), com grandes equipas de pessoas e estruturas, envolvendo
muito dinheiro para salários, equipamentos e consumíveis. É assim.
Os cientistas, como os outros, não vivem de ar e fazem trabalhos
cada vez mais complexos e exigentes. A estabilidade é importante mas
também a formação que é feita com a investigação em contextos
cada vez mais exigentes. A ciência custa caro, dirão, mas
experimentem a ignorância. E os retornos em formação e avanços
científicos valem muitíssimo mais. Posto esta introdução, que
deveria ser óbvia e explicada todos os dias, poderemos ensinar,
motivar e dialogar recorrendo a equipamentos mais simples. Muita da
ciência pode e deve ser entendida com objectos do dia-a-dia.
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Tenho levado frascos pequenos de plástico do género
dos tubos de ensaio com tempa com materiais que servem para
experiências simples. Por exemplo, colocando umas pétalas de rosa
vermelha em álcool e depois distribuindo por soluções de ácido
clorídrico ou básicas, de amoníaco, ou ainda de um sal de
alumínio, obtém-se respectivamente, cor de rosa, vermelho intenso,
verde e roxo e poderemos explicar os rudimentos dos efeitos do pH e
dos metais nas cores dos compostos químicos. Obviamente as soluções
podem ser perigosas e devem ser sempre tratadas com cuidado e
rolhadas. Também um caderno de micas ou um projector portátil (ao
fim do dia ou à noite) são uma excelente ajuda para explicar os
aspectos mais complexos. Por outro lado, temos de estar abertos a
problemas e novidades. Temos de estudar as espécies envolvidas:
funciona com as rosas, hortenses e agapantos roxos e com outras, mas
não funciona com os cravos de Tunes nem com os pimentos! Em vez de
entrar em pânico e dizer coisas não-científicas, será uma óptima
oportunidade para explicar como funciona a ciência. O inesperado faz
parte dos avanços. Melhor se for controlados e planificados. Por
outro lado, poderemos saber muitas outras coisas sobre as moléculas
e a sua forma com os equipamentos que referi no princípio: os
cromatógrafos para separar e os espectrómetros de massa e de raios
X, os espectrómetos de fluorescência, de infravermelho e
visível-ultravioleta, e de ressonância magnética que identificam,
entre muitos outros. Alguns destes equipamentos já são portáteis
ou podem ser incorporados nos telemóveis, por exemplo. São no
entanto ainda muito caros e especializados, perdendo-se a
simplicidade e capacidade de reprodução que se procurava. De
qualquer forma, basta pegar na folha de uma planta para irmos
encontrar moléculas que não foram ainda identificadas ou entrar num
laboratório de química para encontrar muitas outras ainda a ser
inventadas.
Tubos de ensaio com
hexano são mais difices de obter mas podem ser usados para dissolver
pastilhas elásticas e alcatrão derretido pelo calor. Temos nesta
actividade muito pontos para referir, claro, mas é importante a
separação das fraccões solúveis e não soluveis dos
hidrocarbonetos. Referir como eles podem ser obtidos, entre outros
aspectos. Por outro lado as pastilhas elásticas dissolvem-se e
revelam que o seu negro vem do carbono do ar e da sujidade. Podemos
aqui falar da química das pastilhas e das crostas negras dos
monumentos, entre muitas outras coisas.
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Se tivermos um tubo
com solução de bário identificamos os sulfatos que precipitam com
este ião. Podemos entretanto aquecer ao rubro o mesmo material e ver
a cor das chamas características do cálcio. Podemos medir o pH das
soluções tanto com um aparelho como com indicadores. Entretanto,
muitas paredes têm pós brancos de gesso que se formam a partir dos
óxidos de enxofre e podem ser distinguidos dos carbonatos e dos
nitratos. Se estes últimos forem de potássio, podemos observar a
sua cor lilás quando queimados.
Comecei também a
levar nitrocelulose em pequena quantidade a qual permite muitas
actividades. Um tubo de ensaio (neste caso de vidro) aquecido explode
e projecta a rolha (que tenho presa com um fio para a voltar a
encontrar). Sem o limite do tubo de ensaio arde rapidamente e
desaparece. Chamo aqui a atenção para várias coisas: como funconam
os explosivos e de como os componentes para os fazer são vigiados e
os testes que podem fazer nos aeroportos para os detectar. Em
particular, a água oxigenada muito concentrada, os adubos e o ácido
nítico, são vigiados.
Levo comigo também
modelos moleculares de plástico. Já percebi há muito tempo que as
pessoas gostam de tocar nestes objectos maravilhosos e flexíveis.
Agora é diferente, com o isolamento social e as restrições, mas
posso usá-los para mostrar coisas.
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Tenho um modelo do
ácido ascórbico (vitamina C). Explico, com base na sua estutura,
como pode ser oxidante e ser muito solúvel. Tenho também comigo uma
maçã com um rótulo. Este tem muitos compostos, incluindo o ácido
ascórbico. Usando um tubo de ensaio com uma solução de vitamina C,
outra de bicarbontato de sódio e uma solução muito diluida de
sulfato de cobre e ainda do corante azul de metileno posso observar a
descoloração pela redução. E posso volta a ter azul com a
agitação a qual aumenta a mistura com o ar e a reacção com o
oxigénio. Estes tubos de ensaio provocam sempre muitos risos devido
à agitação e podem ser usados durante muitos ciclos de mudança de
cor.
Tenho um modelo de
molécula de ambróxido, um cachalote de plástico, um tubo com
ambróxido, que é um sólido branco, perfumes que têm o âmbar
cinzento. Tenho um modelo molecular do indigo para explicar como este
pode ser estável e como pode ser mais solúvel ou mudar de cor com
grupos laterais. Nesse ponto falo dos projectos de investigação que
envolvem o indigo. Na verdade, acabo por fazer isso com todos os
modelos. Tenho um modelo molecular da penincilina G e mostro como
este pode ser modificado para se obter a ampilicina e a amoxilina.
Aproveito para contar uma parte da história do desenvolvimento
destas moléculas semi-sintéticas, porque é que precisamos delas e
porque continuamos as investigá-las. Tenho também um modelo do
oseltamivir, uma das primeiras moléculas a ser desenvolvidas,usando
química a computacional e o desenvolvimento racional de fármacos.
Tenho tubos com diferentes aromas: sintéticos e naturais. Tenho
metais e materiais, e muito mais. Tubos com materiais fluorescentes e
que outros que quebrados emitem luz por quimioluminescência. Uma
caneta de ultravioleta que tem também uma parte de solução de iodo
(a qual serve para identificar notas). Tenho papéis que fluorescem e
têm amido e outros não. Posso também pedir notas aos
intervenientes e explicar como estas são feitas e como é feita a
sua segurança. Tenho isto e ando sempre a procurar mais. A
utilização vai variar com o passeio químico programado e com os
níveis envolvidos, claro.
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