Hoje vamos passear pelas coisas que não podemos ver. Como é isso possível? Não as vemos, mas podemos detectá-las! E quase todos os sabem: não é por não as vermos que são mais perigosas. Não
o são. Se o fossem eram-no para todos e estavam proibidas.
Podemos detectá-las
e vê-las de forma indirecta de várias maneiras. Toda a gente já
ouviu falar de coisas invisíveis a olho nu como bactérias, vírus, ondas
electromagnéticas [1] e electricidade, por exemplo. As
primeiras não eram conhecidas até Pasteur, mas poderiam ser
detectadas de forma indirecta. Agora podem ser vistas directamente,
usando microscópios e corantes, por exemplo. Os vírus eram uma
teoria que só no meio do século vinte foi confirmada com os
microscópios electrónicos. Como é bem sabido, as bactérias e
os vírus estão em todo o lado, mas alguns destes, em número suficiente e modos especiais, podem causar doenças, e, todos eles acabam por causar
transformações, boas ou más, sendo detectados assim ou de outras
formas. Mas mesmo assim, os actuais testes de amplificação
de DNA são morosos e hoje só demoram algumas horas porque temos modernas
máquinas e computadores. Claro que deveremos saber que embora as bactérias e virus sejam
invisíveis são bastante grandes à escola molecular. São complexas
fábricas moleculares, usando máquinas moleculares que são as
proteínas e trocando muitas moléculas. Também as ondas electomagnéticas
podem não ser visíveis mas todos os dias as utilizamos nas televisões e
telemóveis. Vemos as suas antenas e aparelhos, os quais usam ondas
invisíveis com energias baixas, electricidade e electrões que não
se vêem, como é sabido, mas fazem funcionar coisas podem ser medidas e detectadas.
Vou-vos aqui falar
de alguns outras coisas que não se vêem mas podem ser facilmente
detectadas. Não me refiro à televisão que vêem todos os dias ou
ao telemóvel (mas já agora já aproximaram uma lupa do ecrã destes
ou um iman dos ecrâs?), nem à electricidade que pode ser sentida
nas fichas (não o façam, claro). Falarei de outras
coisas que podem ser detectadas sem serem vistas. A luz ultravioleta
do Sol, por exemplo, não se vê, mas pode causar queimaduras e
ionizar os materiais. Podemos detectá-la com espectofotómetos,
claro, mas podemos ver os seus efeitos quando activa moléculas que
fluorescem no visível ou em materiais que fosforecem também no
visível [2]. A luz ultravioleta vai fluorescer a água
tónica, o amido e os branquadores ópticos e vão fosforecer os
relógios e alguns anúncios de emergência. Um efeito espetacular é
o da clorofila verde que fluoresce em vermelho e isso é unsado nos
satélites. Devido ao efeito das radiações ultravioleta
queimamos-nos ao sol, temos mais cataratas nos olhos e o branco das
camisas e papéis parece mais branco. Uma água tónica à janela
fica mais azulada mesmo sem lâmpadas ultravioleta, as conhecidas
lâmpadas de luz negra. Como são radiações ionizantes matam os
micróbios mas também nos provocam danos, claro. Assim, não devemos
olhar para elas e devermos usar óculos de protecção.
Para o Sol
bastam óculos de sol. Se estes óculos polarizarem a luz temos
efeitos interessantes que não se podem ver sem eles. Por exemplo os
vidros duplos vão aparecer mais roxos e os vidros temperados
notam-se aos quadrados da têmpera (para que estes de despedacem mais
facilmente). Podemos assim, com uns óculos de luz polarizada
distinguir os vidros dos carros antigos e modernos. Actualmente, à
frente usam vidros duplos quando antigamente usavam vidros
temperados. Mas com energias abaixo do vermelho que também não
vemos, temos o infravermelho e as micro-ondas. Estas não são
ionizantes mas podem aquecer como é sabido mas só em grandes
quantidades. Sem qualquer risco podem ser ser usadas para medir temperaturas, por exemplo. Não as vemos, mas nos comando e nos telemóveis elas estão lá. Podemos usar a câmara de um telemóvel (que detecta uma parte da radiação infravermelha) para ver a luz de um comando, por exemplo. Mas como já expliquei, não as vermos, não quer dizer que nos façam mal.
Mais simples ainda
são as moedas de um a cinco cêntimos. Parecem ser de cobre mas por
dentro são de ferro e por isso apresentam propriedades magnéticas.
Por outro lado nem todo as ligas de ferro são magnéticas. Podemos
experimentar simplesmente com um íman em diferentes materiais. E
como cientistas podemos fazer uma tabela, controlar as variáveis e
chegar a conclusões.
Um dos grandes
paradoxos da história da ciência, segundo Butterfield, é que
as maiores revoluções da astronomia aconteceram antes da descoberta
do telescópio e as da medicina, ainda segundo este autor, antes do microscópio. Não acho que seja bem assim (as
simplificações são sempre abusivas) mas mesmo a teoria dos vírus
apareceu muito antes de os podermos ver. Tal como as maiores
descobertas da mecânica surgiram da observação dos fenómenos do
dia a dia. Por outro lado, as mais complexas e decisivas experiências
podem não convencer quem não quer acreditar nelas, mesmo alguns
cientistas. A ciência e a técnica não são perfeitas e também têm
os seus paradoxos, mas usam isso a seu favor e desenvolveram um método
que ainda não foi ultrassado de se corrigir sem dogmatismos e
argumentos de autoridade ao longo do tempo no que concerne às coisas
que se podem testar e que existem (só dessas é que trata a ciência).
Entretanto, nada é
eterno, nem nós, nem as bactérias, nem os vírus, nem as moléculas.
Tudo se transforma, tudo muda, tudo morre e renasce. E não basta existir. Para
causarem mal ou bem as moléculas e virus têm de ter uma determinada quantidade, que ao nível
molecular é muito grande. A toxina da botulina, por exemplo, é o
composto mais tóxico conhecido (é uma proteína natural) e pode
causar infecções mortais numa quantidade ínfima, mas quando esta
quantidade é ainda menor pode ser usado para as rugas no conhecido
botox.
[1] Há duas coisas a
considerar as ondas electomagnéticas: a frequência e a intensidade.
Se a frequência for abaixo do visível, cuja energia mais baixa é o
vermelho, são infravermelhos, microondas, ondas de rádio, entre
outros nomes e não podem causar ionização. Só podem, quando
muito, se forem muito intensas, causar aquecimento local, mas isso é
rigorosamente vigiado e conhecido. Se tiverem uma frequência acima
do visível, do violeta, são ultavioleta, raios X, ondas gama, ou
outros nomes, e são ionizantes. São rigorosamente vigiadas, algumas
delas operadas só por especialistas. Tudo isto se aprende no ensino
básico e, não, não há nenhuma conspiração. Milhões de
cientistas e especialistas sem nada que ver uns com os outros, de
diferentes países e formações, dificilmente poderão estar todos
enganados e não saber uma coisa que só um pequeno grupo de algumas
dezenas julga saber. A ciência aplica-se às coisas que se podem
verificar e não é, nem tem de ser, democrática mas há coisas em
que o consenso é em termos práticos absoluto.
[2] A diferença principal é que a fluorescência acaba quando
cessa a perturbação, enquanto que a fosforecência se mantém depois de
acabar a excitação. Também os materiais envolvidos são em geral diferentes.
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