No quadrado central do Jardim Botânico podemos encontrar um arbusto com uma história interessante relacionada com o desenvolvimento de herbicidas e fármacos. Designada por vezes como árvore das escovas vermelhas, limpa garrafas, o Callistemon citrinus é um arbusto que este ano floriu em Junho e que no que no final de Julho já deve estar sem flores.
A procura de novos compostos herbicidas é uma das tarefas mais importantes de Investigação e Desenvolvimento (I&D) nas companhias agroquímicas. O desenvolvimento de novos compostos herbicidas começa, em geral, com a descoberta de compostos (designados lead) com propriedades interessantes que possam servir de guia para a produção de compostos análogos com propriedades mais efectivas.
Partindo da leptospermona (figura ao lado [2]), composto presente nas raizes deste arbusto e que tem propriedades herbicidas, mas não é adequada para a produção comercial, a Syngenta desenvolveu compostos mais potentes, entre os quais se encontra a mesotriona [1], usada como herbicida específico para o controlo de ervas daninhas na produção de milho.
Mas a contribuição deste arbusto não fica por aqui. A leptospermona e a mesotriona inspiraram uma outra molécula (a nitinisona, na qual o grupo -SO2CH3 da mesotriona é substituido por um grupo -CF3), inicialmente também desenvolvida como herbicida, mas que é agora usada no tratamento de uma doença hereditária rara.
Para além destas aplicações já conhecidas, outras moléculas extraídas deste arbusto estão a ser estudadas como potenciais agentes antibióticos contra infecções multi-resistentes. Refira-se que a descoberta de novas moléculas que possam funcionar como leads para o desenvolvimento de fármacos é também um dos objectivos mais importantes da investigação em Química Médica.
Parece demais para uma planta só? De facto, sabe-se que muitas destas moléculas estão presentes também noutras plantas. Em qualquer dos casos, os químicos estarão lá para analisar, estudar, sintetizar e desenvolver o que for necessário com vista a melhorar o futuro da humanidade.
[1] Derek Cornes, Callisto: a very successful maize herbicide inspired by allelochemistry (página acedida em 9/7/2009)
[2] Entender as representações bidimensionais das moléculas usadas pelos químicos é uma arte que se aprende com algum treino. Os símbolos químicos do carbono e do hidrogénio são muitas vezes omitidos; os carbonos da molécula são indicados pelos vértices e pelas ligações entre si (simples, duplas, ou triplas); os hidrogénios ligados aos carbonos são subentendidos com base nas quatro ligações possiveis de cada carbono. Os outros átomos (oxigénio, enxofre, azoto, etc.) são representados pelos seus simbolos químicos.
[última alteração: 17/7/2009]
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