Percurso inicialmente idealizado para ser realizado no dia 22 de Julho de 2009 entre as 12:00 e as 13:00, integrado na Universidade de Verão da UC. Posteriormente foi realizado no âmbito das actividades do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra no programa Trilhos, tendo tido uma razoável cobertura pela imprensa, nomeadamente nos jornais As Beiras, Jornal de Notícias, Diário de Coimbra e Semanário Sol, e ainda em muitas páginas pessoais e institucionais da net. Foi ainda adaptado para o programa da final das Olimpíadas da Química Junior realizada em Coimbra.
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(PQ-UC) Mapa do Percurso Químico na Universidade de Coimbra
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(PQ-UC) Química da Porta Férrea e das pedras que a rodeiam
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O ferro é um metal. Quase toda a gente consegue identificar um metal, mas o que é um metal? Porque distinguimos os metais dos outros materiais? Por agora podemos ficar com uma ideia simplista: um metal é um material, em geral elementar, mas pode ser um composto, que é bom condutor de electricidade. Cerca de 80% dos elementos químicos podem ser obtidos sob a forma de materiais metálicos elementares e são classificados como metais.
Mas voltemos ao ferro que é um metal muito sensível à degradação por corrosão. De facto, a camada de óxidos de ferro (a que vulgarmente chamamos ferrugem) não forma uma superfície protectora que impossibilite a continuação da degradação e por isso uma peça de ferro que esteja a sofrer corrosão acaba por se transformar apenas em ferrugem que acabará por ser levada pelo vento, ou pela chuva. E já todos devem ter visto latas, carros, ou ferramentas velhas aos quais esteja a acontecer esse fenómeno.
A Porta Férrea já tem quase quatrocentos anos e não se nota que esteja, para além de uma camada superficial de ferrugem, muito corroída. Porquê?
Uma das explicações é que o ferro exposto ao ar e mantido seco, não sofre corrosão significativa. Para haver corrosão é necessário, para além do oxigénio do ar, que haja humidade (aliás, se em vez de apenas água, forem soluções com sais, ou ácidas a corrosão será ainda mais rápida) e ainda que existam zonas do ferro relativamente protegidas do ar. Sendo uma porta que deixa passar as correntes de ar, mesmo quando está fechada, está também mais protegida da corrosão!
Outra possível explicação, que me foi indicada pelo Professor Victor Lobo, será a presença de fósforo e arsénico na composição do ferro da porta, a qual poderá ser devida aos processos de produção deste material à época. Assim, a presença destes elementos contribuiria para a maior resistência à corrosão. É de referir que essa explicação é actualmente a que se considera mais relevante para justificar a resistência à corrosão da famosa coluna de Delhi.
Consideremos as reacções químicas envolvidas. A oxidação do ferro, propriamente dita,
Fe(s) → Fe2+(aq) + 2e- → Fe3+(aq) + 3e-
só ocorre se houver água, ou soluções aquosas em contacto com o ferro numa zona relativamente protegida do ar que funcione como ânodo. Os electrões libertados fluem pelo metal para as zonas mais expostas ao ar e água onde ocorre a reacção de redução (cátodo)
O2(g) + 2H2O(l) + 4e- → 4OH-(aq)
Os iões hidróxido e ferro (III) difundem-se pela solução e acabam por formar um precipitado de óxido de ferro (III) hidratado (a ferrugem),
2Fe3+(aq) + 6OH-(aq) → Fe2O3⋅H2O(s) + 2H2O(l)
É importante notar que o ferro sofre corrosão significativa em zonas pouco oxigenadas e portanto normalmente pouco visíveis, mas que poderão ser as zonas por debaixo da ferrugem que já se formou, debaixo da pintura, zonas de contacto com as paredes, etc. No caso da presença de fósforo, poderá haver a formação de uma camada protectora de FePO4⋅H3PO4⋅4H2O entre o metal (com fósforo) e a ferrugem à superfície. É digno de nota que os químicos, ao longo dos tempos, têm desenvolvido muitas formas de minimizar a corrosão, mas isso é o assunto de outra paragem no nosso passeio.
E quanto à pedra? É, no presente caso, uma rocha calcária denominada pedra de Ançã. Trata-se de uma pedra relativamente mole, constituída em grande percentagem por carbonato de cálcio. Esta pedra, contrariamente a outras rochas ricas em minerais carbonatados, como o mármore, é muito porosa e mais sensível à degradação. Embora a erosão física causada pelo vento e pela chuva seja importante, a erosão química causada pelas chuvas ácidas e pelos gases emitidos pelos carros terá sido ainda pior. De facto os ácidos provocam a degradação rápida do calcário de acordo com a reacção química,
CaCO3(s) + 2H+(aq) → Ca2+(aq) + H2O(l) + CO2(g)
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E voltando à pedra mole. Os químicos em colaboração com os engenheiros têm contribuído para o desenvolvimento de métodos de preservação deste tipo de rochas nos monumentos em que se encontram, através, por exemplo, de tratamentos de consolidação e impermeabilização baseados em polímeros e resinas muito pouco reactivos.
Bibliografia:
Peter Borrows, Education in Chemistry, May 1995, p 62.
Peter Borrows, Education in Chemistry, May 1994, p 63.
Carlos Ruão, Monumentos, vol 8, p 26, 1997.
Ana Paula Ferreira Pinto e José Delgado Rodrigues, Monumentos, vol 8, p 114, 1997.
Virgílo Correia, Biblos: Revista da FLUC, vol 8, p 501, 1932.
R. Balasubramaniam, Corrosion Science, 42, 2000, 2103-2129.
[Versão de 4 de Setembro de 2009. Última alteração 22 de Maio de 2010]
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(PQ-UC) Há química no ar e no céu
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A atmosfera é constituida por cerca de 78% de azoto, 21% de oxigénio e 1% de outros gases. Estes números referem-se ao que é designado por ar seco, ou seja sem vapor de água, pois a percentagem de vapor de água pode variar bastante (1 a 4%) nas camadas mais baixas da atmosfera. Estes gases são transparente à luz visível [1], mas são responsáveis pela cor do céu e do pôr do sol. A radiação solar é difundida em todas as direcções (embora nalgumas um pouco mais) pelos gases e poeiras da atmosfera e essa difusão é maior para os comprimentos de onda da radiação visível de cor violeta e azul. Como os nossos olhos são mais sensíveis ao azul é essa a cor do céu que vemos quando olhamos para o céu, mas não na direcção do Sol (o que é muito perigoso!). E o pôr do sol? Nesse caso já estamos a olhar aproximadamente na direcção do Sol através de uma camada muito maior de atmosfera e a radiação que vemos é a que restou após difusão pelos gases e poeiras. E o nascer do Sol, porque não costuma ser tão espectacular? Também pode ser, mas é mais raro, pois de manhã há menos poeiras e a sucessão de cores é ao contrário.
E porque está o céu cinzento por vezes? Pela mesma razão que as nuvens são brancas. As gotículas de água presentes nas nuvens e no céu enevoado difundem todos os comprimentos de onda múltiplas vezes. E podem ser cinzentas se lhes chegar menos luz vinda do Sol.
[1] O vapor de água e a água líquida absorvem ligeiramente na zona do vermelho o que faz com que um grande volume de água tenha uma cor azulada. Embora esse facto possa contribuir para a cor das grandes massas de água, costuma ser indicada como principal causa da cor da água do mar, rios e lagos, o reflexo da cor do céu em conjunto com efeitos subtis de absorção e difusão da luz devidos à matéria orgânica e inorgância dissolvidas.
[Versão de 22 de Julho de 2009]
(PQ-UC) Aloe Vera: serve para tudo ou para nada?
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Embora os aloés dos canteiros das Químicas não sejam Aloe Vera, encontrei num jardim de Coimbra os exemplares da foto ao lado que julgo serem mesmo Aloe Vera.
Para além da questão da utilização de produtos naturais como medicamentos, sem tomar em consideração que podem ter efeitos secundários, neste caso verifica-se que é também relevante o problema da identificação correcta da planta. A química medicinal e o desenvolvimento de novos medicamentos, devem, por isso, envolver equipas multidisciplinares de químicos, farmacêuticos, bioquímicos, botânicos, biólogos e médicos.
[1] O aloés que estão nos canteiros das Químicas não são, como estava implícito na versão inicial, Aloe Vera. Trata-se, se não estou em erro, de Aloe Arborescens, uma planta muita vezes confundida com a anterior, não raras vezes também por curandeiros populares, a qual não tem as mesmas características medicinais da Aloe Vera.
[2] A. Lee, P.T. Chui, C.S.T. Aun,T. Gin, A.S.C. Lau, Possible Interactions between Sevoflurane and Aloe Vera, The Annales of Pharmacotherapy, 38 (2004) 1651.
[versão inicial de 20 de Julho de 2009; correcções de 23 de Junho de 2012]
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(PQ-UC) Garcia d'Orta, Amato Lusitano e a Química Medicinal
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Este livro de Orta, escrito sob a forma de um diálogo, revela um notável espírito científico baseado no método experimental [1]. Por exemplo, a propósito dos óleos essencias extraídos dos linaloés, Orta refere com grande perspicácia que estas substâncias podem ser encontradas na planta viva, não sendo devidas ao apodrecimento como muitos comentadores, mesmo posteriores, consideraram. Explicando que a ausência aparente do cheiro quando se cortava um ramo fresco seria devido à presença da casca grossa e ao facto de estas substâncias se encontrarem no lenho. Segundo Andrade Gouveia [1], o poder de observação de Orta fornece uma opinião muito válida e concordante com os conhecimentos actuais sobre os processos bioquímicos que têm lugar nas plantas.
[1] A. J. Andrade de Gouveia, Garcia d'Orta e Amato Lusitano na Ciência do seu Tempo, ICALP- Colecção Biblioteca Breve - Volume 102, 1985 (PDF disponível no Instituto Camões)
[versão de 9 de Março de 2010]
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(PQ-UC) Portas de alumínio e vidros
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O vidro é um dos materiais comuns mais inertes (menos reactivos) que conhecemos. O vidro comum é obtido por aquecimento a alta temperatura de uma mistura de silica e carbonatos de cálcio e sódio. Um pormenor interessante sobre o processo de produção de vidros de grandes dimensões é a sua solidificação ser realizada por flutuação sobre estanho fundido, cujo ponto de fusão é muito mais baixo (230oC) que a zona de temperaturas às quais o vidro solidifica, para garantir que este seja completamente plano. A partir dessas chapas podem ser criados os vidros temperados que são produzidos por aquecimento controlado das chapas de vidro e os vidros laminados.
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Mas voltando ao alumínio. As equação químicas permitem descrever em pouco espaço um grande conjunto de informações (as fórmulas químicas dos compostos, os seus estados físicos, o tipo de reacção química, etc.) Em contacto com o ar o alumínio pode sofrer a seguinte reacção espontânea,
4Al(s) + 3O2(g) → 2Al2O3(s)
Embora se possa também dar a reacção
2Al(s) + 3H2O(l) → Al2O3(s) + 3H2(g)
a sua extensão é, em condições normais, tão pequena que para efeitos práticos não tem relevância. No processo tradicional de anodização do alumínio explora-se esta última reacção de acordo com as semi-reacções
2Al(s) + 3H2O(l) → Al2O3(s) + 6H+(aq) + 6e-
6H+(aq) + 6e- → 3H2(g)
O ânodo da pilha é o local onde ocorre a deposição do óxido de alumínio, daí o nome anodização.
[Versão de 17 de Julho de 2009. Última alteração de 23 de Maio de 2010]
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(PQ-UC) Gases que usamos para nos aquecer e arrefecer
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O ar-condicionado moderno utiliza compostos, dentro de um mecanismo estanque que no exterior da habitação são comprimidos, passando do estado gasoso a líquido, aquecendo o meio exterior, e no interior da habitação são expandidos, passando do estado líquido ao de vapor, arrefecendo o meio interior. Os frigoríficos funcionam de uma forma bastante semelhante e este processo é muitas vezes descrito como bombear calor de dentro para fora da casa...
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Um outro gás que também é usado em refrigeração é o amoníaco [1]. Este foi aliás, antes do aparecimento dos CFC, um gás muito usado em sistemas de arrefecimento. No entanto, com o aparecimentos dos CFC, foi relegado para aplicações industriais devido à sua utilização ser menos prática. De facto, os equipamentos de refrigeração envolvendo o amoníaco são diferentes e mais complexos que os que envolvem os CFC, necessitando de um outro fluido, em geral água [2]. No entanto, o processo é bastante adequado para aplicações que usam energia solar ou o aproveitamento de energia térmica. Se a isso juntarmos que o amoníaco não contribui para a deplecção da camada de ozono e que a sua potencial contribuição para o aquecimento global é quase nula, poderíamos pensar que tinhamos todos os problemas resolvidos. Mas será mesmo assim? O amoníaco devido à sua toxicidade e perigo de explosão só é adequado para aplicações exteriores. Além disso é reactivo e corrói os tubos de cobre. Aliás, continua a ser considerado um poluente atmosférico na União Europeia...
E, surpresa: mais recentemente têm sido desenvolvidos sistemas que usam dióxido de carbono como gás refrigerante.
O gás da botija azul da fotografia é o propano, que se encontra, na realidade, no estado líquido; na forma de um gás de petróleo liquefeito (GPL). Em alguns países, as botijas de gás butano podem ter uma percentagem razoavelmente alta de propano. Porque será? Bem, o butano tem um ponto de ebulição normal de -0.5oC e o propano de -42oC.
E quanto ao cheiro? Toda a gente sabe que estes gases não têm cheiro. O cheiro a gás vem de um um composto de enxofre, em geral etanotiol (composto com uma estrutura idêntica ao etanol, com o átomo de oxigénio substituido por um de enxofre).
[1] Agradeço aos alunos da Universidade de Verão terem-me alertado para a referência à utilização do amoníaco em sistemas de refrigeração que consta dos programas de Físico-Química.
[2] Embora inicialmente tenha suspeitado que uma pequena torre que se via na zona da Universidade era um refrigerador de amoníaco, tal não se confirmou. Verifiquei depois que na zona de Coimbra existe este tipo de refrigeração em fábricas de processamento de carnes, como a Probar.
[versão de 28 de Julho de 2009. Última alteração de 27 de Abril de 2010]
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(PQ-UC) A incrivel química ligada aos carros
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Os combustíveis mais comuns, gasolina e gasóleo, são misturas de hidrocarbonetos que eram inicialmente obtidos siplesmente por destilação do petróleo. Hoje em dia, dada a sua grande procura, é também necessário obtê-los a partir de fracções de hidrocarbonetos mais pesados por um processo denominado cracking. Este processo tem tendência a originar hidrocarbonetos aromáticos que são potencialmente nocivos para o ambiente (embora bons para o combustível). É de notar que as quantidades máximas destes compostos são rigorosamente controladas. Além dos hidrocarbonetos e de possíveis impurezas, os combustíveis têm também vários tipos de aditivos. Hoje em dia usam-se muitos aditivos da família química dos éteres.
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Outros combustíves também usados nos automóvies são o gás de petróleo liquefeito (GPL), o gás natural e o biodiesel. Os dois primeiros são também usados nas nossas casas para aquecimento e cozinhar e são referidos numa outra paragem. O biodiesel pode ser obtido por reciclagem de óleos alimentares usados, mas a sua produção a partir de plantas, cultivadas especialmente para esse fim, tem-se revelado bastante polémica.
A química dos pneus é também muito interessante. Desde logo a descoberta acidental da vulcanização por Goodyear. E, por que razão são os pneus em geral pretos? É que o pigmento negro de fumo (que é carbono quase puro) contribui também muito para a sua durabilidade e resistência.
Da protecção anti-corrosão que permite aos fabricantes prometerem anos e anos de garantias, falamos junto aos sinais de trânsito. E sobre a pintura também há muito a dizer. A tinta metalizada tem mesmo grânulos metálicos minúsculos de alumínio, mas as pinturas mais espectaculares são as que criam efeitos translúcidos baseados em grânulos de materiais inorgânicos.
E poderíamos continuar a discursar sobre a química dos carros, mas temos pressa em continuar o nosso passeio...
[1] Thomas Midgley Jr., cuja formação de base é a engenharia mecânica (seguida de um doutoramento em química), está associado a duas das maiores catástrofes ambientais do século XX: o chumbo nas gasolinas e os clorofulorocarbonetos (CFC). Estes últimos, dos quais falamos noutra parte do passeio, estão relacionados com o buraco do ozono.
[Versão de 17 de Julho de 2009. Última alteração de 27 de Abril de 2010]
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(PQ-UC) Corrosão
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(PQ-UC) Sinais de trânsito e marcas na estrada
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As marcas amarelas na estrada tinham até há pouco tempo como pigmento uma solução sólida de sulfato de chumbo e cromato de chumbo. Os pigmentos de chumbo e cromato são uma preocupação ambiental pois, embora sejam em condições normais muito pouco solúveis, são solúveis em meio ácido. Daí a necessidade de evitar o contacto de crianças com materiais pintados usando pigmentos com chumbo (perigo de ingestão). Assim, têm sido desenvolvidos pigmentos para subtituir os pigmentos amarelos de chumbo como seja o vanadato de bismuto que é muito menos tóxico.
Os sinais de trânsito podem ser recobertos com camadas retroreflectoras constituidas por camadas de micro-esferas de vidro dispersas numa resina ou polímero.
É de referir que os pigmentos orgânicos são em geral muito mais sensíveis à luz que os inorgânicos, mas têm aprecido cada vez mais excepções como as ftalocianinas e o DPP.
No Departamento de Química da FCTUC, em colaboração com empresas da especialidade, estão a ser estudados pigmentos inorgânicos fluorescentes e fosforencentes baseados sais em estrôncio, alguns dos quais já têm aplicação em sinalização.
[1] Os compostos orgânicos têm carbono na sua composição, mas nem todos os compostos de carbono são definidos como orgânicos. Por exemplo, o monóxido e o dióxido de carbono, os carbonatos, o diamante, a grafite e os fulerenos não são considerados compostos orgânicos. Compostos inorgânicos são todos os que não são orgânicos.
[2] Steven Litt, The story behind Pigment Red 254, nicknamed 'Ferrari Red' (acedido 28/7/2009)
[3] Agradeço à SNSV e à CIN as informações cedidas sobre os processos de produção de sinais de trânsito e sobre os pigmentos utilizados.
[Versão de 28 de Julho de 2009]
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(PQ-UC) Estalactites nos Arcos do Jardim
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E tentar saber para que lado descia a água leva-nos a pensar em ilusões de óptica e no efeito que as imagens (veja-se a fotografia de cima) podem causar na nossa percepção da realidade.
Para além da história e da estética, os Arcos do Jardim restaurados têm aspectos químicos muito interessantes. Um destes é a formação de estalactites, fenómeno que também encontramos na zona da cantina das Químicas. Trata-se de um processo químico muito comum envolvendo betão, cimento, ou cal e reações ácido-base.
Os Arcos aparentam ter sido restaurados de forma tradicional, usando argamassas à base de cal (cujo importante constituinte é o hidróxido de cálcio), por isso a formação de manchas brancas e estalactites de carbonato de cálcio de acordo com a reacção
Ca(OH)2(aq) + CO2(aq) → CaCO3(s) + H2O(l)
parece estar a ser especialmente rápida (veja-se a fotografia de baixo). De facto, estas estalactites crescem muito mais depressa que as estalactites que surgem de forma natural, por exemplo em grutas. Nesse caso, a rocha calcária dissolve-se em água com dióxido de carbono formando bicarbonato de cálcio a partir do qual vai lentamente formando de novo carbonato de cálcio de acordo com o equilíbrio
CaCO3(s) + CO2(aq) + H2O(l) ↔ Ca(HCO3)2(aq)
No caso do betão, que é constituido por cimento, areia, água e pequenas pedras, o processo de formação de estalactictes é precedido pela reacção do óxido de cálcio presente no cimento com a água,
CaO(s) + H2O(l) → Ca(OH)2(aq)
O cimento é obtido aquecendo a 1450oC rochas carbonatadas ricas em silicatos de alumínio. Este processo é bastante complexo, mas pode, de modo simplificado, ser representado pela reacção,
7CaCO3(s) + Al2Si2O5(OH)4(s) → Ca3SiO5(s) + Ca2SiO4(s) + Ca3Al2O6(s) + 7CO2(g) + 2H2O(g)
que, usando a notação da literatura especializada, pode ser escrita na forma,
7CaCO3(s) + Al2O3⋅2SiO2⋅2H2O(s) → 3CaO⋅SiO2(s) + 2CaO⋅SiO2(s) + 3CaO⋅Al2O3 + 7CO2(g) + 2H2O(g)
De facto, os constituientes do cimento são muitas vezes indicados como: 3CaO⋅SiO2(s) ou (de forma simplificada) C3S; 3CaO⋅Al2O3 ou C3A, etc. Durante o processo, algum carbonato de cálcio decompõe-se em óxido de cálcio (notar que este é o processo de produção da cal, referida acima),
CaCO3(s) → CaO(s) + CO2(g)
sem que seja neutralizado. E uma vez incorporado no betão vai-se lentamente dissolvendo em água para formar hidróxido de cálcio que, como vimos acima, dá origem às estalactites rápidas.
Finalmente refira-se que os químicos têm desenvolvido, ao longo dos tempos, produtos e métodos de tratamento e estabilização de betões e outros materiais de construção.
Bibliografia:
Peter Borrows, Education in Chemistry, January 1994, p. 7.
E. Stocchi, Industrial Chemistry (1990, Ellis Horwood, New York).
[Versão de 9 de Julho de 2009. Última alteração 12 de Março de 2010]
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(PQ-UC) O cheiro da relva acabada de cortar
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A molécula responsável pelo cheiro a relva cortada é o cis-3-hexenal (ou cis-hexen-3-al), cujo limite de detecção pelo nosso olfato é cerca de 0.25 partes por bilião (ppb), ou seja, conseguimos detectar o seu cheiro se a sua concentração for superior a 0.25 miligramas por cada tonelada de ar. Trata-se de uma concentração muito pequena, mas em termos de moléculas é ainda um número muito grande (deixo essas contas para os visitantes!)
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[1] Simon Cotton, cis-3-hexenal, trans-2-hexenal and 'green grass' smell (página acedida em 9/7/2009)
[2] Isómeros são compostos químicos que têm os mesmos números e tipos de átomos em diferentes arranjos estruturais.
[3] Um aldeído é um tipo de composto orgânico que posssui um grupo de átomos no qual a um carbono está ligado um oxigénio e um hidrogénio ligado a outro carbono da molécula. Nos modelos moleculares apresentados os carbonos estão representados a castanho, os hidrogénios a branco e o oxigénio a vermelho.
[última alteração em 14/7/2009]
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(PQ-UC) Parede do Botânico: rochas e líquenes
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[1]Peter Borrows, Education in Chemistry, January 1995, p6.
[Versão de Julho de 2009. Última alteração 19 de Abril de 2010]
(PQ-UC) história de um herbicida contada junto à planta que o inspirou
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A procura de novos compostos herbicidas é uma das tarefas mais importantes de Investigação e Desenvolvimento (I&D) nas companhias agroquímicas. O desenvolvimento de novos compostos herbicidas começa, em geral, com a descoberta de compostos (designados lead) com propriedades interessantes que possam servir de guia para a produção de compostos análogos com propriedades mais efectivas.
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Partindo da leptospermona (figura ao lado [2]), composto presente nas raizes deste arbusto e que tem propriedades herbicidas, mas não é adequada para a produção comercial, a Syngenta desenvolveu compostos mais potentes, entre os quais se encontra a mesotriona [1], usada como herbicida específico para o controlo de ervas daninhas na produção de milho.
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Mas a contribuição deste arbusto não fica por aqui. A leptospermona e a mesotriona inspiraram uma outra molécula (a nitinisona, na qual o grupo -SO2CH3 da mesotriona é substituido por um grupo -CF3), inicialmente também desenvolvida como herbicida, mas que é agora usada no tratamento de uma doença hereditária rara.
Para além destas aplicações já conhecidas, outras moléculas extraídas deste arbusto estão a ser estudadas como potenciais agentes antibióticos contra infecções multi-resistentes. Refira-se que a descoberta de novas moléculas que possam funcionar como leads para o desenvolvimento de fármacos é também um dos objectivos mais importantes da investigação em Química Médica.
Parece demais para uma planta só? De facto, sabe-se que muitas destas moléculas estão presentes também noutras plantas. Em qualquer dos casos, os químicos estarão lá para analisar, estudar, sintetizar e desenvolver o que for necessário com vista a melhorar o futuro da humanidade.
[1] Derek Cornes, Callisto: a very successful maize herbicide inspired by allelochemistry (página acedida em 9/7/2009)
[2] Entender as representações bidimensionais das moléculas usadas pelos químicos é uma arte que se aprende com algum treino. Os símbolos químicos do carbono e do hidrogénio são muitas vezes omitidos; os carbonos da molécula são indicados pelos vértices e pelas ligações entre si (simples, duplas, ou triplas); os hidrogénios ligados aos carbonos são subentendidos com base nas quatro ligações possiveis de cada carbono. Os outros átomos (oxigénio, enxofre, azoto, etc.) são representados pelos seus simbolos químicos.
[última alteração: 17/7/2009]
Etiquetas:
aleloquímica,
doenças raras,
herbicidas do milho
(PQ-UC) Cevadilha uma planta tóxica muito comum
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[1] Prassas I, Diamandis EP, Novel therapeutic applications of cardiac glycosides Nature Reviews Drug Discovery, 7(11), 926-935 (2008).
[Versão de 17 de JUlho de 2009; ultima actualização 30 de Março de 2010]
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anti-cancerígeno,
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loendro,
tóxico
(PQ-UC) Placa evocativa de Domenico Vandelli
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[1]António Amorim da Costa, Domenico (Domingos) Vandelli (1730-1816) (página acedida em 16/7/2009)
[ultima actualização em 16/7/2009]
Etiquetas:
Domenico Vandelli
(PC-UC) Dragoeiro: a árvore milenar do sangue do dragão
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Extractos de seiva de dragoeiro são usados em medicina tradicional chinesa. De facto, as antocinaninas e outros flavonóides parecem ter efeitos benéficos no organismo. É bem conhecida a correlação entre consumo moderado de vinho tinto, bastante rico nestes compostos, com a diminuição estatística do número de patologias cardíacas.
Segundo a wikipedia o Sangue do Dragão foi muitas vezes confundido com o cinábrio que é um pigmento vermelho de sulfureto de mercúrio (o que não seria uma confusão muito saudável).
Para além do Sangue do Dragão, também os próprios dragões continuam a estimular a imaginação dos cientistas e escritores [2,3].
[1] M.J. Melo, M. Sousa, A.J. Parola, J.S.S. Melo, F. Catarino, J. Marçalo, F. Pina, Identification of 7',4-Dihydroxy-5-methoxyflvylium in "Dragon's Blood": To be or Not to Be an Anthocyanin, Chemistry European Journal, 13 (2007) 1417-1422.
[2]R. Highfield A Ciência e a magia em Harry Potter (Magnólia, 2007).
[3]R. May The Ecology of Dragons, Nature, 264 (1976) 16-17.
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dracoflavilium,
dragoeiro
(PQ-UC) Química num quiosque no Jardim Botânico
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(PQ-UC) O castanheiro-da-Índia na Primeira Guerra Mundial
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Recordar esta história é também lembrar que o sucesso de uma boa ideia está dependente de muitas contingências.
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A acetona era necessária como solvente na produção de cordite, um explosivo e propelente com uma formulação essencialmente baseada na nitrocelulose e na nitroglicerina. Como foi referido acima, o processo de recolha e envio das castanhas e de produção da acetona acabou por se revelar pouco eficiente e, com a entrada dos EUA na guerra, foi abandonado.
[versão inicial de 17 de Janeiro de 2010. Última alteração e correcções de 24 de Abril de 2010]
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